5 razões para entender a importância de Judith Butler

Expoente da Teoria Queer, filósofa defende que gêneros são construções sociais

Por Adriana Barsotti | ODS 1ODS 5 • Publicada em 30 de outubro de 2017 - 09:48 • Atualizada em 3 de janeiro de 2019 - 18:38

A construção social que faz meninas usarem rosa e meninos, azul (Foto: Patrick Pleul/dpa)
A construção social que faz meninas usarem rosa e meninos, azul (Foto: Patrick Pleul/dpa)
A construção social que faz meninas usarem rosa e meninos, azul (Foto: Patrick Pleul/dpa)

A filósofa e professora da Universidade da Califórnia Judith Butler foi atacada por grupos conservadores quando esteve no Brasil para dar palestra no seminário “Os Fins da Democracia / The Ends Of Democracy”, no Sesc Pompeia, em São Paulo, em 2017. Na ocasião, foi organizado até um abaixo-assinado pedindo o cancelamento de sua vinda ao Brasil. Quem provoca tamanha ira? Embora o tema do debate, na ocasião, tenha sido político, Butler despertou a raiva por ser uma das “propagadoras da ideologia de gênero”.  Veja abaixo cinco motivos que justificam a importância da filósofa e as questões de gênero:

1. Ela é uma das pensadoras da Teoria Queer. Para a teoria, ninguém nasce “homem” ou “mulher”, mas aprende a desempenhar esses papeis. Ou seja, a teoria sustenta que os gêneros são socialmente construídos.  Ela começou a se consolidar nos anos 1990, com a publicação do livro “Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade”, de Judith Butler. Para a pensadora, haveria “tecnologias de gênero”, ou seja, técnicas que determinam como um indivíduo vai viver em sociedade segundo normas específicas de “ser homem” ou “ser mulher”, reforçando o binarismo. Butler, ao contrário, acredita que a identidade deve ser vista como livre e flexível. Resulta daí sua crítica ao feminismo (item 3 da lista)

2. Ela contribuiu para dar visibilidade ao termo queer. Mas, afinal, o que é queer? A palavra teria se originado no século XVI, segundo o dicionário Oxford  Mas seu uso relacionado ao homossexualismo remete ao século XIX, quando passou a ser usada de forma pejorativa. Por volta de 1980, entretanto, a comunidade gay passou a usá-la deliberadamente para dela se apropriar e reverter seu sentido negativo. (Uma curiosidade: nas histórias de Sherlock Holmes, havia uma rua imaginária chamada Queer Street, onde viviam as pessoas com dificuldade, especialmente financeiras.  Outra curiosidade: o primeiro ilustre a ser chamado de queer teria sido Oscar Wilde, preso em 1895, por “atos indecentes”. Um pedaço do teto da cela onde ficou preso virou parte da exposição Queer British Art, este ano, na Tate Britain, em Londres). Com a obra de Butler, o termo ganhou visibilidade acadêmica

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Judith Butler: críticas construtivas ao movimento feminista /Foto: European Graduate School

3. Ela desconstruiu o feminismo, contribuindo para a sua renovação. Um dos problemas do feminismo, para Judith Butler, estaria na construção da categoria “mulheres”. Para a pensadora, a identidade não deve ser pensada no singular, mas, sim, no plural. Por isso, ela também considera limitadas as categorias “homossexual” e “heterossexual”. Tais categorias resultariam em regulação e exclusão social. Outro problema seria a visão do movimento feminista de que o sexo seria um fator biológico e o gênero, cultural.  Para Butler, tanto o sexo quanto o gênero são culturalmente construídos por um discurso regulador. Para ela, a suposta obviedade do sexo como natural e biológico atesta o quanto ela está enraizada no discurso

4. Ela milita em movimentos feministas, anti-bélicos e gays.  Apesar de apontar para o problema da divisão sexo/gênero do movimento feminista e da redução da pluralidade de mulheres à categoria “mulher”, Butler reconhece a importância dos movimentos em prol das minorias para a luta política na atualidade e se assume como feminista. Ela já fez parte do International Gay and Lesbian Human Rights Comission, participou do Occupy Wall Street, apoia o casamento gay, ações afirmativas e se manifestou contra as guerras do Iraque e do Afeganistão

5. Ela é contra a política de Israel para a Palestina. Mesmo tendo ascendência judia, Butler combate abertamente a política israelense na Palestina e afirma que Israel não representa todos os judeus tampouco a opinião de todos. Quando recebeu, em 2012, o prêmio Adorno – em homenagem ao teórico de origem judaica da Escola de Frankfurt , enfrentou protestos da comunidade judaica na Alemanha e até do embaixador de Israel

Adriana Barsotti

É jornalista com experiência nas redações de O Estado de S.Paulo, IstoÉ e O Globo, onde ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo com a série de reportagens “A história secreta da Guerrilha do Araguaia”. Pelo #Colabora, foi vencedora do Prêmio Vladimir Herzog, em 2019, na categoria multimídia, com a série "Sem Direitos: o rosto da exclusão social no Brasil", em um pool jornalístico com a Amazônia Real e a Ponte Jornalismo. Professora Adjunta do Instituto de Arte e Comunicação Social (Iacs), na Universidade Federal Fluminense (UFF), é autora dos livros “Jornalista em mutação: do cão de guarda ao mobilizador de audiência” e "Uma história da primeira página: do grito no papel ao silêncio no jornalismo em rede". É colaboradora no #Colabora e acredita (muito!) no futuro da profissão.

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15 comentários “5 razões para entender a importância de Judith Butler

  1. Simone Villas Boas disse:

    Matéria super oportuna, mas me incomoda falar em teoria queer no singular. Existem diversos autores com visões contraditórias. Inclusive Judith Butler é muito criticada por certos autores. Dito isso, o debate é fundamental numa sociedade democrática e que preza o conhecimento!

  2. bruni disse:

    Esta claro que esta Judith não aprendeu nada sobre ser mulher, ser judia ou sobre encontrar seu lugar no mundo. Basta olharmos para sua figura da pra entender o porquê da dificuldade. Mas ela se recusa a aceitar que tem dficuldades, compreensivel, e prefere questionar o resto do mundo. Ô geração de fracassado-rejeitados, quanto ódio, hem? E ainda prestam atenção nisso.

  3. Paulo disse:

    Confundir biologia com o papel social do individuo.
    Só existem dois generos masculino e feminino
    Freud tenta explicar a confusao do papel na siciedadede de individuos inconformados por possuir ou não o falo.

  4. Levi Acioli disse:

    O chamado estudo de gênero (Ideologia de Gênero), com a sua teoria absurda de que as crianças não são nem meninos nem meninas exerce uma lavagem cerebral nas mentes infantis, é uma agressão, um abuso sexual psicológico para com as crianças. Um palestrante, defensor da Teoria de Gênero afirmou em palestra para os alunos do colégio Pedro II que as inscrições nas portas dos banheiros indicando BANHEIROS DE MENINOS E BANHEIROS DE MENINAS é uma insinuação homofóbica. Vejam que absurdo, a Heterosexualidade, agora é para eles homofobia, pois é uma coisa errada dividir os generos sexuais em masculino e femininino, todo mundo tem que ser agora transexual. Isso é uma síndrome da HETERFOBIA. Se a homofobia é crime, a HETEROFOBIA, TAMBEM NÃO DEVERIA SER, NUM PAIS DEMOCRÁTICO E JUSTO? Na Alemenha um casal foi preso porque apoiou a sua filhinha de 5 anos que não queria mais assistir filmes pornográficos na escola, a título de “educação sexual”, depois uma coleguinha dela desmaiou na sala de aula. No Reino Unido aumentou em um mil por cento (1.000%) o número de crianças apresentando Transtorno de Identidade de Gênero (T.I.G.), depois que começaram a assistir estas aulas impostas pelo governo. O nosso governo está tentando obrigar as escolas a utilizar a cartilha da teoria de gênero.
    Vídeo LAVAGEM CEREBRAL
    https://www.youtube.com/watch?v=G0J9KZVB9FM&list=PLgMCMsUi8TgyqPT6EL4bXn5TcGUuCVZiU

  5. Lúnia disse:

    É complexa essa definição de gênero construído socialmente. Acredito que as opções sexuais se pluralizem por influências externas e internas, talvez genéticas, mas o gênero permanece fundamentalmente sendo dual. As tentativas de definição como construção social, são justificativas inconsistentes das causas do preconceito.

  6. Carla Fernanda disse:

    EM SUA TERCEIRA JUSTIFICATIVA, “Ela desconstrui o feminismo, contribuindo para sua renovação”, um dos problemas do feminismo, nos que diz ela, estaria na construção da categoria “mulheres”. Ao analizar seus pensamentos, foge totalmente da ordem natural das coisas – “nascemos homens e mulheres”, existe apenas dois gêneros desde o princípio, eu não sou uma categoria feminina, sou uma mulher do gênero feminino. Judith Butler luta contra sua propria naturesa e contra seu proprio gênero, tem uma mente confusa, pessoas como ela tenta levar esses pensamentos torpes para o mundo. Não podemos deixar esses movimentos chegarem em nosso país, onde tirará toda a pureza das crianças, não devemos forçá-las, deixem que elas façam suas escolhas quando adultas, pesam comigo, porque esses pensadores não levam isso para as universidades? porquê eles são adultos e tem suas proprias opniões, e as crianças são puras e podem ser induzudas a esses tipos de ideologias.

  7. Edgar Cavaleiro disse:

    Ou seja, uma pessoa má, que será recordada pelos piores motivos. Tristes tempos em que só aparecem loucos a escrever fantasias destrutivas, e hordas de ingénuos a seguir acefalamente.
    Mas o tempo limpará isto tudo. A Biologia, que ela (e tantas outras feministas) odeia acabará por prevalecer. A seleção natural continua a atuar.

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