Refresco para os bichos do Cerrado

Pesquisas desenvolvidas na UnB determinam quais são os ambientes propícios para a produção animal em clima tropical e seco

Por UnB Ciência | ODS 15ODS 4 • Publicada em 13 de outubro de 2019 - 08:05 • Atualizada em 13 de outubro de 2019 - 14:50

Projeto da UnB trabalha atualmente com suínos, bovinos, frangos de corte e codornas na Fazenda Água Limpa: busca das melhores condições para os animais do Cerrado (Foto: BioCer/Arquivo Pessoal)
Projeto da UnB trabalha atualmente com suínos, bovinos, frangos de corte e codornas na Fazenda Água Limpa: busca das melhores condições para os animais do Cerrado (Foto: BioCer/Arquivo Pessoal)
Projeto da UnB trabalha atualmente com suínos, bovinos, frangos de corte e codornas na Fazenda Água Limpa: busca das melhores condições para os animais do Cerrado (Foto: BioCer/Arquivo Pessoal)

Nicolau Ferraz*

Famoso pelos longos períodos de seca, o Cerrado, nome dado à savana brasileira, é o segundo maior bioma do país. Com uma extensão de 197 milhões de hectares, a região é rica em biodiversidade, com quase mil espécies de aves e mamíferos. Estudar como o clima afeta a vida de tantos bichos é responsabilidade da chamada biometeorologia animal, principal linha de pesquisa do projeto BioCer. Criado em 2019 pela professora Sheila Tavares Nascimento, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) da UnB, o grupo tem como objetivo proporcionar vida melhor à fauna do Cerrado. “A gente divulga informações para que produtores e técnicos interfiram de forma positiva sobre o bem-estar dos animais criados em clima tropical”, afirma Sheila, que também é a coordenadora do projeto.

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Doutora em Zootecnia, ela explica como surgiu a ideia de criar o grupo em 2016, ano em que ingressou na UnB: “Como o Brasil é um país com enorme extensão territorial, e o Centro-Oeste, uma região de destaque na produção animal, é fundamental o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao conforto de animais”, afirma Sheila, que, em 2017, ganhou prêmio da Sociedade Brasileira de Biometeorologia por estudo sobre equilíbrio térmico de animais.

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A partir dos conhecimentos fornecidos pelo BioCer, produtores conseguem proporcionar ambientes mais propícios para cada espécie. Por exemplo, com as análises divulgadas nas pesquisas, é possível entender qual o sombreamento adequado para certo bicho, a área mínima que ele precisa ocupar ou se determinada temperatura pode causar estresse para o animal.

 O efeito na indústria alimentícia é outro aspecto levado em conta, pois o tratamento correto de um animal de criação influencia na qualidade dos produtos que vão parar nos supermercados: desde a espessura da casca de um ovo de galinha até a textura da carne bovina.

Doutora em Zootecnia, Sheila Tavares Nascimento, professora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB, com prêmio recebido em 2017: projeto BioCer é oportunidade de trabalhar com diversas espécies (Foto: Amalia Gonçalves/Secom/UnB)
Doutora em Zootecnia, Sheila Tavares Nascimento, professora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB, com prêmio recebido em 2017: projeto BioCer é oportunidade de trabalhar com diversas espécies (Foto: Amalia Gonçalves/Secom UnB)
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Como o Brasil é um país com enorme extensão territorial, e o Centro-Oeste, uma região de destaque na produção animal, é fundamental o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao conforto de animais

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Projeto multidisciplinar

O grupo, que possui outras linhas de pesquisa (comportamento animal, sistemas ao ar livre e bioclimatologia), não foca em uma espécie em particular, já que o clima afeta toda a fauna. Atualmente, no trabalho de campo realizado na Fazenda Água Limpa (FAL/UnB), trabalham com frangos de corte, codornas, bovinos e suínos, entre outros. “Esse é o motivo por eu ser tão entusiasta da área, pois posso trabalhar com qualquer espécie animal”, diz a professora.

O trabalho é multidisciplinar: professores e alunos de cursos e instituições diferentes participam do projeto. Além da UnB, há pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Jaboticabal, em São Paulo; da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), em Minas Gerais; do Instituto Federal de Brasília (IFB), no Distrito Federal, e da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná.

Como o grupo já possui membros de diversos estados e regiões, o próximo passo é buscar parcerias fora do Brasil, o que converge também com a política de internacionalização da UnB. Para a coordenadora do projeto, a necessidade de procurar e manter parcerias é reflexo da atual crise econômica pela qual o país passa, e também a maneira mais eficiente de se fazer ciência: com conhecimentos e experiências diversos.

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Minha vontade de pesquisar sobre essa área de biometeorologia animal foi crescendo a cada dia. Não há nada melhor do que saber que o animal está em um lugar pensado especificamente para suas particularidades

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Há também, no âmbito do BioCer, pesquisas realizadas por estudantes, de graduandos a doutorandos. Para a professora Sheila, as novas ideias trazidas pelos alunos e a vontade de aprender são a “engrenagem do processo”.  Além de contribuir com o bem-estar dos animais, o projeto proporciona uma experiência plural aos membros, com pesquisas de campo, produção de artigos científicos e a realização de cursos teóricos e práticos.

Amanda Azevedo, estudante de Agronomia, conheceu o grupo quando fez um minicurso realizado no Centro de Manejo de Ovinos (CMO), da FAL. “Sempre me interessei pela área de bem-estar e ambiência, mas não sabia que essa linha de pesquisa era desenvolvida na UnB”, afirma Amanda. Ela diz se sentir realizada com o trabalho desenvolvido pelo grupo, pois mostra como são importantes os estudos sobre a produção de alimentos, principalmente ao se considerar o crescimento da população mundial.

Professores e alunos de graduação e pós-graduação de instituições e cursos diferentes participam do projeto da UnB (Foto: Arquivo pessoal/BioCer)
Professores e alunos de graduação e pós-graduação de instituições e cursos diferentes participam do projeto da UnB (Foto: Arquivo pessoal/BioCer)

Evandro Menezes de Oliveira, doutorando do Programa de Pós-Graduação de Zootecnia (PPZ) da UEM e bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), interessou-se pelo BioCer durante o período em que lecionou no Centro-Oeste. Enquanto trabalhava como professor de Zootecnia no IFB, percebeu como o clima tem um forte impacto na vida dos animais do Cerrado. “Pude observar os longos períodos de seca e a alta intensidade de radiação solar na região. Isso aumentou meu interesse em estudar como as variações meteorológicas do bioma afetam a criação de animais de fazenda”, explica.

Evandro e Sheila se conheceram na UEM, onde foram colegas de departamento. Durante o período em Maringá, a professora já desenvolvia pesquisas em biometeorologia animal, e assim Evandro a procurou para estabelecer uma parceria. “Minha vontade de pesquisar sobre essa área (biometeorologia animal) foi crescendo a cada dia”, diz Evandro. “Não há nada melhor do que saber que o animal está em um lugar pensado especificamente para suas particularidades”.

*UnB Ciência/Secom UnB

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