Universidade investe em transparência

UFSC cria sistema que atualiza semanalmente as informações sobre o destino dos recursos públicos

Por Agostinho Vieira | ODS 4ODS 9 • Publicada em 27 de junho de 2019 - 08:16 • Atualizada em 27 de junho de 2019 - 14:19

Centro de convivência da Federal de Santa Catarina. Foto Henrique Almeida/Divulgação
Centro de convivência da Federal de Santa Catarina. Foto Henrique Almeida/Divulgação

Há quase dois anos, em setembro de 2017, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ganhou as manchetes dos principais jornais do país. Uma operação da Polícia Federal prendera sete funcionários acusados de supostas irregularidades em cursos de ensino a distância. Entre eles, o reitor Luiz Carlos Concellier de Olivo, que teria ignorado as denúncias e tentado atrapalhar as investigações feitas pela corregedoria. Daí o nome da operação: “Ouvidos Moucos”. No dia seguinte, todos foram soltos, mas Concellier foi proibido de entrar na universidade. Após 18 dias, novas manchetes: o reitor cometera suicídio ao se jogar do quinto andar de um shopping de Florianópolis.

São muitos os exemplos de boas práticas nas diversas esferas da administração pública. Seria injusto dizer que somos melhores ou referência de alguma coisa. Procuramos trabalhar coletivamente, aprimorando o que fazemos e buscando sempre inovar

Passado todo esse tempo, o Ministério Público Federal, em Santa Catarina, não decidiu se denuncia os acusados, se arquiva o caso ou se pede novas investigações à polícia. Até o momento não há culpados, nem inocentes. Ficaram as suspeitas e os traumas. Hoje, sem alarde e sem manchetes, a UFSC se transformou em exemplo de transparência no uso do dinheiro público. Um Quadro de Indicadores e Agenda na área de Licitações, criado internamente, permite que qualquer cidadão, em qualquer parte do país, acesse os dados de compras e licitações da Universidade. A ferramenta existe desde 2015, mas agora ela foi automatizada e as informações são atualizadas semanalmente.

A Federal de Santa Catarina tem quase cinquenta mil estudantes. Foto Henrique Almeida/Divulgação
A Federal de Santa Catarina tem quase cinquenta mil estudantes. Foto Henrique Almeida/Divulgação

Ricardo da Silveira Porto, diretor do Departamento de Licitações da Pró-reitoria de Administração, não gosta do título de exemplo ou de modelo de transparência: “São muitos os exemplos de boas práticas nas diversas esferas da administração pública. Seria injusto dizer que somos melhores ou referência de alguma coisa. Procuramos trabalhar coletivamente, aprimorando o que fazemos e buscando sempre inovar”, explica.

Foi essa preocupação com a inovação que fez a UFSC receber o Prêmio 19 de Março, por dois anos consecutivos, no Congresso Brasileiro de Pregoeiros, na categoria “Objeto mais Inusitado”. Em 2017, o prêmio veio por conta do trabalho de transporte de água salgada para o Centro de Ciências Biológicas (CCB). Ela é usada em sete laboratórios, em atividades que envolvem a manutenção de moluscos, algas, ostras, camarões, peixes e outros organismos marinhos. Já em 2018, a premiação foi por conta da aquisição de ração light para cães, ração animal e cavaco de madeira. A ração light é fundamental para os cães reprodutores que são usados em pesquisas e sofrem de problemas cardíacos.

Mas o maior mérito da área de licitações da UFSC, além da preocupação com a transparência, é o sucesso nas negociações. No ano passado, por exemplo, a economia superou a marca dos R$ 102 milhões, 41,07% da estimativa de gastos para 2018, que era de R$ 250 milhões. Foi o melhor resultado dos últimos anos. Em 2015, o índice de economicidade ficou em 27,52%; em 2016 foi de 21,85% e em 2017 chegou a 40,04%. Nada mal para uma das muitas universidades federais brasileiras que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, classifica como centros de “balbúrdia”, que abrigariam em suas instalações “gente pelada, eventos ridículos e muita bagunça”.

41/100 A série #100diasdebalbúrdiafederal pretende mostrar, durante esse período, a importância  das instituições federais e de sua produção acadêmica para o desenvolvimento do Brasil.

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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