ODS 1
Do Homo sapiens ao “Homo Plasticus”

Documentário inédito do CanalCurta! mostra que estamos consumindo micropartículas de plásticos nas frutas, legumes, água, leite e ao ingeri-los, eles se alojam no fígado, pulmões, intestinos e placenta.

Como uma espécie de pão nosso de cada dia, estamos consumindo micropartículas de plásticos cotidianamente. Do café da manhã ao jantar, seja em frutas ou legumes, mas também nos peixe, arroz, sal e até quando bebemos leite e água da torneira ou engarrafada. O documentário “Homo Plasticus, o plástico dentro de nós”, de Elodie Bonnes, mostra que o micro e o nanoplástico estão por toda parte e, ao ingeri-los, eles se alojam em órgãos vitais, como fígado, pulmões, intestinos e placenta. O aparelho digestivo é a principal porta de entrada, seguido do aparelho respiratório.
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Com estreia prevista para o próximo dia 25 de julho no CanalCurta!, e, em breve, no CurtaOn, o documentário mostra que a colonização de micropartículas de plásticos no organismo estaria transformando o Homo sapiens em “Homo Plasticus”. O plástico, de fato, revolucionou nossa vida, mas se tornou também um vilão da natureza e um grande problema para a saúde humana, assim como a animal. O documentário entrevista cientistas, que estão estudando o impacto na saúde humana, de diferentes partes do mundo.
Quando o homem pousou na lua, ele fincou uma bandeira de nylon, um tecido sintético, feito de plástico. Aquela bandeira simbolizava não apenas a conquista do espaço, mas o triunfo de um material que superou todos os outros ao longo da história.
Desde a década de 1950, o plástico vem revolucionando nossas vidas, seja para organizar, cozinhar, decorar, brincar. Sua presença é tão intensa, que invadiu todos os espaços virando um item indispensável na sociedade moderna. A presença massiva do plástico no nosso cotidiano, no entanto, esconde um lado perverso: ele polui os mares, os rios, os solos, os animais e… nossos corpos, seja na presença de micro ou nanoplásticos.
Uma pesquisa iniciada em 2017 investigava a presença dos microplásticos nos oceanos e nos animais marinhos. O cientista Phillipp Schwabl, pesquisador da Divisão de Gastroenterologia e Hepatologia da Universidade Médica de Viena, na Áustria, decidiu estudar a ocorrência no organismo humano, especificamente nas fezes. Sua pesquisa ganhou projeção internacional ao ser apresentada em um colóquio médico científico da União Europeia, o UEK Week Vienna, em 2018.
Schwabl lembra que não foi fácil conseguir financiamento para o projeto. Ele decidiu, então, iniciar a pesquisa do jeito que era possível: pedindo mostras de fezes para amigos. A adesão foi massiva e médico começou a receber as amostras de diferentes países da Europa e também da África.
Apesar da diferença entre as dietas alimentares de cada um dos países, as amostras tinham algo em comum: a presença de plásticos no trato intestinal era geral e irrestrita. Era a primeira vez que, cientificamente, se comprovava que estamos contaminados por microplásticos, assim como os oceanos e os animais marinhos.
Frutas e legumes contaminados
A renomada pesquisadora Margherita Ferrante, diretora do Laboratório de Higiene Ambiental e Alimentar na Universidade de Catania, na região da Sicília, na Itália, começou a recolher frutas e verduras na feira livre da cidade. Duas assistentes, Claudia e Paola, foram às compras e a orientação era comprar produtos de diferentes regiões da Itália.
A rotina científica precisou ser alterada, já que, para detectar as micropartículas de plásticos nos alimentos, fora necessário criar um protocolo plástico zero. Afinal, a presença de plástico é intensiva nos laboratórios. A equipe desenvolveu um recipiente de vidro, para isolar completamente a presença de plástico no material e assim evitar contaminação. Até as luvas, usadas pelos pesquisadores, foram desenvolvidas para evitar o contato dos alimentos com o plástico.
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Veja o que já enviamosSem saber, estamos ingerindo uma grande quantidade de partículas de plástico. Todos os alimentos investigados pela equipe apresentaram presença expressiva. A exceção é a folha de alface com 50 mil partículas por grama. Já na maça foi detectada a presença de 195 mil partículas por grama.
Não são apenas as frutas e legumes que estão contaminadas. As micropartículas de plásticos também estão presentes no peixe, sal, arroz, soja, leite e água da torneira ou engarrafada. Um francês, por exemplo, consome por mês, em média, 1,8 gramas de microplástico e um americano, 2,4 gramas. É que a água e o solo estão altamente poluídos, dado que o ciclo de vida do plástico, ao se desintegrar em bilhões de partículas, sai contaminando tudo a sua volta.
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Liana Melo
Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.