Depois do hiato causado pela pandemia, o 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) movimentou o Centro do Rio nos últimos quatro dias mostrando a importância do setor na luta contra a insegurança alimentar no contexto da emergência climática. O evento, que aconteceu pela primeira vez de forma descentralizada, contou com mais de 5 mil inscritos e, segundo a organização, distribuiu 7.500 refeições diárias.
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Durante a cerimônia de encerramento, o escritor e líder indígena Ailton Krenak defendeu a ampliação do movimento agroecológico como forma de atingir a justiça climática: “A agroecologia tinha que acontecer agora em uma escala planetária”. Krenak criticou as práticas empresariais de “reflorestamento, que são uma cultura capitalista e o único objetivo delas é o lucro. Dane-se a terra”, enfatizou. O líder indígena celebrou o Congresso de Agroecologia e o despertar de tantas pessoas para o tema, ainda que em um movimento tardio e pequeno, diante dos estágios avançados da degradação ambiental no mundo: “Chega a nos surpreender a gente ter demorado tanto para entender que estamos comendo a terra. Imagina uma imagem de um monte de gente comendo a mãe deles?”
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Veja o que já enviamosKrenak ressaltou a importância da criação de políticas públicas para que a agroecologia seja cada mais difundida: “Não podemos nos contentar apenas com pequenas iniciativas, em poucos hectares. Precisamos de agrofloresta por todos os lados”, porque diante das crescentes ondas de calor e inundações em tantas partes do planeta, “não vai dar tempo de fazer a casa de novo”.
A programação do evento contou com diversos espaços diferentes, com destaque para a Feira Nacional de Saberes e Sabores, no Passeio Público, com a participação de artesões e produtores de todo o Brasil. A partilha de saberes através da arte também foi outro ponto forte do evento, como o palco do 2° Festival Internacional de Cinema Agroecológico (FicaEco), no Cinema Odeon. Além dos filmes e dos shows, o Congresso também trouxe performances cênicas para os pequenos no Circo Voador. Com atividades lúdicas para pais e filhos com “intencionalidade política e pedagógica no campo da agroecologia”, uma das artistas que se apresentou foi Glaucia Regue, da Iniciativa APÓ, com o espetáculo “Expedição Regue as Plantas e Capitão”. Para a artista, que também é produtora rural, “a arte-educação é uma ferramenta para que a gente possa disseminar a agroecologia para os pequenos, para os grandes e para os mais sábios”.
Romier Sousa, professor e vice-presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), ressaltou a importância da educação agroecológica dentro das universidades e a necessidade de potencializar o debate nos territórios para além dos dias do Congresso. Sousa celebrou a presença de políticos no evento: “nós tivemos aqui na abertura do Congresso dois ministros de estado, o do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, e o Márcio Macedo, da Secretaria Geral da Presidência. Tivemos também mais de vinte secretários de diferentes ministérios e com agendas organizadas dentro do Congresso”. Sousa reforçou a centralidade das mulheres no movimento agroecológico: “Os estudos têm mostrado que as mulheres são muito mais atentas a essa perspectiva da segurança e soberania alimentar. A gente não pode pensar em nenhuma política pública sem pensar na centralidade das mulheres dentro desse processo”. Para ele, o movimento agroecológico se potencializa na união de lutas: “A revolução tem sido silenciosa, mas ela vem acontecendo com força: na economia solidaria e colaborativa, nos movimentos feministas, LGBTQIAPN+, antirracistas, na agroecologia. O desafio é juntar mais essas lutas que se complementam. E aí a metamorfose vai ser muito mais forte”.