Agro no clima

Gado convive de forma harmoniosa com a floresta de eucalipto. Foto de Simone Marinho

Metodologia vai ajudar a aplicar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável na cadeia do agronegócio brasileiro

Por Marina Grossi | ODS 12ODS 13 • Publicada em 3 de agosto de 2019 - 08:00 • Atualizada em 3 de agosto de 2019 - 13:40

Gado convive de forma harmoniosa com a floresta de eucalipto. Foto de Simone Marinho
Gado convive de forma harmoniosa com a floresta de eucalipto. Foto de Simone Marinho
Gado convive de forma harmoniosa com a floresta de eucalipto: agronegócio brasileiro responde por 71% das emissões totais do país (Foto: Simone Marinho)

Das pautas mais importantes da exportação brasileira, o agronegócio está com os dois pés no futuro e longe das nossas referências equivocadas de um produtor rural atrasado, com técnicas ultrapassadas e muito menos com interesses devastadores em relação ao meio ambiente.

O agronegócio, o bom agronegócio brasileiro, que faz sucesso lá fora, garante os excelentes números da nossa balança comercial, e sabe que além de rentável, a sustentabilidade é uma pauta importante para dar garantias de credibilidade no mercado internacional.

Não é à toa que vemos a cadeia do agro brasileiro buscando se integrar a programas que auxiliam a aplicação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), seguindo o que já está sendo feito no país em outras indústrias. Em maio, foi para o português o Roadmap da aplicação dos ODS na indústria química, produzido pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), que é representado no Brasil pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Já estão a caminho outras ferramentas semelhantes para mineração e o setor de petróleo.

Também no mesmo mês, CEBDS, Bloomberg e WBCSD convocaram um diálogo para os agronegócios brasileiros explorando os impactos relacionados ao clima, bem como os desafios e oportunidades associados à implementação das recomendações do Grupo de Trabalho sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD).

Os principais temas que surgiram ao longo das discussões centraram-se em finanças e resiliência, ou seja, como comunicar e financiar soluções inovadoras, e como as empresas – particularmente as agroindustriais – podem e devem se preparar, adaptar e responder às mudanças climáticas. No último dia 31 de junho, tivemos o lançamento da metodologia para aplicação dos ODS na cadeia do agronegócio brasileiro, feito pela Rede Brasil do Pacto Global, com o objetivo de auxiliar as empresas a “internalizar” os ODS que mais têm a ver com seu negócio. Entre os destaques, estão no foco o uso dos recursos hídricos, uso de agrotóxicos e a relação direta do setor de agronegócios com o clima, já que a agricultura não só é afetada diretamente pelas mudanças climáticas, mas ao mesmo tempo é grande responsável pelo aquecimento global, na medida que representa boa parte das emissões de gases do efeito estufa.

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Somando-se as emissões indiretas, por desmatamento, e as diretas, o agronegócio brasileiro responde por 71% das emissões totais do país, e está no centro da  contribuição nacionalmente determinada (NDC) ao Acordo de Paris, que inclui recuperar mais de 15 milhões de pastagens degradadas e reflorestar outros 12 milhões de hectares, além de reduzir a zero o desmatamento ilegal até 2030.

No CEBDS, coordenamos o braço brasileiro do programa Inteligência Agroclimática (IAC), que, ao nosso ver, tem inúmeras contribuições se levado em larga escala para um efeito ganha-ganha do agronegócio e meio ambiente no País. O objetivo principal do IAC é reduzir em 50% as emissões de gases do efeito estufa por parte da agricultura até 2030, com o aumento de até 50% da produtividade, usando técnicas agroecológicas avançadas.

Por esse programa, são promovidos um conjunto de técnicas agrícolas e tecnologias de ponta, que aumentam a produtividade usando uma inteligência de solo, com a aplicação correta, reduzida e sem desperdício de defensivos. Isso diretamente acaba acarretando na melhora de renda do agricultor. Apoiando o programa estão as multinacionais Bayer e DSM, além da Embrapa e da ONG Conservação Internacional.

Mais que tudo, é interesse do agricultor de bom senso preservar as fontes que são a boa matéria-prima do seu negócio: solo, água e vegetação. Sem o solo fértil, não há plantio rico. Gastar em produtos químicos para adequar o solo, aumenta custos. Garantir vegetação e água abundantes, evitando os estresses hídricos ou eventos recorrentes como inundações, é condição sine qua non do bom agronegócio. Que bom que essa estratégia está na pauta das grandes empresas e na cabeça dos que pensam no futuro deste negócio. Que essas iniciativas sejam escalonadas mais e mais, garantindo que as inovações compreendam sempre a atuação conjunta e harmônica do tripé do negócio sustentável, aquele que junta economia, ambiente e social.

Marina Grossi

Marina Grossi, economista, é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com mais de 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro. Foi negociadora do Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entre 1997 a 2001 e coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003.

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Um comentário em “Agro no clima

  1. Ismael de Paula disse:

    Idéia muito válida se a floresta não for eucaliptos. Todos sabem, que é muito prejudicial ao solo, especialmente por sugar toda a água existente. Eucalipto não é reflorestamento responsável!

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