O futuro da comida

Piquenique no evento “O que vamos comer amanhã?” reuniu crianças e adultos (Foto Renee Rocha)

Alimentação saudável vai além dos ingredientes e deve fazer parte da vida das crianças

Por Paula Autran e Reneé Rocha | ODS 15ODS 3Vida Sustentável • Publicada em 21 de outubro de 2016 - 19:50 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:43

Piquenique no evento “O que vamos comer amanhã?” reuniu crianças e adultos (Foto Renee Rocha)
Piquenique no evento "O que vamos comer amanhã?" reuniu crianças e adultos (Foto Renee Rocha)
Piquenique no evento “O que vamos comer amanhã?” reuniu crianças e adultos (Foto Renee Rocha)

“Faz sentido falar em alimentação saudável pensando só no nosso próprio corpo?”, a pergunta é de Onaldo Brancante, professor de Biologia e bacharel em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que, apaixonado por culinária, começou a trabalhar como cozinheiro em 2013, em restaurantes na Inglaterra e no Brasil. Depois dessa experiência, idealizou e fundou o projeto Alimentamente. Onaldo foi um dos palestrantes do “semeário” (um seminário diferente) do evento “O que vamos comer amanhã?”, promovido pelo Museu do Amanhã, no dia 15 de outubro. Ele mesmo, que leciona culinária em escolas de uma maneira que em nada lembra a tradicional, deu ingredientes para a resposta em sua palestra: “Qual a história deste alimento? De onde ele vem? Como é a vida de quem o produz? Para onde ela vai? Hoje, o que se usa em aulas de culinária é um discurso nutricional. Mas há outras ferramentas. Comida tem que ser saborosa, nutritiva e justa. E sala de aula também é lugar de cozinhar, assim como na cozinha se aprende”.

É preciso ter cuidado com o desperdício, aproveitando cascas, por exemplo, e utilizando produtos orgânicos, o que só não é uma realidade maior por causa do preço deles

A importância de mostrar a crianças e adolescentes que eles são protagonistas de qualquer projeto de comida para o amanhã – e que isso vai muito além de pensar no cardápio do dia seguinte – foi apenas uma das questões abordadas no encontro, que discutiu temas como segurança alimentar, compostagem, empoderamento (tanto feminino quanto local) e inclusão de refugiados pela comida.

“Nós somos um museu de perguntas. Então, o que fizemos foi trazer uma série de especialistas e palestrantes para fazer provocações: Como o alimento é produzido? Como chega até a mesa? O que devemos fazer com as sobras?”, disse Dino Siwek, coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento de Públicos do Museu do Amanhã. “É a primeira vez que estamos efetivamente promovendo um seminário sobre alimentação, mas já abordamos algumas destas questões, e o tema é muito importante para nós, pois tem a ver com sustentabilidade e convivência. Queremos usar a alimentação para promover encontros”.

Comida do amanhã é aquela que faz sentido. Aquela que é preparada com carinho, compartilhada

E pessoas de todas as idades e gostos se encontraram não apenas na parte interna do museu, onde aconteceram as palestras, mas na área externa, que deu lugar a uma feira batizada de “Banquete, encontros no jardim”. Ali, além de 40 barracas da rede Rio Alimentação Sustentável, formada por produtores da agricultura familiar e orgânica, havia mais 16 de culinária e 11 de artesanato. À frente delas, refugiados apoiados pela Cáritas, que serviram pratos típicos de seus países de origem (como as arepas colombianas e os falafels da Síria), e representantes de iniciativas como a Maré de Sabores, da comunidade da Maré. A alta gastronomia também marcou presença, com a participação da Feira Rio Je t´aime, que reúne grandes chefs franceses e brasileiros com pratos a preços populares. Entre eles estavam Flávia Quaresma, Olivier Cozan, Ana Tonani, Dani Camillo, Roland Villard, Fred Monnier, Fred de Mayer, Kátia Hannequim, Roberta Ciasca e Christophe Lidy.

O chef Fred Mannier foi um dos participantes do 'O que vamos comer amanhã?' (Foto Renee Rocha)
O chef Fred Mannier foi um dos participantes do ‘O que vamos comer amanhã?’ (Foto Renee Rocha)

“É preciso ter cuidado com o desperdício, aproveitando cascas, por exemplo, e utilizando produtos orgânicos, o que só não é uma realidade maior por causa do preço deles”, dizia Fred Monnier, que levou delícias como cassoulet, a feijoada francesa, para oferecer ao público do evento. O chef do restaurante Brasserie Rosário, no Centro, também põe a mão na massa quando o assunto é educação alimentar: mantém com a assistente Aline de Paoli um projeto para crianças no Liceé Molière, em Laranjeiras.

Às crianças, por sinal, foram servidas opções de jogos lúdicos sobre o tema, em meio ao vai e vem de adultos entre as barracas do banquete. Uma das opções era a “Oficina de Sabores” do Alimentamente (do Onaldo, citado lá em cima), uma atividade para meninos e meninas interessados em aprender a preparar e saborear sucos, pastinhas, doces, vitaminas e saladas, utilizando ingredientes orgânicos e frescos. Outra opção era o “Prato Lúdico”, em que os educadores do próprio museu ajudavam os baixinhos a explorar as formas, os sabores, os cheiros e as texturas que os alimentos podem ter. Depois de adivinhar o nome de diversas frutas, legumes e hortaliças por descrições como propriedades e aparência, eles eram convidados a montar um prato com os itens citados e fazê-lo contar uma história.

Arthur Collares, de 5 anos, era um dos que se divertiam com o “Jogo do Destino Final: Para onde vai o nosso lixo?!”, inventado pela empresa Masterplan a pedido da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Jogando, Arthur entendeu melhor os caminhos que o lixo (como esponjas, embalagens de leite e de batatas fritas, latas de sardinha…) pode percorrer ao sair de nossas casas: aterro sanitário? Usinas de reciclagem? Compostagem? “Resto de comida pode virar terra para plantar”, explicava um dos educadores à frente da brincadeira. Arthur e seus companheiros de partida saíram com respostas na ponta da língua e um jogo da memória de brinde. Sua mãe, Ana Maria, moradora de Vila Cosmos e empenhada em cuidar melhor do lixo que produz, ficou satisfeita: “Temos que ajudar o planeta. Às vezes, deixo juntar mais de uma semana de lixo para reciclagem e vejo como consumimos demais. Mas tento ensinar estas coisas para o Arthur. Uma vez, ele não queria desenhar no verso de um papel já usado. Disse que queria uma folha branquinha. Mas, ao ver uma amiguinha usando o verso dos documentos descartados pelo pai dela e entender a razão, mudou de ideia”.

Pais também puderam aprender a preparar um lanche saboroso, nutritivo e sustentável com a engenheira de alimentos, cozinheira e mãe de quatro filhos Mayra Abbondanza, que deu dicas para uma alimentação infantil consciente e mais saudável tanto na oficina “Da geladeira à lancheira” quanto no seminário. “Comida do amanhã é aquela que faz sentido. Aquela que é preparada com carinho, compartilhada”, ensinou ela, que leva seus filhos para, efetivamente, ajudar nas compras, além de estimulá-los a ler rótulos e de criar brincadeiras para incentivá-los a provar alimentos.

Paula Autran e Reneé Rocha

Paula Autran e Reneé Rocha se completam. No trabalho e na vida. Juntos, têm umas quatro décadas de jornalismo. Ela, no texto, trabalhou no Globo por 17 anos, depois de passar por Jornal do Brasil, O Dia e Revista Veja, sempre cobrindo a cidade do Rio. Ele, nas imagens (paradas ou em movimento), há 20 anos bate ponto no Globo. O melhor desta parceria nasceu no mesmo dia que o #Colabora: 3 de novembro de 2015. Chama-se Pedro, e veio fazer par com a irmã, Maria.

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