Em plena pandemia, número de refugiados cresce no mundo

Em julho de 2020, a ACNUR, o Governo de Uganda e outros parceiros montaram uma operação de emergência no distrito de Zombo para receber milhares de requerentes de asilo encalhados entre Uganda e a República Democrática do Congo (RDC). Foto ACNUR. Julho/2020

Mais de 82 milhões de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas fugindo de guerras, perseguições e violações de direitos humanos

Por #Colabora | ODS 1ODS 16 • Publicada em 18 de junho de 2021 - 15:29 • Atualizada em 1 de setembro de 2021 - 08:16

Em julho de 2020, a ACNUR, o Governo de Uganda e outros parceiros montaram uma operação de emergência no distrito de Zombo para receber milhares de requerentes de asilo encalhados entre Uganda e a República Democrática do Congo (RDC). Foto ACNUR. Julho/2020

Apesar da pandemia de covid-19, o número de pessoas fugindo de guerras, violência, perseguições e violações de direitos humanos em 2020 subiu para quase 82,4 milhões. A informação faz parte da última edição do relatório anual da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) divulgado nesta sexta-feira, dia 18, em Genebra. A nova cifra é 4% maior que os 79,5 milhões registrados ao final de 2019 – maior número verificado até então.

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O relatório mostra que ao final de 2020 havia 20,7 milhões de refugiados sob os cuidados da ACNUR, 5,7 milhões de refugiados palestinos assistidos pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) e 3,9 milhões de venezuelanos deslocados fora do seu país. Outras 48 milhões de pessoas foram categorizadas como deslocadas internas – ou seja, dentro dos seus próprios países. Especialmente na África. Adicionalmente, 4,1 milhões de pessoas estavam sob a categoria de solicitantes do reconhecimento da condição de refugiado. Estes números indicam que apesar da pandemia e dos pedidos de cessar-fogo, conflitos continuam a expulsar milhares de pessoas de suas casas.

“Atrás de cada número há uma pessoa forçada a fugir de sua casa e uma história de deslocamento, perda de bens e sofrimento. Estas pessoas merecem nossa atenção e apoio não apenas com ajuda humanitária, mas com soluções duradoras para sua situação”, disse Filippo Grandi, do alto comissário da ONU para refugiados.

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Ngesti Gudamadhen, 28, é um dos refugiados etíopes que se ofereceu para ensinar crianças em salas de aula improvisadas no campo Um Rakuba, Al Qadarif, Sudão. Os confrontos entre o exército etíope e as forças da região de Tigray levaram milhares de pessoas a fugir de suas casas - mais da metade delas crianças. Foto ACNUR. Novembro/2020
Ngesti Gudamadhen, 28, é etíope e se ofereceu para ensinar crianças em salas de aula improvisadas no campo Um Rakuba, Al Qadarif, Sudão. Os confrontos entre o exército etíope e as forças da região de Tigray levaram milhares de pessoas a fugir de suas casas – mais da metade delas crianças. Foto ACNUR. Novembro/2020

“Enquanto a Convenção da ONU de 1951 e o Pacto Global sobre Refugiados oferecem um arcabouço legal e ferramentas para responder ao deslocamento, necessitamos de um maior apoio político para lidar com os conflitos e perseguições que forçam as pessoas a fugir”, completou Grandi.

Meninas e meninos com até 18 anos de idade representam 42% de todas as pessoas forçadas a se deslocar. Eles são especialmente vulneráveis, ainda mais quando as crises perduram por muitos anos. Novas estimativas do ACNUR mostram que quase 1 milhão de crianças já nasceu com o estigma de refugiada entre 2018 e 2020. Muitas delas deverão permanecer nesta condição nos próximos anos.

“A tragédia de tantas crianças nascendo no exílio deveria ser uma razão suficiente para um esforço ainda maior no sentido de prevenir e encerrar conflitos e violência”, afirma o representante do Alto Comissariado da ONU para Refugiados.

Refugiado butanês Bhakti Prasad Baral, de 83 anos, recebe vacinação contra a covid-19 no assentamento de refugiados de Beldangi em Damak, distrito de Jhapa, província 1 no leste do Nepal. Foto ACNUR. Dezembro/2020
Refugiado butanês Bhakti Prasad Baral, de 83 anos, recebe vacinação contra a covid-19 no assentamento de refugiados de Beldangi em Damak, distrito de Jhapa, província 1 no leste do Nepal. Foto ACNUR. Dezembro/2020

Vagas para reassentamento foram reduzidas durante a pandemia

O relatório do ACNUR, que recebeu o nome de “Tendências Globais”, nota ainda que durante o pico da pandemia em 2020 mais de 160 países fecharam suas fronteiras, com 99 deles não fazendo qualquer exceção para pessoas em busca de proteção internacional. Com a adoção de algumas medidas, como checagem médica nas fronteiras, certificados de saúde ou quarentena temporária, procedimentos simplificados de registros e entrevistas remotas, mais e mais países encontraram maneiras de assegurar o acesso a procedimentos de asilo e manter o controle da pandemia.

Enquanto pessoas continuam sendo forçadas a fugir cruzando fronteiras internacionais, muitos milhões delas encontravam-se deslocadas dentro de seus próprios países. Devido a crises principalmente na Etiópia, no Sudão, em países do Sahel, Moçambique, Iêmen, Afeganistão e Colômbia, o número de deslocados internos cresceu em mais de 2,3 milhões de pessoas.

Ao longo de 2020, cerca de 3,2 milhões de deslocados internos e apenas 251 mil refugiados retornaram para seus lares – uma queda de 40% e 21%, respectivamente, se comparado com 2019. Outros 33.800 refugiados foram naturalizados por seus países de acolhida. O reassentamento de refugiados registrou uma queda drástica: apenas 34.400 refugiados foram reassentados no ano passado, o menor nível em 20 anos – uma consequência da redução de vagas para reassentamento causada pela pandemia.

“Para chegarmos a uma solução possível é fundamental que os líderes globais e aqueles com poder de influência coloquem suas diferenças de lado, acabem com uma abordagem egoísta sobre a política e, em vez disso, se foquem na prevenção e solução dos conflitos, assegurando o respeito aos direitos humanos”, disse Grandi.

Crianças refugiadas do Sudão do Sul brincam no campo de Nguenyyiel sob a supervisão de vizinhos, enquanto seus pais visitam o ponto de distribuição de alimentos. Foto ACNUR. Setembro/2020
Crianças refugiadas do Sudão do Sul brincam no campo de Nguenyyiel sob a supervisão de vizinhos, enquanto seus pais visitam o ponto de distribuição de alimentos. Foto ACNUR. Setembro/2020

Relatório do ACNUR ‘Tendências Globais 2020’ – principais dados

  • 82,4 milhões de pessoas forçadas a se deslocar em todo o mundo (79,5 milhões em 2019) – crescimento de 4%;
    • 26,4 milhões de refugiados (26,4 milhões em 2019), incluindo:
      • 20,7 milhões de refugiados sob o mandato do ACNUR (20,4 milhões em 2019);
      • 5,7 milhões de refugiados palestinos sob o mandato da UNRWA (5.6 milhões em 2019);
    • 48 milhões de deslocados internos (45,7 milhões em 2019);
    • 4,1 milhões de solicitantes do reconhecimento da condição de refugiado (4,1 milhões em 2019)
    • 3,9 milhões de venezuelanos deslocados fora do seu país (3,6 milhões em 2019);
  • 2020 é o nono ano de crescimento ininterrupto do deslocamento forçado no mundo. Hoje, 1% da população global encontra-se deslocada e há duas vezes mais destas pessoas que em 2011, quando este número estava abaixo de 40 milhões.
  • Mais de dois terços de todas as pessoas refugiadas vieram de apenas cinco países: Síria (6,7 milhões), Venezuela (4 milhões), Afeganistão (2,6 milhões), Sudão do Sul (2,2 milhões) e Mianmar (1,1 milhão).
  • A vasta maioria das pessoas refugiadas do mundo – quase nove em cada dez (ou 86%) – estão acolhidas em países vizinhos às crises e que são de renda baixa ou média. Os países menos desenvolvidos acolheram 27% deste total.
  • Pelo sétimo ano consecutivo, a Turquia abriga a maior população de refugiados no mundo (3,7 milhões de pessoas), seguida pela Colômbia (1,7 milhão, incluindo venezuelanos deslocados fora do seu país), Paquistão (1,4 milhão), Uganda (1,4 milhão) e Alemanha (1,2 milhão).
  • Pedidos de asilo pendente de análise no mundo permaneceu nos níveis de 2019 (4,1 milhões), sendo que o ACNUR e os países registraram (dentro deste total) 1,3 milhão de novas solicitações (1 milhão – ou 43% – a menos que em 2019).

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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora.

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