ODS 1
Zika causa problemas motores e de memória em adultos
Pesquisadores da UFRJ descobrem que, além de afetar bebês, vírus provoca complicações neurológicas também nos adultos
Pesquisadores da UFRJ identificaram a forma como o Zika vírus afeta o tecido cerebral de adultos e quais os seus efeitos. Em artigo publicado nesta quinta feira (5/9) na revista científica Nature Communications, eles explicam que, diferente do que se acreditava anteriormente, o vírus continua sendo replicado após a infecção e produz novas partículas virais que podem infectar outras células, principalmente as neuronais, causando distúrbios neurológicos.
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Veja o que já enviamosPouco depois da epidemia de Zika, nos anos de 2015 e 2016, descobriu-se que, mais do que sintomas incômodos, o vírus também poderia gerar complicações graves como a microcefalia em bebês – uma má formação congênita que afeta o tamanho da caixa craniana e o desenvolvimento cerebral – quando a mãe era afetada durante a gestação. A encefalite, inflamação no cérebro, e a encefalomielite, inflamação do cérebro e da medula espinhal, também podem ser desencadeadas por causa do vírus, assim como a Síndrome de Guillain Barré, doença autoimune em que o próprio sistema imunológico do paciente passa a reagir contra os nervos periféricos causando dor e fraqueza muscular.
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Mas o Zika vírus vai além: pode acarretar também problemas motores, de memória e confusão mental. Problemas graves, porém pouco difundidos. A primeira autora do trabalho, Fernanda Barros, doutoranda em Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), da UFRJ, explica que a análise foi realizada através de infecção in vitro de um tecido cerebral humano adulto, além disso, foi inoculado o Zika vírus diretamente no cérebro de camundongos. “Os problemas de memória nos camundongos duraram até um mês, sendo que o pico da replicação do vírus era de seis dias. Então, em um mês havia uma carga viral muito baixa e eles continuavam com problemas de memória. Devemos pensar que o camundongo vive bem menos que a gente; tudo é mais acelerado já que vivem cerca de 2 anos. Então 1 mês na vida de um camundongo é muita coisa”, explica a pesquisadora.
Os prejuízos neurológicos, entretanto, não são causados pela própria infecção, mas de forma indireta. Os fatores inflamatórios causados pela infecção ativam a micróglia, célula do sistema imunológico que fica no cérebro. “Quando ativada, a micróglia, literalmente, come as sinapses que é a região por onde os neurônios se comunicam um com o outro. Quando ela come essas sinapses, os neurônios não conseguem se comunicar um com o outro e causa os prejuízos de memória e controle motor”, afirma Fernanda Barros, parte da equipe multidisciplinar que desenvolveu a pesquisa, financiada pela Rede de Pesquisa em Zika, Chikungunya e Dengue no Estado do Rio de Janeiro, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
De acordo com os pesquisadores, há medicamentos que podem ajudar os pacientes, impedindo a ativação da micróglia e, assim, evitando os problemas neurológicos causados pelo Zika vírus como o anti-inflamatório Infliximabe – um anticorpo monoclonal (biofármaco) usado para tratamentos de doenças como artrite reumatoide, doença de Crohn – que bloqueia o TNF-alfa (Fatores de Necrose Tumoral Alfa), um mediador pró inflamatório; e o antibiótico Cloridrato de Minociclina. Os dois tratamentos, de formas independentes, tiveram resultados positivos, impedindo que os animais infectados tivessem prejuízos de memória. Entretanto, segunda a pesquisadora, ainda são necessários mais testes pré-clínicos para confirmar os resultados e iniciar a terapia em humanos infectados. “Essa é uma questão igualmente severa e importante, mas que foi negligenciada. A microcefalia em bebês foi bastante noticiada, as disfunções neurológicas em adultos, não. Esse trabalho chama atenção para isso, precisamos investigar melhor o que acontece com o adulto”, afirma Fernanda Barros.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”none” size=”s” style=”solid” template=”01″]A série #100diasdebalbúrdiafederal terminou, mas o #Colabora vai continuar publicando reportagens para deixar sempre bem claro que pesquisa não é balbúrdia.
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Formada em Letras/Literaturas pela Universidade Federal Fluminense, carioca que não vai à praia, mas vive na floresta e na selva da cidade. Cursando graduação em Jornalismo na UFRJ. Acredita que a leitura e o diálogo transformam o mundo.