ODS 1
O mundo está mais triste
Pesquisa feita em 147 países com mais de 154 mil pessoas mostra que nível de felicidade é o mais baixo em dez anos
Tempos bicudos, ou assim parece, se levarmos em conta um índice mundial levantado a partir de pesquisa realizada pelo instituto Gallup, Global Emotions Report, e publicada este mês de setembro. Segundo ela, aumenta o número de pessoas que se dizem ansiosas ou estressadas. A República Central Africana (RCA), envolta em conflitos, é a nação mais triste do mundo, seguida do Iraque.
[g1_quote author_name=”Mohamed Younis” author_description=”Editor-Chefe do relatório” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Coletivamente, o mundo está mais estressado, preocupado, triste ou em dor, hoje do que vimos anteriormente
[/g1_quote]A parte do relatório onde figuram os piores desempenhos é o Índice de Experiência Negativa, uma medida de como os pesquisados experimentaram sensações de preocupação, estresse, triste, raiva ou dor no dia anterior à entrevista. Quase 40 por cento dos adultos disseram ter passado por ansiedade ou estresse, enquanto 31 por cento disseram que sentiram dor física, 23 por cento tristeza e 20 por cento, raiva. A nota final foi de 30, contra 28 de 2016, e bem acima dos 23 de 2007.
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Veja o que já enviamos“Coletivamente, o mundo está mais estressado, preocupado, triste ou em dor, hoje do que vimos anteriormente”, afirmou o editor-chefe do relatório, Mohamed Younis. “Na RCA e em alguns outros lugares grandes percentagens da população lutam para conseguir apenas o básico”, diz a principal autora do estudo, Julie Rays. A África Subsaariana, como região, lidera o ranking, com 24 dos 35 países que tiveram os índices mais baixos em 2017, em muitos casos por conflitos que destroem seus sistemas de saúde e levam o povo à fome.
Os países ricos não estão imunes à queda. Cerca de metade dos americanos entrevistados disseram se sentir estressados, quase a mesma proporção da RCA. O economista Jan-Emmanuel De Neve, professor em Oxford e especialista na economia da felicidade, afirmou ser “perturbador” ver o humor global despencar em meio a um pano de fundo de aumento da riqueza e progresso material. “Provavelmente, há um indicador estrutural no fato de o aumento da riqueza não ser inclusivo o bastante”, afirmou.
O Paraguai ficou no topo da lista dos países mais positivos, nos quais os residentes foram perguntados se se sentiam bem, descansados, tratados com respeito, felizes consigo mesmos e se tinham aprendido alguma coisa no dia anterior. No fim da lista figuram Iêmen e Afeganistão.
Para a elaboração do Índice de Experiência Positiva, foram as seguintes as perguntas, todas relativas ao dia anterior da entrevista: Você se sentiu bem descansado? Foi tratado com respeito o dia todo? Sorriu ou riu muito? Aprendeu alguma coisa interessante? Se divertiu?
Já para o Índice de Experiência Negativa, as perguntas foram estas: Você experimentou dor física? Se preocupou? Ficou triste? Sentiu-se estressado? Com raiva?
Assim como nas edições anteriores, diz o relatório, a América Latina mostra ser a região mais feliz do mundo, “o que em parte reflete a tendência cultural local de se focar nas coisas positivas da vida”. Os únicos países, fora desta região, com melhores notas são Canadá, Islândia, Indonésia e Uzbequistâo. O trabalho divulgado não menciona o Brasil tanto na categoria positiva quanto na negativa.
Baseados na pesquisa do Gallup, psicólogos da Universdidade de Purdue, nos EUA, elaboraram um estudo segundo o qual, em todo mundo o dinheiro pode comprar felicidade, mas há limites para isso. Existe um “ponto de satisfação”, no qual a renda maior não gera mais felicidade. O ponto depende de onde as pessoas vivem, mas globalmente ele ocorre em lares com renda anual de US$ 60 mil no caso de emoções positivas, e US$ 75 mil em negativas. A sugestão é que custos associados com rendas mais altas, como maior demanda de tempo, horários de trabalhos mais longos e maior responsabilidade podem levar a estas reduções.
Grande parte das discussões sobre desigualdade de renda centra-se nos problemas dos muito pobres ou nas suas implicações socioeconômicas mais amplas. O que se sabia menos é que a desigualdade torna a vida de todos nós menos feliz, mesmo que estejamos relativamente bem de dinheiro. E quanto mais renda estiver concentrada nas mãos de poucos, mais provável que indivíduos relatem níveis mais baixos de satisfação com a vida e mais emoções negativas em seus cotidianos.
Um estudo paralelo feito por De Neve com a Universidade de Cornell, nos EUA, cita dados da organização humanitária Oxfam, que afirma que os 62 bilionários mais ricos do mundo têm a mesma quantidade de riqueza que 3.6 bilhões de pessoas – a metade mais pobre da população mundial. E, segue o estudo, “apesar da preocupação crescente com as implicações econômicas e sociais da riqueza entre a elite, continuamos a saber pouco sobre como a maior concentração de riqueza do 1 por cento influencia o bem-estar dos outros 99 por cento”
Uma coisa, no entanto, ficou clara: “Há um lembrete gritante dizendo que se não se trata apenas de quanto você tem, ou quanto tem o 1 por cento. Com este grau de acumulação, algumas coisas, como a casa própria, começam a ficar fora do alcance, mesmo que você seja um membro da classe média”. Além disso, podem haver razões psicológicas na correlação entre as rendas mais baixas e o decréscimo na média do bem-estar: um aumento na renda do 1 por cento faz com que sintamos que as chances de melhorarmos de vida são cada vez mais impossíveis.
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Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.
É muito importante a divulgação dessas informações e dados sobre as desigualdades econômicas e sociais, além da falta de informação a o sonho da meritocracia.
Claudia Lessa