(Belém, Pará) – Foi um protesto pacífico em frente à COP30. O povo Munduruku bloqueou, desde o início da manhã, por volta das 6 horas, a entrada principal da Zona Azul, onde os negociadores estão reunidos. Avisaram que só sairiam se fossem recebidos pelo presidente Lula. Na impossibilidade de a reunião acontecer já que Lula nem estava em Belém, a negociação com os indígenas foi conduzida pelo presidente da COP, André Corrêa do Lago.
Ao chegar ao bloqueio, acompanhado de Ana Toni, diretora-executiva da Conferência do Clima, Corrêa do Lago foi recebido pelas lideranças do movimento: o quarteto de mulheres formado por Alessandra Munduruku, Ediene Munduruku, Maria Leusa Munduruku e Anapaxu Munduruku.
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Veja o que já enviamosDepois de pegar uma criança indígena no colo, Corrêa do Lago, ladeada pelas lideranças, foi se reunir a portas fechadas. As ministras Sônia Guajajara (dos Povos Indígenas) e Marina Silva (do Meio Ambiente) foram convocadas. Chamados pelas lideranças indígenas, estavam presentes também o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública e outras entidades que apoiam a causa indígena.
“Ninguém vai entrar”, berrava em alto e bom som Alessandra, debaixo de um sol escaldante em frente a entrada da COP30. “Ninguém mais vai usar nossa imagem para dizer que é sustentável. Ficar falando de bioeconomia, enquanto matam nossa floresta. Chega de usar nossa imagem.”
Desde o início da semana, os povos indígenas vêm avisando que não aceitam serem excluídos do processo decisório da COP30. Assim como também, no caso dos Mundurukus, não aceitam que seu território continue sendo palco de grandes empreendimentos.
O decreto 12.600/ 2025, que institui o Plano Nacional de Hidrovias, acirra ainda mais a disputa pela água dos rios Tapajós, Madeira e Tocantins. “Querem privatizar o Tapajós”, denuncia Alessandra.
Durante a reunião, o Movimento Ipereg Ayu, que liderou o movimento, entregou um documento a Corrêa do Lago. Os Mundurukus estão em mais de sete terras indígenas no sudoeste do Pará, Amazonas e Mato Grosso. As principais frentes de batalha são a luta contra o garimpo ilegal, contra portas de soja, ferrovias, hidrelétricas e hidrovias, ou seja, um conjunto de megaempreendimento.
“Lutamos contra a ganância dos pariwat (não indígenas) e lutamos pela demarcação de nossas terras Sawre Muybu e Sawre Ba pin”, diz um trecho da carta entrega ao presidente da COP30.
Em outra parte da carta, denunciam: “Nosso território não é laboratório, nem mercadoria”.
Para Marcos Apolo, advogado do Movimento Sem Terra e da coordenação da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), que participou da reunião de negociação, o protesto foi a única forma dos indígenas serem ouvidos: “Só foram ouvidos porque fizeram esse movimento.”
