Um jovem gestor de 26 anos para enfrentar a crise ambiental do Rio

Eduardo Cavaliere, numa horta de batata doce em Honório Gurgel, na Zona Norte: “vamos precisar muito da articulação e parcerias com os setores da sociedade civil e da academia”. Foto de divulgação

Questionado pela pouca experiência, Eduardo Cavaliere assume a Secretaria Municipal de Meio Ambiente com o desafio de reconstruir sua estrutura e lutar contra a devastação

Por Bernardo de la Peña | ODS 11ODS 13 • Publicada em 12 de janeiro de 2021 - 09:34 • Atualizada em 15 de janeiro de 2021 - 16:15

Eduardo Cavaliere, numa horta de batata doce em Honório Gurgel, na Zona Norte: “vamos precisar muito da articulação e parcerias com os setores da sociedade civil e da academia”. Foto de divulgação

É um jovem bacharel em Direito – apenas 26 anos – o novo secretário de Meio Ambiente do Rio. Escolhido por Eduardo Paes para encarar as urgentes agendas ambientais da cidade, Eduardo Cavaliere foi empossado no primeiro dia de 2020 no cargo, junto com todo o primeiro escalão municipal. Paes conheceu o agora secretário em 2018, na confecção do programa da candidatura a governador, batida pelo hoje afastado Wilson Witzel. Formado pela FGV, onde também cursou Matemática Aplicada, Cavalieri é fã, como o chefe, de carioquices como o Tecnobloco, uma das grifes mais badaladas do Carnaval de rua.

Mas a pouca experiência, numa área tradicionalmente problemática, chamou a atenção em torno de sua escolha. Quase 20 entidades de militantes do setor engajaram-se em abaixo-assinado, reivindicando cuidado com as conquistas ambientais das outras gestões de Eduardo Paes, entre elas a sala de controle do tempo e o monitoramento das áreas de risco da cidade. Relembram, inclusive, um TED – conferência dedicada a divulgar ideias, geralmente na forma de palestras curtas e impactantes – de 2012 em que Paes diz: “Sempre que você pensa em uma cidade, você tem que pensar: verde, verde, verde”. Falam do desmantelamento do Jardim Zoológico, das APAS das serras de Inhoaíba e Cantagalo e falta de regularização fundiária do Parque de Grumari.

Sem referências à nomeação, o documento tem cinco páginas, bem fundamentadas, com proposições para o setor. “O Rio, outrora exemplo e farol do mundo em sustentabilidade, vive grave crise ambiental”, escreveram os ambientalistas. “Às terríveis consequências da pandemia sobre as atividades humanas, fruto do descaso dos governantes com a saúde dos menos favorecidos soma-se o desleixo com o nosso patrimônio ambiental. Parques urbanos, praças, unidades de conservação e demais áreas verdes sofrem com a falta de gestão presente e eficaz. A cidade precisa se preparar para o pós-pandemia”, alertam. O Rio possui a maior rede de proteção ambiental do Brasil: cerca de 50 UCs (unidades de conservação) estão sob administração municipal, mosaico de ecossistemas da Mata Atlântica, e ntremeados às demais UCs estaduais e federais e à malha urbana.

Cavaliere terá a companhia, no cargo, do economista Sergio Besserman, mais experiente tanto no setor público quanto na área ambiental, que será consultor na área de mudanças climáticas.

Ao #Colabora, o futuro secretário falou de projetos, ideias e falhas na área ambiental carioca:

#Colabora – Quais serão as prioridades para o meio ambiente carioca?

Precisamos promover a distribuição de recursos naturais para as áreas que mais precisam na cidade, como a Zonas Norte e Oeste, a região central e principalmente as favelas. Um exemplo dessa desigualdade são ilhas de calor como a Praça Onze, repleta de prédios e praticamente sem qualquer cobertura vegetal, parques ou áreas verdes. Essa dinâmica produz situações de extrema degradação da cidadania, inclusive, obrigando famílias a saírem de suas casas em determinadas horas do dia, por conta do fortíssimo calor. A secretaria tem ações com impacto social muito relevantes, como o Hortas Cariocas, o Mutirão de Reflorestamento e o Conservando Rios. Esses programas devem ser mantidos e ampliados.

O compromisso é garantir a neutralidade de emissões até 2050. O Rio foi pioneiro entre os municípios brasileiros ao instituir política municipal sobre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável. Nossa missão é avançar

#Colabora – Como o senhor e o Sergio Besserman vão se articular para cuidar do setor ambiental?

Precisamos reestruturar a Secretaria de Meio Ambiente, que foi completamente sucateada pelo governo Marcelo Crivella. Um exemplo triste do abandono da última gestão é a Fundação Parques e Jardins (FPJ), um dos órgãos públicos mais antigos do Brasil (criado no fim do século 19), com corpo técnico altamente qualificado, mas entregue ao loteamento de cargos, que o deixaram sem capacidade de funcionar. Estamos nos reunindo com os servidores, altamente qualificados e que amam o que fazem. Inclusive, pela primeira vez, a secretaria terá uma servidora de carreira, que começou estagiária, como subsecretária: a engenharia química Debora Barros, líder carioca e selecionada para o programa Columbia Women Leadership. A valorização dos servidores será uma marca de nossa gestão. Também vamos precisar muito de articulação e parcerias com os setores da sociedade civil e da academia. A visão estratégica do Besserman será fundamental nesse papel.

#Colabora – Vai ser possível cumprir os cortes de emissão de poluentes com os quais o Brasil está comprometido, no que depender do Rio?

Como cidade-membro da rede C40, o Rio elaborou o seu Plano de Ação Climática, cujos detalhes vamos apresentar em breve. A proposta estabelece as estratégias de mitigação dos gases de efeito-estufa e a adaptação da cidade a uma nova realidade. O compromisso é garantir a neutralidade de emissões de gases do efeito-estufa até 2050. O Rio foi pioneiro entre os municípios brasileiros ao instituir uma política municipal sobre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável, ainda em 2011, na primeira gestão de Eduardo Paes. Nossa missão é avançar nessa política, promovendo continuidade de ações planejadas e interlocução com outras pastas, como Planejamento Urbano, Conservação e Habitação, além do Instituto Pereira Passos (IPP).

#Colabora – Há alguma área no Rio que já foi um patrimônio ambiental da cidade e que o senhor planeje recuperar?? Uma cachoeira, uma praia, um parque ou região de floresta ou mata?

Estou muito preocupado com o avanço de construções irregulares em áreas de preservação ambiental. A omissão e o descaso do último prefeito criaram uma enorme pressão de desmatamento nessas áreas. Inclusive, estou conversando com o Washington Fajardo (secretário de Planejamento Urbano) para alinharmos uma política de contenção do avanço da ilegalidade para áreas protegidas, e que tenha como diretriz a necessidade do adensamento populacional da região central como forma de política ambiental.

#Colabora – Como o senhor avalia a carta dos movimentos sociais?

Estamos abertos a ouvir a sociedade civil, e contamos com a colaboração de quem ama o Rio.

Bernardo de la Peña

Bernardo de la Peña é carioca e jornalista há mais de 25 anos. Trabalhou em "O Estado de S. Paulo" e "O Globo", onde  ganhou dois Prêmio Esso. Escritor, publicou dois livros: "Memorial do escândalo", livro-reportagem sobre o mensalão, e "Um carioca no Planalto", memórias dos cinco anos que viveu em Brasília, a maior parte do tempo cobrindo o Planalto. Adora cavalos, a ponto de se arriscar a praticar salto na Sociedade Hípica Brasileira, um de seus lugares preferidos, ao lado da fazenda da família em Secretário, distrito de Petrópolis (RJ).

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