Erva-mate mais sustentável

A erva-mate processada: com o uso de energia solar o gasto é reduzido (Foto Fábio Seixo/Coca-Cola-Brasil)

Fornecedora da Leão, ervateira de Santa Catarina é pioneira no uso de energia solar na América Latina

Por Jefferson Lessa | Conteúdo de marca • Publicada em 6 de agosto de 2018 - 08:14 • Atualizada em 18 de março de 2020 - 17:17

A erva-mate processada: com o uso de energia solar o gasto é reduzido (Foto Fábio Seixo/Coca-Cola-Brasil)

(Reportagem publicada originalmente no Coca-Cola Journey

Uma das lembranças mais antigas e preciosas de Gilnei Gheno é do dia em que levou água para o pai, seu João, que estava na roça debaixo do sol forte confeccionando um cesto de taquara: “Eu tinha 5 anos. Meu pai passou a mão na minha cabeça e disse: ‘Um dia nós vamos ter energia elétrica suficiente para construir uma indústria nessas terras’. Ele estava falando de uma indústria de processamento de erva-mate, pois era apaixonado pela planta”, lembra, emocionado o empresário, um dos donos da Erva-Mate Gheno.

Orgulho: Gilnei diante das placas de energia solar (Foto Fábio Seixo/Coca-Cola Brasil)
Orgulho: Gilnei diante das placas de energia solar (Foto Fábio Seixo/Coca-Cola Brasil)

Mais de 30 anos depois dessa cena, a previsão de seu João se concretizou duplamente. O negócio da família se transformou numa ervateira bem-sucedida, uma das fornecedoras da Leão Alimentos e Bebidas, e, hoje, ruma para a autossustentabilidade energética.
Sim, há pouco menos de seis meses, mais precisamente em 13 de dezembro de 2017, a Erva-Mate Gheno tornou-se a primeira (e única) da América Latina a utilizar energia solar em todos os processos de produção. Naquele dia foram instalados 62 painéis fotovoltaicos que, devido ao crescimento acelerado da empresa, já não conferem autossuficiência. Sem problema: em breve chegarão 26 novas placas que vão lhe devolver a autonomia total. Ao atingir a autossuficiência, a Gheno deixa de emitir 308.185 kg de gás carbônico no ambiente, o equivalente ao plantio de 566 árvores ou a “pegada de carbono” de seis pessoas.
Localizada próxima à cidade de Concórdia, de 73 mil habitantes e situada no Oeste de Santa Catarina, a indústria pertence a Gilnei e a seu irmão Carlos Gheno, de 36 e 46 anos, respectivamente, o mais novo e o mais velho da prole de nove filhos de João. Concebida como uma fazenda comum, onde se criavam animais e se cultivavam grãos, a propriedade de 53 hectares produz atualmente quase 300 toneladas de erva-mate por mês. A caminhada até aqui, no entanto, não foi fácil. Envolveu sonhos, determinação, suor, trabalho duro e, sobretudo, amor.

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A previsão do pai Gilnei e Carlos, feita em 1986, tinha tudo para ser facilmente esquecida, mas acabou marcando a vida de toda a família. “Foi assim que meu pai botou na cabeça de todos nós, desde cedo, que teríamos uma indústria”, conta o caçula.
Até o sonho se tornar realidade, porém, a família de seu João, gaúcho de Lajeado que chegou a Concórdia em 1969, teria que dar muitos, mas muitos passos. Os pés de erva-mate eram pouquíssimos e cultivados junto aos de milho. O forte naquela terra eram os cultivos de soja, milho e feijão. A erva-mate era plantada só para fazer chimarrão. “Era uma plantação artesanal. Levava dois dias para as folhas secarem”, conta Gilnei, acrescentando que o pai costumava fazer seu próprio chimarrão: “Ele era gaúcho. Não passava sem”.

Parceria com a Leão
A visão industrial de seu João levaria duas décadas para ser concretizada. No começo dos anos 1990, ele transformou o cultivo de erva-mate na atividade mais importante da fazenda. “Entre 2000 e 2005, dobramos a colheita de dez mil para 20 mil arrobas (quase 300 toneladas). Em 2006, iniciamos uma espécie de pré-indústria, terceirizando a secagem da erva, usando o secador de uma família amiga. Passamos seis anos aprendendo com eles a secar e canchear” (processo de secagem e trituração de folhas e galhos de erva-mate que prepara a planta para ser entregue à indústria).

A maior parte da produção da ervateira Gheno é vendida à Leão (Foto Fábio Seixo/coca-Cola Brasil)
A maior parte da produção da ervateira Gheno é vendida à Leão (Foto Fábio Seixo/coca-Cola Brasil)

O ano de 2011 foi crucial para a história dos Gheno. Eles haviam economizado o suficiente para comprar o secador pequenino de segunda mão que, finalmente, elevaria o status da fazenda a indústria. Ou mais precisamente, agroindústria. No dia da instalação, porém, João faleceu, vítima de um câncer contra o qual lutava desde 1999. “Adiamos por cinco dias. Não dava, não naquele dia. Meu pai não viu o sonho dele acontecer”, emociona-se Gilnei.
Mas o sonho não havia acabado. Em 15 de novembro de 2011, o secador começou a funcionar. Em 23 de dezembro, antevéspera do Natal, Gilnei entrou em contato com um comprador da Leão oferecendo-se como colaborador. Um passo enorme para quem tinha instalado a máquina mais importante da (agora) ervateira havia pouco mais de um mês. “Ele me perguntou: ‘Por que a Leão?’ E eu respondi: ‘Porque prefiro ter um ótimo cliente a ficar procurando dois, três etc’.”
Como se vê, deu certo. Gilnei pediu prazo até março de 2012 para fazer parcerias com agricultores locais e contratar funcionários. Em 12 de março, fazia sua primeira entrega para a empresa. “Não estava no padrão correto, e eles nos ajudaram a chegar lá. Eu e meu irmão (Carlos, sócio na ervateira) gostamos de mecânica e criamos uma máquina para fracionar corretamente as folhas, seguindo as exigências da Leão. Melhor que contratar uma empresa para fazer isso.”
De lá para cá, a Gheno se mantém no seleto grupo de fornecedores da Leão, que passam por um processo permanente de aprimoramento e qualificação em boas práticas de fabricação e manejo agrícola, com foco em na proteção do meio ambiente, no bem-estar das pessoas e na segurança dos alimentos.
No entanto, ainda faltava a cereja sobre o sundae, ou melhor, o mate para acompanhar aquele biscoito de polvilho. Esse toque final chegou na forma dos painéis fotovoltaicos de que falamos lá no começo (lembra?). Eles tornaram a empresa autossustentável em todos os processos de produção por um curto período – o que, na verdade, foi uma boa notícia, pois indicou que a indústria estava crescendo aceleradamente.

Mesa para todos
Para Gilnei, não se trata apenas de baixar custos – o que acontece inevitavelmente. “Energia solar causa pouco impacto ambiental. De dezembro para cá crescemos, e 62 placas já não bastam. Vão chegar mais 26”, adianta orgulhoso, lembrando que indústria e a área de cultivo da erva ficam próximas do Parque Estadual Fritz Plaumann, área de preservação ambiental, às margens do Rio Uruguai.
Gilnei tem motivos para sentir orgulho. Além de uma trajetória familiar bonita e vitoriosa, os Gheno mantiveram a simplicidade e a solidariedade dos tempos mais duros. Um único exemplo dá a medida do que se quer dizer aqui. O salão de festas da família também é o refeitório dos funcionários – que fazem as refeições com os patrões em mesas imensas. Não dá para não falar da comida do tipo caseira, que começa a seduzir pelo aroma e conquista para sempre na boca.
Seu João com certeza está sorrindo de uma orelha à outra.

COCA-COLA BRASIL

 

Jefferson Lessa

É jornalista formado pela PUC Rio e moldado pelas cidades que conheceu. No começo dos anos 1990, trabalhou na Revista Domingo, do Jornal do Brasil. Foi crítico de cinema e teatro em O Globo, onde escreveu por doze anos a coluna Pé-Limpo, sobre bares “arrumadinhos”, no caderno Rio Show. Trabalhou na revista Veja Rio e nos canais Telecine. É um ser essencialmente urbano. Carioca, ama a cidade onde nasceu, mas quando é preciso falar sério sobre o Rio não passa a mão na cabeça nem dá colher de chá.

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