COP 25: Novos atores entram em cena

Protagonismo na Conferência do Clima, em Madri, será do setor privado, da academia e do terceiro setor

Por Suzana Kahn | ODS 13 • Publicada em 4 de dezembro de 2019 - 11:46 • Atualizada em 7 de abril de 2020 - 11:28

Delegação na COP25. Foto deGabriel Bouys/ AFP

Delegação na COP25. Foto deGabriel Bouys/ AFP

Protagonismo na Conferência do Clima, em Madri, será do setor privado, da academia e do terceiro setor

Por Suzana Kahn | ODS 13 • Publicada em 4 de dezembro de 2019 - 11:46 • Atualizada em 7 de abril de 2020 - 11:28

Delegação na COP25. Foto deGabriel Bouys/ AFP
Frente a lentidão das decisões de governos em conter  aquecimento global, sociedade civil entra em cena. Foto de  Gabriel Bouys/ AFP

As sucessivas decepções com os resultados das Conferências das Partes (COPs), bem como as posturas de diversos governos nacionais, têm feito com que se tenha uma nova configuração de atores que buscam, por outras vias, fora da Convenção do Clima, reduzir as emissões de carbono. Os novos arranjos vão da sociedade civil, cada vez mais alarmada com as evidências dos eventos extremos provocados pelas
mudanças climáticas, aos executivos de grandes empresas do setor produtivo e mercado financeiro, igualmente preocupados com o futuro de seus negócios.

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Tanto é assim que, em janeiro, em uma reunião no Fórum Econômico Mundial de Davos – local em que, até bem pouco tempo, não havia espaço para discussões acerca de clima e meio ambiente -, foi criada uma Aliança Global envolvendo 12 universidades ao redor do mundo  em prol da busca de soluções tecnológicas para a redução das emissões de carbono. Para atingir o objetivo do Acordo de Paris é preciso desenvolver e implementar tecnologias “carbono zero”; e, para tanto, é necessário que se faça uma análise aprofundada da aplicabilidade e potencial de redução de emissão de cada uma das alternativas e todos os possíveis obstáculos e formas de superá-los. O resultado do encontro desse grupo, que se reunirá em Madri durante a COP25, será levado para a reunião, em janeiro de 2020, em Davos, com o objetivo de mostrar o quanto a tecnologia desenvolvida em diferentes países, incluindo Brasil, pode contribuir para a meta de 1,5°C.

Bancos, seguradoras e diferentes agentes do mercado financeiro também estarão presentes para discutir e analisar as opções de financiamento, novos produtos financeiros, como “green bonds”, riscos e oportunidades de investimentos. Os custos das mudanças climáticas já estão presentes na medida em que é necessário se adaptar aos atuais impactos provocados pelo aumento de temperatura. Análises econômicas mostram que o custo é bem menor se investirmos em mitigação, ou  seja, redução das emissões, do que em adaptação. Quanto mais se postergar as reduções de emissões de carbono, maior será o custo para se adaptar, levando a uma forte desaceleração do crescimento do PIB mundial, com perdas econômicas globais. Vale lembrar que mesmo com elevados investimentos, a adaptação nem sempre é possível, pois existem perdas irreparáveis, como áreas agriculturáveis inundadas, biodiversidade perdida, além do desaparecimento de países insulares.

Movimentos sociais, cada vez mais expressivos, atuantes e organizados, lá também estarão, usando o poder cada vez maior da comunicação veloz e global para chamar a atenção do mundo sobre a urgência das ações de combate ao aquecimento global, até então negligenciadas pela maior parte dos governantes. Esse novo arranjo que envolve o setor privado, a academia e o terceiro setor será, certamente, o protagonista desta COP25, que, antes de começar, já foi rejeitada pelo Brasil e Chile, país que tem enfrentado problemas de grande insatisfação popular e que, certamente, será acentuada com os danos causados pela mudança climática.

Suzana Kahn

Engenheira mecânica com doutorado em engenharia de produção. Professora da COPPE/UFRJ, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática e coordenadora do Fundo Verde da UFRJ.

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