Fechando a conta da poluição

Bolsa verde. Foto de divulgação

Instituto CO2 Zero

Por Fernanda Portugal | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 12 de setembro de 2016 - 08:00 • Atualizada em 3 de setembro de 2017 - 01:21

Bolsa verde. Foto de divulgação
Bolsa verde. Foto de divulgação
A criação da ONG foi inspirada no conto A Bolsa Verde, da filha de Vasconcellos

Embora no Brasil se fale cada vez mais sobre aquecimento global, o país ainda não sabe com quantos paus se faz uma canoa quando o tema é zerar as emissões de gases do efeito estufa. A crítica é feita pelo Instituto COZero, que luta pela criação de lei que obrigue indústrias, empresas e órgãos do governo a medirem a quantidade de poluentes que despejam na natureza para, assim, calcularem exatamente a quantidade de árvores a plantar para compensar o estrago.

 

A conta não fecha no Brasil: se a produção de carbono não é medida, como fazer uma compensação justa, que não seja só para ‘inglês ver’?

“A conta não fecha no Brasil: se a produção de carbono não é medida, como fazer uma compensação justa, que não seja só para ‘inglês ver’?”, questiona Marcus Andrey Vasconcellos, presidente da ONG sediada em Brasília e criada em 2012, quando apresentou seu principal projeto, o Pense e Compense, na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).  A ideia é criar uma teia que envolva indivíduos e empresas que desejam compensar suas emissões, além de pequenos produtores rurais que buscam recuperar áreas degradadas de matas.

Marcos Vasconcellos, do Instituto CO2 Zero. Foto de divulgação
Marcus Vasconcellos, presidente do Instituto CO2 Zero

No site do Instituto, qualquer pessoa pode quantificar sua produção de carbono, inserindo dados sobre consumo de eletricidade, gás e combustíveis, e saber quantas árvores seriam necessárias para zerá-la. Pelo Projeto ‘Pense e Compense’, então, o usuário escolheria uma das empresas parceiras dispostas a fazer essa neutralização, financiando o plantio. Estas, por sua vez, teriam o benefício fiscal de abater o investimento no Imposto de Renda e se comprometeriam a elaborar seu próprio inventário de emissões e a compensá-las.

“O Instituto faz o cálculo das emissões, segundo metodologia do WRI (World Resources Institute), e dá ao cliente as opções de plantar árvores na comunidade ou de adquirir créditos de carbono de projetos certificados pela ONU, dentro da Amazônia Legal”, explica Vasconcellos. Para isso, o Instituto CO2 Zero conta com um ‘banco’ de áreas degradadas de pequenos produtores rurais, que receberiam benefícios financeiros para recuperar a floresta e mantê-la em pé, especialmente nos estados de Pará, Acre e Tocantins.

Segundo Vasconcellos, o ‘Pense e Compense’ é uma das iniciativas mundiais que aplica o REDD+, mecanismo criado pela ONU para incentivar o manejo sustentável das florestas, evitando os desmatamentos – que figuram entre as maiores causas do efeito estufa. A sigla, conhecida entre ambientalistas, significa Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal. “O REED+ envolve o empoderamento das comunidades. O cidadão, capacitado e educado, sobrevive em seu local, preservando a floresta”, diz ele.

Bolsa verde 

O projeto teve como inspiração o conto ‘A Bolsa Verde’, escrito em 2004 pela estudante Beatriz Ingryd, então com 10 anos, filha de Vasconcellos. Na história, passada em 2079, quando já não havia mais natureza na Terra e a expectativa de vida do ser humano era de 40 anos, uma menina acha a bolsa nos pertences da família e pergunta à mãe qual o significado daquela cor. Ao saber que o verde simbolizava florestas e biodiversidade, a criança dá um jeito de colocar a bolsa num túnel do tempo e a faz sair na reunião do Protocolo de Quioto, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, bem ao lado do então presidente dos EUA. A bolsa, então, ‘cutuca’ Bush que, ao abri-la, encontra uma caneta mágica, que o faz assinar o Protocolo, tornando mais verde o futuro.

Ao mesmo tempo em que busca difundir o ‘Pense e Compense’ em escala nacional – conversando com o governo federal e também com governadores, prefeitos e empresários –,  o Instituto realiza serviços de gestão de carbono, resíduos sólidos e sustentabilidade para eventos.  Um deles é o ‘Te Vejo na Praia’, que todo ano, durante oito fins de semana, transforma a orla do Lago Paranoá, em Brasília, numa espécie de Copacabana, em que mais de cem mil pessoas por dia participam de atividades esportivas, shows e festas.

“Além de todo o planejamento e o gerenciamento antes e durante os Eventos Carbono Zero, ao final há o trabalho de compensação das emissões. No caso do ‘Te Vejo na Praia’, ocorrerá a revitalização da orla do Paranoá”, afirma o presidente da ONG que conta com 26 membros associados e que planeja, em breve, passar a publicar no site a prestação de contas do que já tem sido feito, oferecendo transparência sobre suas atividades.

Cientistas já observam que o aumento da temperatura média do planeta tem elevado o nível do mar, com o derretimento das calotas polares, colocando ilhas e cidades litorâneas sob o risco de literalmente sumirem do mapa. Há, também, previsão de frequência maior de eventos climáticos extremos, como tempestades tropicais, inundações, ondas de calor, seca, nevascas, furacões, tornados e tsunamis. Tudo isso ameaça ecossistemas e espécies, incluindo o Homo sapiens. “Se não mudarmos agora a nossa forma de lidar com o planeta, vamos ser ceifados. Armamos uma bomba-relógio que precisa ser desarmada no escuro. Os impactos são mais fortes do que a gente pensa que pode suportar”, reforça Vasconcellos.

Fernanda Portugal

Fernanda Portugal é carioca, formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Já foi editora de Saúde, Mundo, Meio Ambiente e Cidade do jornal 'O Dia'. Como repórter, no mesmo jornal, fazia matérias com temas ligados aos Direitos Humanos e ganhou o Prêmio SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) três vezes.

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