ODS 1
Lula defende mapas do caminho para eliminar desmatamento e substituir combustíveis fósseis


Na Cúpula dos Líderes da COP30: presidente brasileiro alerta para necessidade urgente de combinar os debates sobre a mudança do clima com o mundo real


(De Belém, Pará) – Foi com um discurso forte que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu os trabalhos na Cúpula dos Líderes, que começou hoje, pela manhã, em Belém. Ele criticou as “forças extremistas” que negam o aquecimento global, deu uma cutucada em países como os Estados Unidos, que boicotaram o encontro, conclamou os países a superar “divergências e contradições” e defendeu “mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos”.
A justiça climática é aliada do combate à fome e à pobreza, da luta contra o racismo, da igualdade de gênero e da promoção de uma governança global mais representativa e inclusiva
Lula defendeu a necessidade urgente de combinar os debates sobre a mudança do clima com o mundo real. “Para avançar, será preciso superar dois descompassos. O primeiro é a desconexão entre os salões diplomáticos e o mundo real. As pessoas podem não entender o que são emissões ou toneladas médias de carbono, mas sentem a poluição”, declarou. “O segundo descompasso é o descasamento entre o contexto geopolítico e a urgência climática”, adicionou.


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Veja o que já enviamosEnquanto o presidente Lula usou palavras fortes no seu discurso, mas evitou qualquer menção a decisão de explorar petróleo na Foz do Amazonas, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterrez, deu uma cutucada em alto e bom som em seu discurso. “Cada dólar gasto em subsídios aos fósseis é um dólar desviado da nossa saúde e do nosso futuro comum”, disse Guterres.
O discurso de Lula foi considerado incisivo, mas para a COP30 entrar para história, chamou atenção Carolina Pasquali, diretora-executiva do Greenpeace, é necessário cumprir algumas promessas. E listou: sair de Belém com um mapa do caminho para reverter o desmatamento até 2030, superar a dependência dos combustíveis fósseis e fonte claras de financiamento. “O desafio agora é transformar palavras em ação”, defendeu Pasquali, lembrando que “seguir insistindo em explorar petróleo na Foz do Amazonas ou atrasar a demarcação de territórios indígenas expõe contradições que não cabem em um momento tão importante”.
A ausência da adaptação climática no discurso do presidente chamou a atenção de Flávia Martinelli, especialista em mudanças climáticas do WWF-Brasil. “Esse é um tema de destaque para a Presidência da COP30, ação necessária e urgente para diminuir os impactos desses cenários de eventos cada vez mais extremos”, comentou.
Na avaliação de Marta Salomon, especialista sênior do Instituto Talanoa, o discurso de Lula aumenta a expectativa de que a COP 30 desenhe um “mapa do caminho” para longe dos combustíveis fosseis e para mobilizar recursos necessários para evitar perdas humanas e materiais que ele mesmo classificou de “drásticas”. E concluiu afirmando que seria a forma de completar o trabalho de duas cúpulas anteriores, em Dubai e Baku.”
Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, elogiou o discurso, mas frisou que a gravidade da crise climática precisa mais do que palavras. “Em Em seu discurso, o presidente Lula afirmou que precisamos de um mapa do caminho para acabar com o desmatamento e o uso dos combustíveis fósseis. É exatamente o que precisamos e é exatamente o que esperamos que a presidência da conferência coloque como proposta sobre a mesa. O sucesso da COP30 se dará ao transformar as palavras do presidente brasileiro em resolução final”, frisou Astrini


Fundo para florestas
Ressaltando ineditismo do Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), o presidente Lula chamou a atenção para o fato de, pela primeira vez, os países do Sul global assumem o protagonismo na agenda de florestas. Foram já anunciados valores de US$ 5 bilhões para o TFFF, sem dúvida um passo relevante, mas chamou a atenção o fato de países como Reino Unido e Alemanha ainda não terem se comprometido com o fundo. A Noruega, tradicional parceira de iniciativas ambientais, deve fazer um aporte de US$ 3 bilhões; Portugal e Indonésia também já se comprometeram a fazer aportes semelhantes ao do Brasil: US$ 1 bilhão.
Além de reter carbono, as florestas garantem fluxos hídricos e protegem a biodiversidade. Por valerem mais em pé do que derrubadas, deveriam, como defendeu, integrar os cálculos do produto interno bruto (PIB). “Foi com esse senso de urgência que, desde a COP28, reunimos um grupo de países de florestas tropicais e países investidores para desenhar esse mecanismo”, lembrou Lula no lançamento do TFFF, conclamando as organizações internacionais e a sociedade civil a aderirem ao fundo.
Cada país poderá receber até US$ 4,00 por hectare preservado. “Parece modesto, mas estamos falando de um bilhão e cem milhões de hectares de florestas tropicais distribuídos em 73 países em desenvolvimento”. Um quinto dos recursos poderá ser destinado aos povos indígenas e comunidades locais.
A diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade, Maria Netto, celebrou o anúncio feito por Lula na abertura do encontro de chefes de Estado. Para ela, o volume de recursos anunciados demonstra que a consistência do mecanismo. “O que se espera é que o TFFF contribua de forma decisiva para estabelecer um novo padrão de financiamento climático, que proteja as florestas e garanta protagonismo às demandas dos povos originários e comunidades locais”.
“O apoio de mais de 50 países é um começo promissor e marca um crescente reconhecimento da importância da ação coletiva para proteger e restaurar as florestas. Porém, o grupo de países que contribuíram efetivamente é limitado. É essencial um apoio mais amplo para que o fundo se torne totalmente operacional. Será um teste definitivo para saber se as nações — especialmente as mais ricas — reconhecem a responsabilidade compartilhada na proteção das florestas que sustentam todas as economias do planeta”, comentou Mirela Sandrini, diretora executiva do WRI Brasil
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Liana Melo
Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.













































