Descarbonizar o transporte para chegar num futuro mais limpo

Mudanças no setor responsável por cerca de 25% das emissões globais de carbono são fundamentais para conter aquecimento global

Por José Eduardo Mendonça | ODS 12ODS 13ODS 7 • Publicada em 5 de outubro de 2020 - 13:43 • Atualizada em 9 de outubro de 2020 - 10:55

Anel viário em Paris com painel indicando veículos que não podem circular pelo nível de emissões de carbono: classificação ambiental de veículo com base na emissão de poluentes é estratégia para conter aquecimento global (Foto: Alain Jocard/AFP)

As temperaturas globais sobem, levando a impactos fisicamente substanciais. Com isso, desastres como ondas de calor e enchentes crescem em frequência e severidade, junto com a elevação do nível do mar. Estes riscos da mudança do clima irão se traduzir em problemas socioeconômicos, desafiando líderes, legisladores e populações em todo o planeta. A questão é: como conter esta distopia?

Pode-se começar pelo transporte: as emissões do setor – principalmente transporte rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo – foram responsáveis por mais de 24% das emissões globais de CO2 em 2016, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA). E as pessoas viajam cada vez mais. A descarbonização do setor criaria um futuro mais limpo e saudável no futuro. E isto pode ser feito sem as interconexões que esperamos da modernidade.

O uso da energia para o transporte é a soma de aonde se vai e de como chegar lá. O consumo total do setor cresceu cerca de 34% nos primeiros 15 nos do século 21. As emissões totais aumentaram menos, em 31%, o que reflete avanços em eficiência.

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Padrões  de maior eficiência devem servir não apenas para automóveis mas também para veículos de carga pesada, como caminhões e ônibus. O transporte público pode queimar menos carbono do que veículos privados. O foco no caso tem sido nos investimentos em eletrificação, expansão das redes e outros serviços de locomoção. Ônibus elétricos, por exemplo, têm sido adotados na China e no Chile. Isso pode ser melhorado com planejamento urbano e com intensificação da utilização de bicicletas e adoção de caminhadas.

Como podemos atuar coletivamente?  Podemos fazer para começar um pequeno esforço. Basta dirigirmos anualmente 19%, ou cerca de 2.000 quilômetros por ano. Isto poderia causar um corte, apenas no caso dos Estados Unidos, de 110 milhões de toneladas métricas. É o mesmo que fechar 28 usinas a carvão por um ano. No mundo, existem cerca de 957 milhões de automóveis.

Em 2010 havia três modelos de carros elétricos. Hoje são mais de 40, com a entrada do mercado de empresas como Mercedes Benz, Jaguar e Audi, e versões mais baratas incluem Kia, Hyundai e Nissan. Em contrapartida, as viagens por aviões tiveram um aumento acentuado. Eles carregaram 4.3 bilhões de passageiros em 2018. E de acordo com a Comissão Europeia, suas emissões devem crescer entre 300% e 700% até 2050.

Um pequeno movimento – ainda pequeno mas expressivo – acontece na Europa e nos EUA. Ativistas jovens como a sueca Greta Thunberg  pregam a diminuição de riscos para a saúde e o meio ambiente e estão ajudando a aumentar a consciência dos danos criados pela indústria de aviação.  Cerca de 10 metros de gelo de verão do Ártico derretem a cada passageiro que voa quatro mil quilômetros. No mar, navios de cruzeiro emitem três ou quatro vezes mais carbono por passageiro que a aviação comercial.

Na Califórnia, um estado conhecido por seu pioneirismo na adoção de medidas contra o aquecimento global, o governador Gavin Newson recentemente publicou um decreto segundo o qual veículos de passageiros terão que ser zero carbono até 2035.  O decreto envia um sinal para as montadoras e intensifica a batalha com o presidente Trump, que tem feito o possível para jogar no lixo décadas de esforços de proteção do ambiente. Uma possível reeleição e a composição cada vez mais direitista da Suprema Corte terão efeitos catastróficos.

Metas adicionais envolvem zero emissão para veículos de médio e grande porte até 2045. No setor, são a favor do decreto Ford, Volkswagen. BMW e Honda; estão contra General Motors, Toyota, Fiat, Chrysler e diversas outras montadoras de menor porte. Pense nisso quando for comprar um carro.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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