Diário da Covid-19: Brasil ultrapassa as 600 mil mortes

Em Copacabana, ativista do movimento Rio de Paz pendura bandeiras brancas simbolizando a morte de 600 mil brasileiros pela covid-19. Foto Mauro Pimentel/AFP. Outubro/2021

Um em cada 350 brasileiros já perdeu a vida para a doença, mas ritmo da pandemia perde força e média de óbitos é a menor em dez meses

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 10 de outubro de 2021 - 13:28 • Atualizada em 13 de outubro de 2021 - 17:45

Em Copacabana, ativista do movimento Rio de Paz pendura bandeiras brancas simbolizando a morte de 600 mil brasileiros pela covid-19. Foto Mauro Pimentel/AFP. Outubro/2021

O Brasil registrou, no dia 08 de outubro de 2021, a impressionante cifra de 600 mil vidas perdidas para a covid-19. Isto quer dizer que a cada 350 habitantes do país, uma pessoa morreu em consequência da pandemia do novo coronavírus. O número de doentes ultrapassou 21,5 milhões de indivíduos infectados (pouco mais de 10% da população). São números elevados, ainda mais quando se sabe que existem subnotificações nos registros dos casos e dos óbitos. Mas, ainda que tardia, a boa notícia é que o ritmo da pandemia vem perdendo força e a média diária de mortes é a menor desde novembro de 2020.

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O gráfico abaixo mostra a evolução do número de mortes no Brasil, considerando cada acréscimo de 100 mil vítimas fatais. A primeira vítima da covid-19 ocorreu em 12 de março de 2020 e 149 dias depois, em 08 de agosto, o Brasil registrou 100 mil mortes. A média desde período foi de 671 óbitos diários. O montante de 200 mil mortes foi registrado no dia 07 de janeiro de 2021, 152 dias após a marca anterior, perfazendo uma média de 658 óbitos diários. As 300 mil mortes aconteceram no dia 24 de março, 76 dias após a marca anterior, registrando 1.316 óbitos diários. As 100 mil mortes seguintes foram acumuladas em apenas 36 dias, entre 24/03 e 29/04, com a maior média de toda a pandemia, 2.778 óbitos diários, o que significa quase 2 mortes por minuto durante todo este período. O montante de meio milhão de vidas perdidas foi atingido no dia 09 de junho, 51 dias depois da marca anterior, registrando 1.961 óbitos diários. A marca de 600 mil vidas perdidas foi registrada 111 dias depois, marcando uma média diária de 901 óbitos entre 09/06 e 08/10/2021.

Portanto, a velocidade da pandemia estava em aceleração até os meses de março e abril de 2021 e desacelerou a partir de maio do corrente ano. No dia 09 de outubro, a média diária da 40ª semana epidemiológica de 2021 ficou em 444 óbitos a cada 24 horas, o menor valor do ano. A contínua redução dos casos e das mortes tem permitido que alguns  prefeitos já sonhem com a volta das festas do Réveillon e do Carnaval em 2022.

O Brasil no panorama global

Assim como acontece no Brasil, a pandemia também está em retração no mundo e a média móvel de óbitos no dia 09 de outubro foi a mais baixa do ano de 2021. A semana mais letal da pandemia global foi de 24 a 30 de janeiro de 2021, com 14,1 mil mortes diárias. Na semana passada (03-09/10) o número global de mortes ficou em torno de 7,2 mil óbitos diários, pouco acima do pico da primeira onda em abril de 2020. A semana com o maior número de casos foi de 25 de abril a 01 de maio de 2021 com cerca de 825 mil casos diários, mas na semana passada o número de infectados caiu pela metade, segundo o site Our World in Data, com base nos dados da Universidade Johns Hopkins.

Os países com o maior número acumulado de mortes pela covid-19 são os EUA (713 mil óbitos), o Brasil (601mil), a Índia (451 mil), o México (282 mil óbitos) e a Rússia (212 mil óbitos). Mas para comparar o impacto da pandemia entre os países é preciso levar em consideração o peso demográfico. O gráfico abaixo apresenta o coeficiente de mortalidade (óbitos por milhão de habitantes) dos países do topo do ranking, a média mundial, os exemplos da Índia e Uruguai e, por fim, alguns dos países que conseguiram bom desempenho contra o SARS-CoV-2 e tiveram baixa proporção de mortes entre a população.

O líder disparado do ranking é o Peru que apresenta um coeficiente de quase 6 mil mortes por milhão de habitantes (uma morte para cada 167 habitantes do país). A Bósnia e Herzegovina e a Macedônia do Norte vêm em seguida com com cerca de 3,3 mil óbitos por milhão. Em 4º e 5º lugar aparecem Hungia e Bulgaria com coeficiente ao redor de 3,1 mil óbitos por milhão. Em 6º lugar a República Tcheca com 2,84 mil óbitos por milhão. O Brasil aparece em 7º lugar com 2,8 mil óbitos por milhão, seguido pela Argentina e a Colômbia com 2,5 mil óbitos por milhão de habitantes. Os EUA, que possuem o maior número acumulado de mortes, aparece em 16º lugar atualmente com coeficiente de 2,1 mil óbitos por milhão. O Uruguai está com 1,7 mil óbitos por milhão e a Suécia com 1,47 mil casos por milhão.

O coeficiente de mortalidade médio global foi de 615 óbitos por milhão de habitantes no dia 09 de outubro de 2021. A China é o país que registra um dos menores coeficientes de mortalidade (apenas 3,2 óbitos por milhão de habitantes), embora haja muita dúvida sobre a existência de uma grande subnotificação. A Nova Zelândia é um exemplo de bom gerenciamento da pandemia e apresenta um coeficiente de somente 5,8 óbitos por milhão. Taiwan tem coeficiente de 35,4 óbitos por milhão e Camboja 145 óbitos por milhão. O Vietnã que teve grande sucesso no controle da 1ª onda, viveu um grande surto com a variante delta e apresenta um coeficiente de 207 óbitos por milhão de habitantes.

O ranking dos países não é fixo, pois muda em função dos diferentes ritmos nacionais da pandemia. Há países subindo no ranking e outros descendo. Em meados de fevereiro, apresentamos o gráfico abaixo (à esquerda) no Diário da Covid-19, intitulado “Na contramão da queda global, mortes sobem no Brasil”, aqui no # Colabora (Alves, 14/02/2021), quando o Brasil estava na 22ª posição do ranking. Mas, como vimos no gráfico anterior (reproduzido abaixo no painel da direita), o Brasil deu um salto para a 7ª posição, ultrapassando, por exemplo, a Bélgica (que estava em 1º lugar em 12/02), os EUA e diversos países da Europa Ocidental. A Argentina e a Colômbia também tiveram um enorme salto e passaram para o grupo dos países com os 10 maiores coeficientes. O Uruguai que tinha um coeficiente de 151 óbitos por milhão em 12/02 – abaixo da média mundial (307 óbitos por milhão) – deu um salto para 1,7 mil óbitos por milhão em 08/10, acima da média mundial (615 óbitos por milhão).

O Camboja que não tinha registrado nenhuma morte até fevereiro de 2021, anotou 145 mortes por milhão de habitantes. Taiwan e Vietnã tinham coeficientes menores do que os da China e da Nova Zelândia em 12/02, ultrapassaram em muito os dois países citados, embora bem abaixo da média mundial. Dos 10 países com maiores coeficientes de mortalidade 6 são da Europa Oriental e 4 são da América do Sul. Os continentes com menores coeficientes são a Oceania, a África e a Ásia.

A pandemia, no mundo, está se aproximando de dois anos e no Brasil já chegou a 20 meses desde o primeiro caso da covid-19 registrado em São Paulo em fevereiro de 2020. O custo em termos de morbimortalidade e em termos econômicos é enorme. O valor das 600 mil mortes é inestimável. Já o custo econômico, mesmo sendo difícil de estimar, é possível se ter um valor aproximado.

Com base em um artigo publicado por dois economistas de renome nos EUA e no mundo, David Cutler e Lawrence Summers (ambos da Universidade de Harvard), que calcularam o custo das mortes da pandemia nos Estados Unidos, o economista Francisco Galiza calculou o custo econômico das mortes da covid-19 no Brasil.

Galiza, que é especialista em seguros, considera que o cálculo de uma vida estatística é estimado pelo valor total de 100 vezes o PIB per capita do país. No caso brasileiro, isso leva ao montante de R$ 3,5 milhões para cada “vida estatística” perdida no país. Fazendo então o cálculo com 600 mil mortes, o Brasil terá sofrido, somente pelos óbitos com a pandemia, um custo de R$ 2,1 trilhões. Mas considerando também a queda do PIB, o endividamento do país, aquilo que se deixou de produzir, além do custo do sistema de saúde e previdência, das sequelas físicas e problemas mentais que afetam muitos dos que foram infectados, chega-se ao total de R$ 3,8 trilhões, conforme mostrado em artigo da CNN Brasil (CUNHA, 08/10/2021).

Ou seja, cada morte pandêmica é não só uma vida que se perde para sempre, como também uma subtração de entes queridos das famílias, onde pais perdem filhos, filhos perdem pais, cônjuges perdem cônjuges etc. Cada óbito é também um pedaço da riqueza econômica nacional que se extingue e que é subtraída do conjunto de bens e serviços materiais e imateriais que compõem o conjunto da produção de uma nação e do bem-estar da população. Cada morte para a covid-19 deixa o país mais pobre e mais triste. Por conseguinte, quanto mais rápido a pandemia for controlada mais rápida será a recuperação nacional e global.

Frase do dia 10 de outubro de 2021

“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”

José Saramago (1922-2010)

Referências:

ALVES, JED. Diário da Covid-19: Na contramão da queda global, mortes sobem no Brasil, # Colabora, 14/02/2021 https://projetocolabora.com.br/ods3/na-contramao-da-queda-global-mortes-sobem-no-brasil/

CUNHA, Lílian. 600 mil mortes: o custo da pandemia para o Brasil, CNN Brasil, 08/10/2021

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/600-mil-mortes-o-custo-da-pandemia-para-o-brasil/

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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