ODS 1
A dança que vence o preconceito e leva à maior escola do mundo
A história de Rhael, que superou série de adversidades até ser o único aprovado do Rio de Janeiro em filial do Bolshoi e agora faz vaquinha para custear a mudança para Joinville (SC)
Com apenas 9 anos, Rhael Nicolas Guimarães já deu grandes saltos na vida na ponta dos pés. Morador da Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, o bailarino foi o único aprovado do Rio de Janeiro para integrar uma das maiores escolas de dança do mundo, a escola de dança Bolshoi, em Joinville, Santa Catarina. “É um menino prodígio. Muito talentoso e com flexibilidade absurda!”, admira-se a professora Valéria Henrique, diretora do projeto social Academia Valéria Martins.
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Ele teve o primeiro contato com a arte por meio do projeto há dois anos quando, matriculado para a aula de ginástica, demonstrou talento especial que chamou a atenção dos professores. “Teve um dia que a professora do balé viu ele e me perguntou se eu não tinha preconceito. Ela falou que a habilidade na ginástica era ótima, mas que ele gostava mesmo de dançar. Falei: então deixa ele fazer o que gosta”, recorda a mãe, Layrane Yasmin.
Empenhado e sonhador, Rhael treina todos os dias durante seis horas. Quando questionado sobre a brincadeira preferida, a resposta vem sem titubear: “Treinar balé. Meu movimento preferido é o Fouetté. Quero ser o maior bailarino da academia’’, planeja, com um sorriso. Mas, até aqui, não foi só alegria. O pequeno enfrenta preconceito dentro da família. Desde que decidiu ser bailarino, não tem mais qualquer tipo de contato com o pai. (Procurado, ele pediu à filha mais velha respondesse e afirmou não ter “interesse nenhum’’ em participar de entrevista sobre o assunto.)
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Veja o que já enviamosOperação policial x processo seletivo
Mas o pequeno bailarino vai em frente. Enfrentou mais de 3 mil candidatos nas pré-seletivas, realizadas em três fases, a primeira delas no Projeto ViDançar, no Complexo do Alemão. A segunda etapa do processo foi marcada para o dia 18 de outubro; Rhael e uma professora viajar de ônibus a Joinville um dia antes, às 7hs da manhã, quando explodiu uma operação policial na Cidade de Deus. “Acordei com um tiroteio, correria, tudo perto da minha casa. Vi nos grupos que era operação. Liguei para professora e falei: Val, não sei como a gente vai sair daqui”, narra o menino.
A passagem de ônibus foi remarcada e, após 4 horas em meio à troca de tiros, ele e a professora conseguiram sair da comunidade. Foram 20 horas de viagem até Santa Catarina. Mas Rhael foi aprovado para a fase final.
Talento de família
Arthur Guimarães, de 14 anos, conheceu a dança por meio do irmão Rhael. Há pouco mais de um ano, também ingressou no balé no projeto social Academia Valéria Martins e se apaixonou. “Tinha muita vergonha. Nunca foi preconceito. Sempre fui muito fã de jogar bola. Nunca tinha me visto dançando”, contou.
Os irmãos fizeram juntos a seletiva para o Teatro Bolshoi, mas Arthur ganhou bolsa integral para a Escola Internacional de Ballet Germana Saraiva, também em Joinville. “No começo, achava que não iria dar em nada. Pensei que fosse só pra não ficar parado, mas descobri que posso fazer milhares de coisas. Ganhei uma família nova e amigos. […] Meu sonho é virar bailarino profissional”.
Da Cidade de Deus para Santa Catarina
Rhael mora com a mãe Layrane Yasmin e o irmão Arthur na localidade conhecida como 15, na Cidade de Deus. O sustento da casa é proveniente da renda que Larayne amealha como manicure e doceira. A primeira parte do sonho dos irmãos Guimarães foi realizada graças à colaboração financeira de diversas pessoas e projetos. Agora, a família precisa de ajuda para custear as despesas da mudança.
Para conseguir ir para Joinville (SC) até fevereiro, a família pede doações por meio de uma vaquinha online. “Fiquei nervoso (na seletiva), mas consegui. O que eu mais quero é a ajuda das pessoas pra realizar esse sonho”, diz Rhael. “Quero pedir muito a colaboração de vocês. Essa vaquinha vai realizar um sonho muito grande meu e do meu irmão”, finaliza Arthur.
Jornalista, Amanda Ribeiro iniciou a carreira, aos 18 anos, na Rádio Tupi, onde se tornou repórter e coordenadora de jornalismo, além de apresentadora de telejornal "Tupi na TV". Atuou como apresentadora do RJ1, na InterTV, afiliada Globo na Região dos Lagos. Passou pelo setor de reportagem do SBT Rio e pelo jornal comunitário Voz das Comunidades. Foi comunicadora na Rádio Nova Brasil FM e atua como assessora técnica de comunicação da Secretaria Estadual de Saúde do RJ. Carioca e apaixonada por carnaval, carrega no sangue o samba.