Conheça os países que ainda não registraram mortos pelo coronavírus

Representante da Unidade Local de Defesa (LDU), força paramilitar composta por civis, entrega farinha e feijão em alguns bairros de Uganda durante a quarentena. Foto Sumy Sadurni/AFP

Isolamento geográfico, político e social explicam por que algumas nações do mundo não estão sendo tão atingidas pela pandemia

Por Agostinho Vieira | ODS 3 • Publicada em 14 de maio de 2020 - 08:01 • Atualizada em 19 de setembro de 2020 - 12:08

Representante da Unidade Local de Defesa (LDU), força paramilitar composta por civis, entrega farinha e feijão em alguns bairros de Uganda durante a quarentena. Foto Sumy Sadurni/AFP

Há dois meses, no dia 11 de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou, oficialmente, que o mundo estava enfrentando mais uma pandemia. De lá para cá, os cinco continentes praticamente pararam para contabilizar os casos de covid-19 e chorar seus mortos, que agora chegam na casa dos 300 mil. Cerca de 50 nações, no entanto, praticamente não foram atingidas pela doença, tiveram poucos casos ou nenhum caso e não haviam registrado nenhuma morte até a publicação deste texto. Quais são esses países e, principalmente, que características possuem, ou, o que fizeram para passar quase incólumes pela maior crise sanitária dos últimos 100 anos?

Isolamento é o nome do jogo. Seja ele político, geográfico ou social, com fortes restrições ao funcionamento do comércio e à circulação das pessoas. É verdade que a maior parte da lista é formada por países pequenos, com menos de um milhão de habitantes, como a Micronésia, na Oceania, com seus 105 mil moradores. Uma população menor do que a de Cabo Frio, na Região dos Lagos, ou mesmo a de Copacabana. Mas isso não justifica nem explica muita coisa. San Marino, por exemplo, uma micronação que fica no centro-norte da Itália, tem menos de 34 mil habitantes e já registrou mais de 600 casos e 41 mortes.

 

A relação inclui também nações grandes, como o Vietnã, no sudeste asiático, com seus quase 100 milhões de habitantes, cerca de metade da população brasileira. Só que, diferentemente de nós, eles tiveram 288 casos e nenhuma morte. Contra os quase 190 mil casos do Brasil e mais de 13 mil mortos. O modesto Vietnã, que já foi tema de um Diário da Covid-19, aqui no #Colabora, feito pelo demógrafo José Eustáquio Diniz, ficou conhecido mundialmente pelos 20 anos de guerra com os Estados Unidos. Mas merece um lugar na história pela vitória nesta batalha contra um inimigo ainda pior, o coronavírus. Numa mistura de disciplina, determinação e testagem em massa. O governo fechou imediatamente as fronteiras, interrompeu as atividades escolares e monitorou todas as pessoas que vinham de áreas expostas à epidemia.

Muitos autores apostam que a África pode ser o próximo destino do coronavírus, que começou a sua viagem macabra pela Ásia, passou pelo Europa, pelos Estados Unidos e agora faz estragos no Brasil e em outros países da América do Sul. No entanto, até o momento, alguns bons exemplos vêm exatamente do continente africano. Certamente, o desempenho de algumas nações se deve à experiência acumulada no combate ao ebola, vírus que mantou milhares de pessoas em países como Guiné, Libéria, Nigéria e Serra Leoa. No mapa dos “não atingidos” pela covid-19, nada menos do que 12 países estão na África. Incluindo algumas nações como o reino de Lesoto, que é comandado pelo rei Letsie III, desde 1996. Só ontem, dia 13, o governo reconheceu oficialmente o primeiro caso no mais. Mas não há registro de mortes.

Madagascar é outra nação africana que vem ganhando o noticiário mundial por conta do inusitado presidente Andry Rajoelina, que diz ter encontrado a cura da covid-19 com um tônico chamado “Covid-Orgânico”. Mais detalhes na reportagem de Alexandre dos Santos, aqui no #Colabora. Oficialmente, até agora, o país teve 212 casos e nenhuma morte. Já Uganda e Ruanda vêm usando métodos menos exóticos e mais confiáveis com ótimos resultados. Ambos adotaram um bloqueio rígido das atividades há sete semanas, e agora já falam em reduzir lentamente o bloqueio. O transporte público e privado, que havia sido proibido, começa a ser liberado, mas as máscaras seguem sendo um item obrigatório em todas as partes. Até ontem, dia 13, Ruanda registrava 287 casos e nenhuma morte. Uganda tinha 126 casos e nenhum óbito.

Equipe de saúde do Nepal coleta amostra para o teste do coronavírus do ex-presidente da Assembléia Constituinte, Subash Chandra Nembang. Foto Narayan Maharjan/NurPhoto
Equipe de saúde do Nepal coleta amostra para o teste do coronavírus do ex-presidente da Assembléia Constituinte, Subash Chandra Nembang. Foto Narayan Maharjan/NurPhoto

No vizinho Moçambique, o presidente Filipe Nyusi foi ainda mais rigoroso e resolveu prolongar por mais um mês o estado de emergência que vigora desde 1º de abril: “Concluímos que as razões que levaram à introdução de um estado de emergência (ainda) prevalecem”, explicou o presidente. Ali, até o momento, foram contabilizados 104 casos e zero mortes.

Mas as boas notícias vêm da Ásia também, onde o pequeno reino do Butão, no Himalaia, país que inventou a Felicidade Interna Bruta (FIB) para se contrapor ao impreciso e injusto Produto Interno Bruto (PIB), informa ter tido apenas 11 casos até o momento, sem mortes. O primeiro caso, no início de março, foi de um turista americano, de 76 anos. Mas logo as fronteiras foram fechadas. As autoridades sanitárias agiram rápido e identificaram cerca de 90 pessoas que haviam tido contato com o turista e todas foram postas em quarentena. O Nepal também aparece na contagem de casos e mortes do site Worldometers como um dos que não registraram óbitos até o momento. Foram 243 casos até o dia 13 de maio.A fechadíssima Coreia do Norte, do ditador Kim Jong-un, garante que, até o momento, não houve nenhum caso e nenhuma morte no país.

A América do Sul aparece com apenas dois representantes nessa privilegiada relação: a Guiana Francesa, no norte do Brasil, e as Ilhas Malvinas, ao lado da Argentina. A América do Norte tem dez países sem qualquer registro de morte pela covid-19. Entre eles a ilha de São Pedro Miquelon, com seus 6,5 mil habitantes e apenas 1 caso.  A Europa também tem três micro países sem registros de mortes: as Ilhas Faroé, um território perto da Dinamarca; o território de Gibraltar, na costa da Espanha; e o estado do Vaticano, com seus 825 habitantes, entre eles o Papa Francisco. Não se sabe qual tem sido a influência de Deus no resultado, mas por lá, até agora, foram registrados 12 casos e nenhuma morte. Amém

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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