ODS 1
Brasília em chamas: PF investiga incêndio criminoso no Parque Nacional
Com mais de 50 inquéritos abertos sobre queimadas pelo país, ministra Marina Silva vê "terrorismo climático”
A Polícia Federal instaurou inquérito para investigar o incêndio que atinge o Parque Nacional de Brasília, próximo à Granja do Torto, residência oficial da Presidência da República. Há indícios de que o incêndio tenha sido criminoso. De acordo com o último balanço do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ao qual o Parque Nacional é vinculado, o fogo já havia atingido 1,2 mil hectares.
Leu essa? Baixa umidade e fumaça exigem cuidados com a saúde
Mais de 200 pessoas, entre bombeiros, brigadistas e voluntários, estão combatendo o incêndio com o apoio de sete caminhões, duas aeronaves e drones. Embora parte das chamas tenha sido controlada, a fumaça se espalhou por diversas regiões administrativas do Distrito Federal. O ICMBio informou que o incêndio teve início no limite entre o parque e da Granja do Torto, residência oficial da Presidência da República. O presidente do ICMBio, Mauro Pires, afirmou que o fogo teve início de formal intencional, sinalizando que a causa do incêndio pode ter sido criminosa.
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Veja o que já enviamosBombeiros e brigadistas fizeram aceiros – barreiras de contenção do fogo, feitas com terra após remoções de vegetação para evitar que o fogo se alastre – para evitar que o as chamas alcançassem as residências Vila Weslian Roriz, localizada perto da Granja do Torto. Durante o combate ao incêndio, dois militares do Corpo de Bombeiros se feriram sem gravidade e precisaram ser levados ao hospital.
A capital enfrenta a terceira pior seca de sua história, com 146 dias sem chuvas completados nesta segunda-feira (16/9), quando mais uma vez Brasília amanheceu coberta pela fumaça – a previsão era de temperatura até 34ºC e umidade do ar em menos de 15%. Além do incêndio no Parque Nacional, há fogo em vários pontos da cidade, como no Noroeste e em locais próximos à Universidade de Brasília (UnB). A fumaça está concentrada em pontos do Plano Piloto, Taguatinga, Ceilândia e Águas Claras. “É importante lembrar que o fogo prejudica muito a qualidade do ar, com fuligem e fumaça, o que, aliado à baixa umidade típica de Brasília nesta época, agrava infecções e doenças respiratórias”, explicou o presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Rôney Nemer.
A Secretaria de Educação do Distrito Federal informou que escolas próximas a queimadas podem suspender as aulas devido aos efeitos da fumaça e da fuligem. A UnB suspendeu o expediente presencial. A Biblioteca Central também não vai abrir. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), não há previsão de chuva para os próximos dias. Há uma semana, o Distrito Federal registrou grande incêndio na Floresta Nacional de Brasília (Flona). Em cinco dias, as chamas consumiram 2.586 hectares, equivalente a 45,85% da unidade de conservação. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), foi o pior incêndio no local nos últimos dez anos.
Criado em 29 de novembro de 1961, o Parque Nacional de Brasília possui uma área de 42.389,01 hectares e abrange as regiões administrativas de Brasília, Sobradinho e Brazlândia e o município goiano de Padre Bernardo. A unidade de conservação surgiu da necessidade de proteger os rios que fornecem água potável à à capital federal e de manter a vegetação em estado natural. O último grande incêndio no Parque Nacional de Brasília foi registrado em 2022. Na ocasião, o fogo consumiu 7,7 mil hectares, o equivalente a 20% da área. As chamas chegaram perto do reservatório de Santa Maria, o segundo maior do Distrito Federal e que abastece o Plano Piloto, a área central de Brasília.
Terrorismo climático
No fim de semana, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o Brasil vive um terrorismo climático, com pessoas usando as altas temperaturas e a baixa umidade para atear fogo ao país, prejudicando a saúde das pessoas, a biodiversidade e destruindo as florestas. “Há uma proibição em todo o território nacional do uso do fogo, mas existem aqueles que estão fazendo um verdadeiro terrorismo climático”, afirmou em entrevista a veículos de comunicação do interior de São Paulo.
Ela ressaltou que é fundamental que todos os agentes públicos que já estão mobilizados continuem agindo, porque há uma intenção por trás dessas ações. Segundo a ministra, apenas dois estados não estão passando por seca. Ela defendeu pena mais rígida para quem comete esse tipo de crime. Atualmente a pena varia de um a quatro anos de prisão.
“Não é possível que, diante de uma das maiores secas de toda a história do nosso continente e do país, e com a proibição existente, que as pessoas continuem colocando fogo. Isso causa grande mal à saúde pública, ao meio ambiente, aos nossos sistemas produtivos e só agrava o problema da mudança do clima. Quando você tem uma situação em que sabe que colocar fogo é como se estivesse acionando um barril ou um paiol de pólvora, isso é uma intenção criminosa”, disse.
Marina lembrou que 17 pessoas já foram presas e há 50 inquéritos abertos. Para a ministra, é provável que haja pessoas por trás incentivando os crimes, o que pode ser descoberto com investigações e trabalho de inteligência da Polícia Federal (PF). Ela comparou ainda os incêndios criminosos com a tentativa de golpe no dia 8 de janeiro de 2023.
“Por isso é tão importante o trabalho da PF. É preciso continuar investigando com trabalho de inteligência combinado, porque é aí que vamos poder descobrir de onde vem essa motivação. Eu estou praticamente comparando o que está acontecendo ao dia 8 de janeiro. São pessoas atuando deliberadamente para criar o caos no Brasil, tocando fogo nas florestas e nas atividades produtivas das pessoas”.
A ministra ressaltou que o prejuízo em São Paulo já é de R$ 2 bilhões para os agricultores, principalmente os plantadores de cana-de-açúcar. Segundo ela, já são 900 mil hectares de áreas de agricultura e pecuária queimadas, 1,4 milhão de hectares em área de campo de pastagem e 1 milhão de hectares em áreas florestais.
“Uma floresta úmida não pega fogo, porque o fogo começa e a própria floresta consegue fazer com que se apague. Como já estamos vivendo os efeitos de mudança climática, provavelmente a floresta está perdendo umidade, como dizem os cientistas, e cerca de 32% dos incêndios estão sendo feitos intencionalmente para degradar a própria floresta”, analisou.
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