Refugiados empreendedores

Lavanderia construída na área interna do Centro de Acolhimento é gerida pelos próprios refugiados

Jovens finlandeses apostam na integração e investem no capital humano

Por Janaína Cesar | ODS 1 • Publicada em 3 de março de 2016 - 08:08 • Atualizada em 3 de março de 2016 - 11:04

Lavanderia construída na área interna do Centro de Acolhimento é gerida pelos próprios refugiados
Lavanderia construída na área interna do Centro de Acolhimento é gerida pelos próprios refugiados
Lavanderia construída na área interna do Centro de Acolhimento é gerida pelos próprios refugiados

O governo da Finlândia acaba de anunciar que até o fim do ano vai deportar 20 mil imigrantes. Segue o caminho de Dinamarca, Suécia, Itália e Áustria, países que veem a imigração em massa como um perigo e adotam medidas cada vez mais duras para tentar conter o fluxo de refugiados. Enquanto isso, um grupo de jovens amigos finlandeses optou por encarar essa realidade de um jeito diferente, não como um problema, mas como uma possível solução. Eles apostaram na habilidade e no talento e criaram a Startup Refugees. O objetivo é inserir essas pessoas no mercado de trabalho, capacitando-as para se transformarem em futuros empreendedores.

Liderada por figuras conhecidas da TV finlandesa como Riku Rantala e Tunna Milonoff e ativa desde a setembro de 2015, a startup já conta com a adesão de mais de 300 patrocinadores, entre pequenas e grandes empresas locais, empreendedores, associações de imigrantes e centros de pesquisa. Segundo Camila Nurmi, um dos coordenadores, a ideia é formar uma rede e aproveitar o capital humano dos refugiados, combiná-lo com o empreendedorismo finlandês e manter a economia do país aquecida com inovações.  Com uma população de cerca 5 milhões de habitantes e uma taxa de desocupação de 9,4%, o país viu o número de pedidos de vistos humanitários aumentar rapidamente. Somente ano passado mais de 30 mil pessoas entraram com pedido de visto, o que aumentou o tempo de permanência dessas pessoas nos centros de acolhimento.

Finlandia (2)

Camila explica que o tempo de espera para receber o visto pode levar até um ano. “Essas pessoas ficariam ali paradas, sem poder fazer nada. Muitos deles são especializadas, conhecem uma profissão e representam um grande potencial para o mercado de trabalho da Finlândia”, diz. O projeto parte exatamente dos centros de acolhimento e faz com que o imigrante aproveite o tempo ocioso enquanto aguarda o visto.  Alguns estudantes das universidades de Aalto e Helsinque fizeram uma pesquisa para saber quais são as habilidades e objetivos profissionais dos refugiados.

Nos meses que passam dentro dessas estruturas, eles podem participar de cursos e workshops organizados pela startup e oferecidos por empresas e pessoas apoiadoras do projeto.  Como, por exemplo, o curso de barbeiro organizado pelo proprietário de uma barbearia que, além de ensinar a profissão, dá dicas sobre a cultura empresarial e a burocracia para começar o próprio negócio na Finlândia. “Esse barbeiro doará equipamentos para os que frequentarem sua oficina. Queremos transformar os centros de acolhimento em lugares vibrantes, ativos, dinâmicos e autogeridos pelos requerentes. Já contamos com uma escola, um restaurante, uma lavandaria e até mesmo uma fábrica de tecelagem de tapetes persas, tudo organizado por equipes de refugiados”.

Há também muitas empresas que estão procurando empregados através do projeto. Para este ano, a startup pretende lançar um portal onde os requerentes de asilo e os empreendedores locais possam trocas ideias e se encontrarem. “Também vamos começar a ajudá-los a encontrarem financiamento para seus projetos de empreendedorismo”, diz Camila.

O projeto cresceu e hoje já conta com a adesão de centenas de requerentes e é realidade em 7 centros de acolhimento espalhados pelo país. E começa a fazer escola.  A Cruz Vermelha finlandesa pretende adotar o modelo em seus centros de acolhimento.  Muito mais que um projeto de capacitação, o que esse pessoal está oferecendo não só a Finlândia, mas a Europa se souber entender a mensagem, é um novo modelo de integração social.

O projeto, passo a passo:

  • Primeiro se descobre as habilidades e desejos dos requerentes de asilo nos centros de acolhimento através da pesquisa.
  • O diretor do centro de acolhimento é informado sobre as habilidades e desejos dos requerentes de asilo.
  • Os requerentes de asilo são incentivados a usar suas habilidades no centro de recepção.
  • Se necessário, serão oferecidos cursos e workshops a partir da startup.
  • Se necessário, os refugiados podem procurar equipamentos de trabalho através da startup.
  • Os requerentes de asilo podem planejar as próprias funções.
  • Podem formar equipes e executar tarefas por iniciativa própria, quanto possível, com o apoio da direção do centro de acolhimento.
  • Os requerentes de asilo terão referências de trabalho fornecidas pelo diretor do centro de acolhimento, o que lhes ajudará quando entrarem no mercado finlandês.
  • A startup também oferece estágios e possibilidades de emprego para os requerentes de asilo.

Janaína Cesar

Formada pela Universidade São Judas Tadeu (SP), trabalha há 17 anos como jornalista e vive há 15 na Itália, onde fez mestrado em imigração, na Universidade de Veneza. Escreve para Estadão, Opera Mundi, IstoÉ e alguns veículos italianos como GQ, Linkiesta e Il Giornale di Vicenza. Foi gerente de projetos da associação Il Quarto Ponte, uma ONG que trabalha com imigração.

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