Raio-X dos adoçantes: conheça cinco alternativas ao açúcar

Saiba mais sobre os diferentes tipos de edulcorantes e qual a medida certa do seu consumo para não causar danos à saúde

Por #Colabora | Conteúdo de marca • Publicada em 6 de setembro de 2017 - 17:19 • Atualizada em 6 de setembro de 2017 - 17:37

Adoçantes podem ser alternativas saudáveis para obter os benefícios de uma dieta equilibrada (Crédito: Stock Photos)
Adoçantes podem ser alternativas saudáveis para obter os benefícios de uma dieta equilibrada (Crédito: Stock Photos)
Adoçantes podem ser alternativas saudáveis para obter os benefícios de uma dieta equilibrada
(Crédito: Stock Photos)

Quando se trata de “adoçar a vida”, ou, especificamente, os alimentos e bebidas, costuma surgir uma dúvida: açúcar ou adoçantes? Muitos optam pelo uso de adoçantes, mas sem saber ao certo os efeitos desse ingrediente no organismo. Para obter os benefícios de uma dieta equilibrada e saudável, adoçantes de baixo teor calórico — assim como qualquer bebida ou alimento — podem ser alternativas saudáveis ao açúcar. Na medida certa, eles são seguros e, em muitos casos, recomendáveis.

Mas qual é essa medida? O limite diário de consumo de adoçantes é calculado de acordo com o peso (massa corporal) da pessoa. Quem define o nível de ingestão diária aceitável (o índice IDA) é um comitê científico que avalia a segurança de aditivos alimentares (JECFA) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Nessa conta, devem ser incluídos não só os adoçantes de mesa como também outros produtos dietéticos que contenham tais substâncias no seu preparo, como geleias, gelatinas, produtos de panificação e lácteos, balas, chocolates, bebidas etc. No Brasil, é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que estabelece a recomendação da quantidade a ser consumida diariamente desses edulcorantes em alimentos industrializados.

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É muito difícil ultrapassar os limites recomendados. Uma pessoa que pesa 60 quilos, por exemplo, pode consumir até 2.400 mg (180 envelopes) de aspartame, ou 420 gotas de stevia, segundo os cálculos da OMS. Os valores do índice IDA são definidos com rigor e consideram uma grande margem de segurança — uma dose de referência, que não causou efeito adverso nos organismos em teste, é dividida por cem, já considerando que excessos na ingestão de aditivos podem ocorrer. Ou seja, a IDA representa 1% da dose que não causou problema de saúde em cobaias.  

Combate à obesidade

Segundo a OMS, a obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A estimativa é que, em 2025, haja 700 milhões de obesos e 2,3 bilhões de pessoas com sobrepeso no planeta. No Brasil, levantamentos reunidos pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) indicam que mais de 50% da população está acima do peso ou é obesa. As crianças também são afetadas: 7,3% daquelas menores de 5 anos já apresentam sobrepeso. Entre as doenças desencadeadas ou agravadas pela obesidade estão diabetes tipo 2, hipertensão, apneia, hipertrofia ventricular (doença causada pelo aumento do músculo cardíaco) e depressão.

Nesse sentido, os adoçantes — hoje presentes em enorme gama de alimentos e bebidas — são considerados auxiliares na redução de peso e dos níveis sanguíneos de glicose, assim como no controle da diabetes. Além disso, são recomendados na prevenção de cáries dentárias.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), os adoçantes artificiais aprovados para uso no Brasil tiveram sua segurança comprovada e podem ser consumidos por toda a população, inclusive crianças e gestantes, como parte de uma dieta equilibrada e dentro dos valores de Ingestão Diária Aceitável (IDA) recomendados. Em nota, a SBAN afirma:

“Os adoçantes artificiais aprovados para uso no Brasil tiveram sua segurança comprovada e podem ser consumidos por toda população, inclusive crianças e gestantes, como parte de uma dieta equilibrada e dentro dos valores de Ingestão Diária Aceitável (IDA) recomendados. Entretanto, o consumo de qualquer aditivo alimentar, incluindo os adoçantes, não é indicado para bebês com menos de 12 semanas e para fenilcetonúricos, no caso do aspartame. Esses aditivos têm como função conferir sabor doce sem o aporte de calorias, e são indicados para diabéticos e para aqueles indivíduos que querem reduzir ou controlar o peso corpóreo.”

Advertências versus alarmismos

Com certa frequência, aparecem pesquisas sobre os riscos e os benefícios de diferentes dietas. Mas, nem sempre, a divulgação desses estudos é feita de forma equilibrada, considerando todas as questões levantadas nos artigos científicos. Muitas vezes, o mesmo ingrediente varia de “herói” a “vilão” de uma pesquisa para outra.

Mas, afinal, a partir das pesquisas conduzidas nas últimas décadas, o que se pode dizer sobre os adoçantes?

Assim como a OMS, a Food and Drug Administration (FDA), agência norte-americana que regula alimentos e medicamentos, reconhece como seguros para consumo cinco adoçantes artificiais — aspartame, sacarina, acesulfame de potássio, sucralose e neotame — e um natural — stevia. O órgão faz algumas restrições, entretanto, para mulheres grávidas, lactantes, crianças, pessoas com migrânea (dor de cabeça) e epilepsia, para as quais recomenda extrema cautela no uso.

Ao longo dos últimos anos, a FDA tem avaliado extensiva e criteriosamente os benefícios e possíveis riscos desses edulcorantes utilizados em vários países, inclusive no Brasil. Abaixo, estão listadas as principais conclusões da agência para cada produto.

Aspartame: Duzentas vezes mais doce que o açúcar, mas com baixo teor calórico, foi aprovado inicialmente em 1981 para utilização em chicletes e cereais matinais, entre outros produtos. Seu uso foi estendido a refrigerantes em 1983 e, a partir de 1996, foi liberado para bebidas e alimentos em geral. Antes da aprovação, a FDA analisou numerosos estudos que mostravam que o aspartame não causava câncer nem outros efeitos colaterais em animais de laboratório, mesmo em quantidades cem vezes superiores às recomendadas. Estudos posteriores que levantaram a suspeita de que o adoçante poderia causar câncer de cérebro, leucemia e linfoma exigiram uma reavaliação da agência reguladora. Entretanto, em 2006, baseando-se em mais de cem estudos clínicos e toxicológicos, a FDA declarou seu consumo seguro. Uma ressalva foi feita para os fenilcetonúricos, exigindo que os produtos contendo aspartame trouxessem uma advertência no rótulo. Tanto para a FDA como para a OMS (cujos valores são adotados pela Anvisa), o limite diário para consumo é de 40 mg/kg (48 gotas ou três de envelopes por quilo de peso). Ou seja: o limite diário para uma pessoa que pesa 60 quilos é de 2.880 gotas ou 180 envelopes.

Sacarina: De 200 a 700 vezes mais doce que o açúcar, não contém calorias. Foi descoberta em 1879 e considerada apta para o consumo até 1972, quando a FDA a retirou da lista de substâncias seguras, baseando-se em estudos em ratos que desenvolveram câncer de bexiga após consumirem a substância em altas doses. Em 1977, o órgão propôs o banimento do produto até que novas pesquisas fossem feitas. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, estudos posteriores mostraram que a sacarina não causa câncer em humanos e que o desenvolvimento de tumores em ratos está associado a um mecanismo irrelevante para as pessoas. Em 2000, o adoçante foi reabilitado: o Programa Nacional de Toxicologia da agência determinou que a sacarina saísse da lista dos agentes potencialmente cancerígenos. O limite diário para consumo é de 5 mg/kg (seis gotas ou 1/2 envelope por quilo de peso). Isso quer dizer que uma pessoa de 60 quilos poderia consumir, no máximo, 360 gotas de adoçante. Neste caso, os limites adotados no Brasil são ainda mais rigorosos: o valor aceitável cai à metade, ou seja, uma pessoa de 60kg poderia consumir cerca de 180 gotas de sacarina diariamente.

Acesulfame de potássio: Contém zero calorias e é 200 vezes mais doce que o açúcar. Aprovado inicialmente em 1988 para usos específicos, como em adoçantes de mesa, e, em 1998, para utilização em bebidas. Em dezembro de 2003, foi aprovado para adição em alimentos, menos em carnes e aves. Presente em sobremesas congeladas, produtos de panificação, guloseimas, bebidas, balas para tosse e expectorantes, seu consumo foi considerado seguro com base em mais de 90 estudos científicos. O limite diário para consumo tanto da FDA como da OMS (padrão adotado pela Anvisa) é de 15 mg/kg (18 gotas ou 1 e 1/2 envelope por quilo de peso). Ou seja, um limite de 90 envelopes ou 1.080 gotas para uma pessoa com 60 quilos.

Neotame: Dependendo de seu uso, é de 7 mil a 13 mil vezes mais doce que o açúcar e não contém calorias. Foi aprovado pela FDA em 2002 como adoçante de largo espectro. É usado em grande variedade de alimentos (gelatinas, geleias, produtos de panificação, guloseimas, bebidas, sucos de frutas etc.), menos em aves e carnes. A potencial liberação de fenilalanina é tão pequena que não é necessário incluir advertências nos rótulos dos produtos. Mais de 100 estudos em animais e humanos serviram de base para confirmar que não há efeitos colaterais do nectame nas doses usadas nos alimentos. O limite diário para consumo – tanto da FDA quanto da OMS – é de 2 mg/kg (2,4 gotas ou ¼ de envelope por quilo de peso). Ou seja, um limite de 144 gotas para uma pessoa que pesa 60 quilos.

Sucralose: Não contém calorias e é, em média, 600 vezes mais doce que o açúcar. Embora a sucralose seja feita a partir da sacarose (o açúcar de mesa), não contém calorias porque não é digerida pelo organismo. Após a revisão de mais de 110 estudos em animais e humanos, a FDA aprovou seu uso em 1998 para 15 tipos de alimentos. No ano seguinte, a aprovação foi estendida para todos os alimentos. Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e publicado no periódico de acesso livre Scientific Reports em abril de 2015 concluiu que, quando aquecida, a sucralose se torna quimicamente instável, liberando compostos tóxicos — os chamados HPACs (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos clorados) — com efeito cumulativo e potencialmente cancerígeno para o organismo. Quando não decomposta, entretanto, a sucralose é inofensiva e isenta de riscos ao organismo. Para FDA, o limite diário para consumo é de 5 mg/kg (6 gotas ou 1/2 envelope por quilo de peso). Uma pessoa de 60 quilos, então, teria um limite diário recomendado de 360 gotas ou 30 envelopes. A OMS, cujos valores são adotados no Brasil, aceita três vezes maiores (15mg/kg de peso). Ou seja: uma pessoa de 60kg poderia consumir até 1.080 gotas num dia.

Stevia: Feito a partir de uma planta, é 200 vezes mais doce que o açúcar e tem baixo teor calórico. A stevia contém glicosídeos de esteviol, que são usados para adoçar e considerados seguros para uso em alimentos. A FDA, no entanto, não recomenda o uso da folha da planta in natura nem os extratos da mesma para alimentação. O limite diário, o mesmo para FDA e OMS,  para consumo é de 5,5 mg/kg (7 gotas ou 1/2 envelope por quilo de peso). Ou seja, uma pessoa com 60 quilos tem o limite diário para consumo de 420 gotas ou 30 envelopes.

Ciclamato de sódio: Sem calorias, é 30 a 40 vezes mais doce que o açúcar. Foi aprovado para uso como adoçante pela FDA em 1949, mas proibido em 1970 a partir de estudos que sugeriam o aparecimento de tumores de bexiga em ratos. Pesquisas posteriores concluíram, em 1985, que o ciclamato não era carcinogênico. Entretanto, algumas evidências apontaram que, quando usada em associação com a sacarina, a substância podia aumentar o risco de câncer de bexiga. Estudo feito pelo Instituto Nacional de Câncer dos EUA, que avaliou, durante 17 anos, a ingestão por macacos de quantidades diárias (cinco vezes por semana) de ciclamato equivalentes àquelas constantes em 30 latas de refrigerante dietético, revelou que nenhum dos animais contraiu câncer de bexiga. Seu uso é considerado seguro pela GSFA (Norma Geral de Aditivos Alimentares), pela União Europeia e pela Anvisa. O limite diário para consumo é de 11 mg/kg (12 gotas ou um envelope por quilo de peso). Uma pessoa com 60 quilos, então, teria o limite diário para consumo de 720 gotas ou 60 envelopes.

Limitações

Especialistas em alimentos apontam algumas limitações dos adoçantes artificiais: trata-se de produtos sem valor nutricional; não saciam a vontade de consumo de doces; não devem ser consumidos na gestação.

Entre os riscos levantados por diferentes estudos para o consumo de adoçantes em altas doses – acima do permitido pelas agências reguladoras – destacam-se o desenvolvimento de câncer; o surgimento de sintomas gastrointestinais; o agravamento da diabetes e o aumento de peso em alguns casos; a hipertrigliceridemia (aumento dos níveis de triglicerídeos no sangue) e perda de massa óssea (osteoporose).

Em artigo publicado na revista Food Ingredients Brasil, em 2008, a endocrinologista e nutróloga Ellen Simone Paiva, diretora do Centro Integrado de Terapia Nutricional (Citen), informa que não existem adoçantes melhores ou piores e que a escolha de cada produto depende das preferências individuais: “De uma maneira geral, todos os adoçantes são praticamente isentos de calorias, têm um poder adoçante muito superior ao do açúcar e, desde que usados dentro das recomendações, não fazem mal à saúde”, explica no artigo. No texto, Paiva sugere que as pessoas que usam adoçantes regularmente devem apenas observar as recomendações para não consumi-los em excesso, embora “ultrapassar esses limites seja pouco provável”.

#Colabora

Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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