Ailton Krenak: ‘Agroecologia devia acontecer agora em uma escala planetária’

Ailton Krenak posa em frente ao auditório lotado do Congresso Brasileiro de Agroecologia. Foto Isis Medeiros

Liderança indígena diz que movimento agroecológico não pode mais se contentar ‘com pequena iniciativas em poucos hectares’

Por Maria Clara Parente | ODS 12 • Publicada em 24 de novembro de 2023 - 19:46 • Atualizada em 7 de dezembro de 2023 - 07:59

Ailton Krenak posa em frente ao auditório lotado do Congresso Brasileiro de Agroecologia. Foto Isis Medeiros

Depois do hiato causado pela pandemia, o 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) movimentou o Centro do Rio nos últimos quatro dias mostrando a importância do setor na luta contra a insegurança alimentar no contexto da emergência climática. O evento, que aconteceu pela primeira vez de forma descentralizada, contou com mais de 5 mil inscritos e, segundo a organização, distribuiu 7.500 refeições diárias.

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Durante a cerimônia de encerramento, o escritor e líder indígena Ailton Krenak defendeu a ampliação do movimento agroecológico como forma de atingir a justiça climática: “A agroecologia tinha que acontecer agora em uma escala planetária”. Krenak criticou as práticas empresariais de “reflorestamento, que são uma cultura capitalista e o único objetivo delas é o lucro. Dane-se a terra”, enfatizou. O líder indígena celebrou o Congresso de Agroecologia e o despertar de tantas pessoas para o tema, ainda que em um movimento tardio e pequeno, diante dos estágios avançados da degradação ambiental no mundo: “Chega a nos surpreender a gente ter demorado tanto para entender que estamos comendo a terra. Imagina uma imagem de um monte de gente comendo a mãe deles?”

Krenak ressaltou a importância da criação de políticas públicas para que a agroecologia seja cada mais difundida: “Não podemos nos contentar apenas com pequenas iniciativas, em poucos hectares. Precisamos de agrofloresta por todos os lados”, porque diante das crescentes ondas de calor e inundações em tantas partes do planeta, “não vai dar tempo de fazer a casa de novo”.

A programação do evento contou com diversos espaços diferentes, com destaque para a Feira Nacional de Saberes e Sabores, no Passeio Público, com a participação de artesões e produtores de todo o Brasil. A partilha de saberes através da arte também foi outro ponto forte do evento, como o palco do 2° Festival Internacional de Cinema Agroecológico (FicaEco), no Cinema Odeon. Além dos filmes e dos shows, o Congresso também trouxe performances cênicas para os pequenos no Circo Voador. Com atividades lúdicas para pais e filhos com “intencionalidade política e pedagógica no campo da agroecologia”, uma das artistas que se apresentou foi Glaucia Regue, da Iniciativa APÓ, com o espetáculo “Expedição Regue as Plantas e Capitão”. Para a artista, que também é produtora rural, “a arte-educação é uma ferramenta para que a gente possa disseminar a agroecologia para os pequenos, para os grandes e para os mais sábios”.

Romier Sousa, professor e vice-presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), ressaltou a importância da educação agroecológica dentro das universidades e a necessidade de potencializar o debate nos territórios para além dos dias do Congresso. Sousa celebrou a presença de políticos no evento: “nós tivemos aqui na abertura do Congresso dois ministros de estado, o do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, e o Márcio Macedo, da Secretaria Geral da Presidência. Tivemos também mais de vinte secretários de diferentes ministérios e com agendas organizadas dentro do Congresso”. Sousa reforçou a centralidade das mulheres no movimento agroecológico: “Os estudos têm mostrado que as mulheres são muito mais atentas a essa perspectiva da segurança e soberania alimentar. A gente não pode pensar em nenhuma política pública sem pensar na centralidade das mulheres dentro desse processo”. Para ele, o movimento agroecológico se potencializa na união de lutas: “A revolução tem sido silenciosa, mas ela vem acontecendo com força: na economia solidaria e colaborativa, nos movimentos feministas, LGBTQIAPN+, antirracistas, na agroecologia. O desafio é juntar mais essas lutas que se complementam. E aí a metamorfose vai ser muito mais forte”.

As performances e atividades lúdicas com as crianças estiveram entre os pontos altos do Congresso. Foto Isis Medeiros
As performances e atividades lúdicas com as crianças estiveram entre os pontos altos do Congresso. Foto Isis Medeiros

Maria Clara Parente

Jornalista e mestre em literatura pela PUC-Rio. Trabalha com jornalismo ambiental e audiovisual desde 2016, com foco em novas economias, mudança sistêmica e justiça climática. No colabora, dirige a apresenta a série WebColaborativa e apresentou a primeira temporada da série Comendo Lixo(2018), sobre cozinha lixo zero. Co-dirigiu a série documental What is Emerging?(2019) e dirigiu o documentário Regenerar: Caminhos Possíveis em um Planeta Machucado(2022).

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