Congresso analisa pelo menos 46 projetos com graves retrocessos ambientais

Na semana em que se aguarda o veto do presidente Lula ao PL da Devastação, Observatório do Clima lança documento listando as ameaças em tramitação no Legislativo

Por #Colabora | ODS 13ODS 15
Publicada em 6 de agosto de 2025 - 10:15  -  Atualizada em 6 de agosto de 2025 - 10:55
Tempo de leitura: 5 min

No lançamento da Agenda Legislativa do Observatório do Clima, Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica, discursa com cartaz pedindo o veto o PL da Devastação: Congresso tem pelo menos 46 projetos em tramitação com graves retrocessos ambientais (Foto: Renato Araújo/Câmara dos Deputados)

O Observatório do Clima (OC) divulgou nesta terça-feira (5/8), em Brasília, a Agenda Legislativa 2025, documento com um panorama dos principais projetos que ameaçam a pauta socioambiental no Congresso, após a implosão do licenciamento ambiental – o PL da Devastação (PL 2159/2021) está na mesa do presidente Lula para sanção ou veto. O lançamento, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, teve a presença de parlamentares e representantes da rede do OC.

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A versão atualizada do chamado Pacote de Destruição identificou pelo menos 46 retrocessos, divididos em nove temas: Regularização Fundiária; Código Florestal e Lei da Mata Atlântica; Flexibilização de Outras normas ambientais; Licenciamento Ambiental; Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais; Energia; Oceano e Zonas Costeiras; Infraestrutura Hídrica; Financiamento. “O Congresso tem atuado com pautas que afrontam a política ambiental e aumentam a cada dia em número e gravidade. A implosão do licenciamento ambiental em votação recente é o exemplo mais claro disso”, afirmou Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima.

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Foram analisadas quase 100 proposições. Todos os projetos com retrocessos ambientais são apresentados com um resumo e o link para acompanhamento da tramitação. Há ainda divisão por temas e comentários de especialistas do OC. A Agenda Legislativa foi organizada pelo Grupo de Trabalho (GT) do Observatório do Clima dedicado ao Congresso Nacional. “No documento, o OC identifica as principais ameaças legislativas para o clima e o meio ambiente de forma ampla, e aponta os destaques da sociedade civil para as propostas que deveriam ser discutidas no Congresso”, acrescentou Suely Araújo, urbanista e ex-presidente do Ibama.

O documento destaca 14 projetos como principais focos de atenção. Desses, cinco são considerados mais urgentes:

PEC 48/2023 – estabelece o marco temporal para a demarcação de terras indígenas no art. 231 da Constituição Federal;
PL 510/2021 e PL 2633/2020 – flexibilizam as normas sobre regularização fundiária, com anista à grilagem de terras;
PEC 03/2022 – retira a propriedade exclusiva da União sobre os Terrenos de Marinha (privatização das praias);
PL 364/2019 – inicialmente voltado a flexibilizar as regras dos campos de altitude na Mata Atlântica, o texto do projeto foi ampliado e atinge toda a vegetação nativa não florestal;
PL 2159/2021 – Lei Geral do Licenciamento Ambiental, que desmonta o controle ambiental e ameaça o futuro do país

Na pauta ambiental que não tem recebido atenção do Congresso estão listadas mais de 40 propostas. A seção está dividida em oito temas: Água, recursos hídricos e oceano; Florestas, desmatamento e atividades agrossilvopastoris; Clima e Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS); Agrotóxicos e Saúde Pública; Animais silvestres; Financiamento e outros incentivos; Energia; Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais.

Na Agenda Legislativa do Observatório do Clima, há ainda 10 destaques para o próximo semestre, dos quais três deveriam ser priorizados, segundo a análise:

MSC 209/2023 (Acordo de Escazú) – Acordo Regional sobre Acesso à Informação, Participação Pública e Acesso à Justiça em Assuntos Ambientais na América Latina e Caribe.
PL 6969/2013 (PNCMar) – Lei do Mar – Institui a Política Nacional para a Conservação e o Uso Sustentável do Bioma Marinho Brasileiro.
PEC 37/2017 – Insere a questão climática no texto constitucional como um direito fundamental

O presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Nilto Tatto, no lançamento da Agenda Legislativa do Observatório do Clima: críticas ao retrocesso ambiental (Foto: Renato Araújo / Câmara dos Deputados)
O presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Nilto Tatto, no lançamento da Agenda Legislativa do Observatório do Clima: críticas ao retrocesso ambiental (Foto: Renato Araújo / Câmara dos Deputados)

A Agenda Legislativa também traz comentários de representantes da rede do Observatório do Clima. “Esses projetos favorecem o desmatamento em áreas especialmente protegidas, como as APPs e a Mata Atlântica, o bioma que abriga mais de 70% da população brasileira e é um dos mais devastados do país. Esses retrocessos podem agravar tragédias climáticas, potencializar a crise hídrica e levar a enorme perda de biodiversidade”, aponta Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, sobre propostas que preveem a flexibilização do Código Florestal e da Lei da Mata Atlântica. Malu Ribeiro esteve no lançamento do documento na Câmara, onde repetiram-se os pedidos para que Lula vete integralmente o PL da Devastação.

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Presente ao lançamento, o coordenador da Frente Parlamentar Mista Ambientalista, deputado Nilto Tatto (PT-SP), o Brasil, como sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), precisa apresentar agenda ambiental positiva na mesa de negociação das lideranças globais, e o veto às novas regras de licenciamento será uma ação nesse sentido. “Para poder ter essa força política, o País não pode finalizar numa agenda adversa [ao direito ambiental] para os outros países”, disse. “A área ambiental talvez tenha sido a que mais sofreu com os retrocessos e o desmonte das políticas públicas no governo anterior”, acrescentou.

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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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