Energias renováveis: Brasil é destaque em relatório global

País é um dos líderes mundiais em custo de geração de energia eólica e solar. “A transição energética é imparável", disse o secretário-geral da ONU

Por Oscar Valporto | ODS 7
Publicada em 22 de julho de 2025 - 10:02  -  Atualizada em 22 de julho de 2025 - 11:36
Tempo de leitura: 9 min

Parque eólico na Paraíba: Brasil é destaque com baixo custo na produção de energia renovável (Foto: Ricardo Stuckert / PR /Agência Brasil – 22/03/2023)

As fontes renováveis mantêm sua liderança em termos de custo nos mercados globais de energia, de acordo com novo relatório da Irena (International Renewable Energy Agency – Agência Internacional de Energia Renováveis) ,divulgado, nesta terça (22/07) em parceria com a ONU. Em 2024, a energia solar fotovoltaica (PV) foi, em média, 41% mais barata do que a alternativa fóssil de menor custo, enquanto os projetos de energia eólica onshore foram 53% mais baratos. A energia eólica onshore permaneceu como a fonte mais acessível de nova eletricidade renovável, a USD 0,034/kWh, seguida pela solar fotovoltaica a USD 0,043/kWh.

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O Brasil aparece com destaque no relatório ‘Custos de Geração de Energia Renovável em 2024’ – apontado como o quarto maior mercado global em adições de capacidade renovável no último ano, atrás apenas de China, Estados Unidos e União Europeia. O país manteve posição de destaque nos custos mais baixos do mundo, com energia eólica onshore a USD 30/MWh — patamar semelhante ao da China — e solar fotovoltaica a USD 48/MWh.

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Embora a energia hidrelétrica ainda forneça mais de 50% da eletricidade nacional, o crescimento acelerado da solar e da eólica indica um processo de diversificação robusto. De acordo com o relatório da Irena, esse avanço do Brasil tem sido sustentado por esquemas estáveis de contratação, como leilões públicos com PPAs indexados, que reduzem riscos financeiros e impulsionam o acesso a capital.

O estudo confirma que as renováveis mantiveram sua vantagem de preço em relação aos combustíveis fósseis, com reduções de custo impulsionadas por inovações tecnológicas, cadeias de suprimentos competitivas e economias de escala. “Energia limpa é economia inteligente – e o mundo está seguindo o dinheiro. As renováveis estão em ascensão, a era dos combustíveis fósseis está desmoronando, mas os líderes devem remover barreiras, construir confiança e liberar financiamento e investimentos. As renováveis estão iluminando o caminho para um mundo com energia acessível, abundante e segura para todos”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Em um discurso especial na sede da ONU em Nova York, Guterres citou o aumento do investimento em energia limpa e a queda dos custos da energia solar e eólica, que agora superam os combustíveis fósseis. “A transição energética é imparável. Mas a transição ainda não é rápida ou justa o suficiente”, disse.

O discurso, “Um Momento de Oportunidade: Turbinando a Era da Energia Limpa”, uma continuação do “Momento da Verdade” do ano passado, foi proferido juntamente com um novo relatório técnico da ONU, com base em órgãos globais de energia e finanças. “Basta seguir o dinheiro”, acrescentou Guterres, observando que US$ 2 trilhões foram investidos em energia limpa no ano passado – US$ 800 bilhões a mais do que os combustíveis fósseis e um aumento de quase 70% em uma década.

Guterres citou o relatório da Irena, com a redução dos custos das energias renováveis. Ele ressaltou que um futuro de energia limpa “não é mais uma promessa – é um fato”. Nenhum governo, nenhuma indústria e nenhum interesse especial pode impedi-lo. “É claro que o lobby dos combustíveis fósseis tentará – e sabemos até onde eles irão. Mas nunca estive tão confiante de que eles falharão – porque já passamos do ponto sem retorno”, enfatizou o secretário-geral da ONU.

Painéis solares de usina na Paraíba: novo relatório aponta que a energia solar fotovoltaica foi, em média, 41% mais barata do que a alternativa fóssil de menor custo, enquanto os projetos de energia eólica onshore foram 53% mais baratos (Foto: Alan Santos /PR / Agência Brasil - 17/09/2020)
Painéis solares de usina na Paraíba: novo relatório aponta que a energia solar fotovoltaica foi, em média, 41% mais barata do que a alternativa fóssil de menor custo, enquanto os projetos de energia eólica onshore foram 53% mais baratos (Foto: Alan Santos /PR / Agência Brasil – 17/09/2020)

Fontes renováveis cada vez mais competitivas

A adição de 582 gigawatts em capacidade renovável em 2024 gerou economias significativas de custo, evitando o uso de combustíveis fósseis avaliados em aproximadamente USD 57 bilhões. Notavelmente, 91% dos novos projetos de geração renovável comissionados no último ano foram mais custo-efetivos do que qualquer alternativa fóssil nova.

As fontes renováveis não são apenas competitivas em custo frente aos combustíveis fósseis, mas também oferecem vantagens por limitar a dependência de mercados internacionais de combustíveis e melhorar a segurança energética. “A competitividade de custo das renováveis é uma realidade atual. Considerando todas as fontes renováveis atualmente em operação, os custos evitados com combustíveis fósseis em 2024 chegaram a até USD 467 bilhões. A nova geração renovável supera os combustíveis fósseis em custo, oferecendo um caminho claro para energia acessível, segura e sustentável. Essa conquista é fruto de anos de inovação, diretrizes políticas e mercados em expansão”, destacou o diretor-geral da Irena, o italiano Francesco La Camera.

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Para o executivo da agência, a viabilidade econômica das energias renováveis é hoje mais forte do que nunca. Ele lembrou, contudo, que, embora reduções contínuas de custo sejam esperadas à medida que as tecnologias amadurecem e as cadeias de suprimento se fortalecem, desafios de curto prazo permanecem. “Esse progresso não está garantido. Tensões geopolíticas, tarifas comerciais e restrições no fornecimento de materiais ameaçam desacelerar o ritmo e elevar os custos”, acrescentou La Camera.

O relatório cita tarifas comerciais, gargalos de matérias-primas e dinâmicas industriais em evolução — especialmente na China — como riscos que podem elevar temporariamente os custos. Na avaliação dos autores, regiões como Ásia, África e América do Sul, com altas taxas de aprendizado e grande potencial renovável, podem experimentar quedas acentuadas nos custos. Entretanto, custos mais altos devem persistir na Europa e América do Norte, impulsionados por desafios estruturais como atrasos em licenciamento, capacidade limitada da rede e maiores despesas de equilíbrio do sistema.

No caso do Brasil, a flexibilidade da rede e os sistemas de armazenamento ainda estão em desenvolvimento e serão cruciais para sustentar a expansão das renováveis variáveis. O sucesso também dependerá da capacidade de manter estruturas regulatórias claras, com mecanismos de contratação confiáveis e ambientes de investimento previsíveis — essenciais para atrair capital global.

Custo de baterias

O relatório da Irena de 2024 também explora os fatores estruturais de custo e as condições de mercado que moldam o investimento em energias renováveis, concluindo que “marcos regulatórios de receita estáveis e previsíveis são essenciais para reduzir o risco de investimento e atrair capital”.

O documento também aponta que mitigar o risco de financiamento é decisivo para escalar as renováveis tanto em mercados maduros quanto emergentes. Instrumentos como contratos de compra de energia (PPAs) desempenham papel fundamental no acesso a financiamento acessível, enquanto ambientes políticos inconsistentes e processos de contratação opacos minam a confiança dos investidores.

Em particular, os custos de integração surgem como uma nova limitação para a implantação de renováveis. Cada vez mais, projetos de vento e solar enfrentam atrasos devido a gargalos de conexão à rede, licenciamento lento e cadeias de suprimento locais onerosas. Isso é especialmente agudo nos países do G20 e em mercados emergentes, onde o investimento em redes precisa acompanhar a crescente demanda elétrica e a expansão das renováveis.

Além disso, os custos de financiamento permanecem como fator decisivo na viabilidade dos projetos. Em muitos países em desenvolvimento do Sul Global, os altos custos de capital – influenciados por condições macroeconômicas e riscos percebidos de investimento – elevam significativamente o Custo Nivelado de Energia (LCOE) das fontes renováveis. “Para proteger os ganhos da transição energética, precisamos reforçar a cooperação internacional, garantir cadeias de suprimento abertas e resilientes e criar marcos estáveis de políticas e investimentos — especialmente no Sul Global. A transição para as renováveis é irreversível, mas seu ritmo e sua justiça dependem das escolhas que fazemos hoje”, afirmou o diretor-geral da Irena.

Por exemplo, a agência constatou que, embora os custos de geração da energia eólica onshore fossem semelhantes na Europa e na África — cerca de USD 0,052/kWh em 2024 — as estruturas de custo variavam significativamente. Projetos europeus foram orientados por despesas de capital, enquanto os africanos enfrentaram uma proporção muito maior de custos financeiros. A taxa de custo de capital considerada pela IRENA variou de 3,8% na Europa a 12% na África, refletindo perfis de risco percebidos distintos.

O relatório conclui que os avanços tecnológicos, além da geração, também estão melhorando a viabilidade econômica das renováveis. O custo dos sistemas de armazenamento de energia por bateria (BESS) caiu 93% desde 2010, atingindo USD 192/kWh para sistemas em escala de utilidade pública em 2024. Essa redução é atribuída à ampliação da produção, melhorias nos materiais e técnicas de produção otimizadas.

O armazenamento por baterias, os sistemas híbridos — combinando solar, eólica e BESS —, bem como tecnologias digitais, são cada vez mais essenciais para integrar energia renovável variável. Ferramentas digitais com inteligência artificial (IA) estão aprimorando o desempenho dos ativos e a capacidade de resposta da rede. No entanto, infraestrutura digital, flexibilidade, expansão e modernização das redes continuam sendo desafios prementes, inclusive em mercados emergentes, onde o potencial pleno das renováveis não pode ser alcançado sem mais investimentos.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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