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Educação como ferramenta para a equidade racial

Parceria entre organizações para educação e qualificação profissional já resultou em mais de 12 mil jovens negros empregados formalmente

ODS 10ODS 4 • Publicada em 12 de setembro de 2025 - 09:55 • Atualizada em 12 de setembro de 2025 - 10:08

Em um Brasil onde a desigualdade racial ainda se manifesta de forma marcante em diversas esferas da sociedade, o caminho para o desenvolvimento profissional e pessoal de milhões de jovens, especialmente os negros, é permeado por desafios. Dados do Ministério do Trabalho, sobre o segundo semestre de 2024, já apontam que a população negra continua sendo a mais afetada por altas taxas de desemprego, informalidade e baixos rendimentos.

Para as jovens negras, a situação é ainda mais complexa. Como bem descreve Alini Dal’Magro, CEO e presidente do Instituto PROA, “a jovem negra na sociedade brasileira já enfrenta barreiras específicas relacionadas a preconceito racial e de gênero, que impactam diretamente suas oportunidades no mercado de trabalho”. Essa realidade é ainda mais acentuada entre as estudantes do PROA, onde as mulheres negras representam a maior parcela (70%). Alini detalha que, para essas jovens, “esses desafios são intensificados por outros marcadores: são jovens de baixa renda, vindas da escola pública, muitas vezes responsáveis pelo cuidado da casa e de familiares, com redes de apoio frágeis e, em muitos casos, sem referências próximas de trabalho formal”.

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Cenários como o de Mariana ChIoma – que cresceu em uma área precarizada da Zona Leste de São Paulo, entre o Jardim Pantanal e o Jardim Helena, onde as taxas de estudo são baixas – ilustram a realidade de muitos jovens sem oportunidades de um futuro incerto. É nesse contexto de profundas lacunas e urgência por equidade que a união entre o Instituto PROA e o Movimento pela Equidade Racial (Mover) emerge como uma força transformadora, buscando ativamente quebrar esses ciclos e pavimentar novos caminhos.

Mariana Chioma, jovem aprendiz contrata pelo BMG e formada pela PROA: "meu maior sonho é crescer dentro da área corporativa, alcançar cargos de liderança e inspirar outras pessoas" (Foto: Divulgação)
Mariana Chioma, jovem aprendiz contrata pelo BMG e formada pela PROA: “meu maior sonho é crescer dentro da área corporativa, alcançar cargos de liderança e inspirar outras pessoas” (Foto: Divulgação)

Desde sua criação em 2007, o Instituto PROA atua como uma das principais pontes entre a juventude periférica e o mercado de trabalho formal no Brasil. Sua missão, como destaca Alini Dal’Magro, é clara: “quebrar o ciclo da pobreza através do acesso ao emprego digno”. Mas o que significa um emprego digno para o PROA? ‘’Não estamos apenas olhando para a vaga em si. Nosso foco é preparar o jovem para reconhecer seus talentos, desenvolver o autoconhecimento e compreender onde é importante e desejável estar. Essa clareza faz com que ele busque oportunidades que façam sentido para sua vida e para o seu futuro”, responde. Essa preparação vai além do técnico, abrangendo também uma frente cultural forte, que amplia repertórios, expande o imaginário e ajuda a construir novos desejos.

A sintonia com o Mover, parceria iniciada em 2024 e renovada para 2025, é essencial para amplificar esse propósito. O diálogo com organizações focadas em equidade racial envolve, necessariamente, um relacionamento com quem se compromete em modificar a desigualdade social. E os resultados dessa colaboração são expressivos: a atuação conjunta já impactou mais de 20 mil jovens, com destaque nos estados de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. No total, mais de 32 mil jovens negros foram inscritos na Plataforma PROA, e 20 mil foram aprovados para formação. Entre os formados, a taxa de empregabilidade atingiu 61%, resultando em mais de 12 mil jovens empregados formalmente. Para 2026, a ambição é ainda maior: impactar 40 mil jovens e formar 13.500 deles, com um objetivo ousado de que 70% sejam representados por jovens pretos ou pardos.

Jovens formados em plataforma para qualificação profissional: Parceria entre organizações com foco em equidade racial já resultou em mais de 12 mil jovens negros empregados formalmente (Foto: Divulgação)
Jovens formados em plataforma para qualificação profissional: Parceria entre organizações com foco em equidade racial já resultou em mais de 12 mil jovens negros empregados formalmente (Foto: Divulgação)

Mariana ChIoma realizou o curso da Plataforma PROA de maio a agosto de 2024. Graças à formação, conquistou seu primeiro emprego como Jovem Aprendiz no Grupo BMG/Banco BMG, na área administrativa do Departamento Pessoal de Recursos Humanos. “O aprendizado tem sido fundamental para me guiar nos meus próximos passos”, afirma. Agora, ela vai iniciar um curso técnico em Recursos Humanos e almeja cursar Administração para ampliar sua visão sobre outras áreas do meio corporativo. Para ela, sua trajetória é um caminho para a equidade. “Meu maior sonho é crescer dentro da área corporativa, alcançar cargos de liderança e inspirar outras pessoas que vêm de situações parecidas”, acrescenta. 

Fernando Soares, gerente de projetos, operações e dados do Mover, resume o impacto dessa colaboração. “Ver jovens negros conquistando espaço no mercado de trabalho formal é a prova de que iniciativas comprometidas com a equidade racial geram transformação real. Temos avançado no nosso propósito de quebrar o ciclo da pobreza por meio da empregabilidade, conectando juventudes periféricas a oportunidades concretas e duradouras”. 

A educação, aliada à intencionalidade da equidade racial, é, sem dúvida, o motor que impulsiona essa mudança, desatando ciclos de desigualdade e construindo uma sociedade mais inclusiva para todos.

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