ODS 1
ONGs brasileiras a Biden: negociar com Bolsonaro endossa “retrocesso ambiental”
Carta de 199 entidades diz a presidente dos EUA que acordo precisa ser precedido da redução do desmatamento e do fim de agenda antiambiental
Carta aberta ao presidente dos EUA, Joe Biden, assinada por 199 organizações da sociedade civil brasileira alerta que acordo de cooperação entre os Estados Unidos e o governo Bolsonaro traria riscos para o meio ambiente, os direitos humanos e a democracia. Para as signatárias, negociações a portas fechadas “representam um endosso à tragédia humanitária e ao retrocesso ambiental e civilizatório imposto por Bolsonaro”.
O próprio governo brasileiro afirma que vem mantendo, há mais de um mês, conversas com integrantes da administração Biden sobre meio ambiente, com objetivo de chegar a um acordo entre os dois países que seria anunciado na cúpula sobre o clima convocada pelo presidente dos EUA para os próximos dias 22 e 23. Fontes próximas à negociação afirmam que o acordo deve envolver transferência de recursos para o Brasil — na campanha, Biden chegou a falar em levantar US$ 20 bilhões para a Amazônia.
Segundo a carta das ONGs, as negociações com Bolsonaro colocam sob teste a narrativa de Biden, que prometeu em sua gestão lidar com a pandemia, o racismo, a mudança do clima e o lugar dos EUA na promoção da democracia no mundo. “O presidente americano precisa escolher entre cumprir seu discurso de posse e dar recursos e prestígio político a Bolsonaro. Impossível ter ambos”, afirma o texto.
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Veja o que já enviamosO governo Bolsonaro tenta a todo custo legalizar a exploração da Amazônia, trazendo prejuízos irreversíveis para nossos territórios, povos e para a vida no planeta
[/g1_quote]O documento lista o retrocesso ambiental nas ações do governante brasileiro. “Bolsonaro está promovendo a destruição da floresta amazônica e de outros biomas, aumentando as emissões do Brasil. Compromete o Acordo de Paris ao retroceder na ambição da meta climática brasileira. Negacionista da pandemia, transformou seu país num berçário de variantes do coronavírus, condenando à morte parte da própria população”, apontam as 199 organizações da sociedade civil, da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) à Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), do Movimento Negro Unificado ao Fundação SOS Mata Atlântica, da CUT ao Greenpeace Brasil.
As ONGs signatárias lembram iniciativas contra a preservação ambiental desenvolvida pelo presidente Bolsonaro. “Sua política antiambiental desmontou órgãos de fiscalização, promoveu o enfraquecimento da legislação e incentiva invasões de territórios indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e áreas protegidas. A presença de invasores leva ao aumento da violência e de doenças como a Covid junto aos habitantes da floresta”, afirmam
Ainda de acordo com a carta, qualquer negociação com o Brasil sobre a Amazônia deveria envolver a sociedade, os governos subnacionais, a academia e o setor privado. E nenhuma tratativa deveria prosseguir antes de o Brasil reduzir o desmatamento aos níveis determinados pela Política Nacional sobre Mudança do Clima e da retirada dos projetos encaminhados pelo governo ao Congresso, que significam retrocesso ambiental. “Negociações e acordos que não respeitem tais pré-requisitos representam um endosso à tragédia humanitária e ao retrocesso ambiental e civilizatório imposto por Bolsonaro” dizem as ONGs. “Não é razoável esperar que as soluções para a Amazônia e seus povos venham de negociações feitas a portas fechadas com seu pior inimigo.”
[g1_quote author_name=”Marcio Astrini” author_description=”Secretário-Executivo do Observatório do Clima” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]O Brasil é hoje um país dividido. De um lado, estão os indígenas, quilombolas, cientistas, ambientalistas e pessoas que atuam contra o desmatamento e pela vida. De outro, está o governo Bolsonaro, que ameaça os direitos humanos, a democracia e coloca em risco a Amazônia. Biden precisa escolher de que lado ficará
[/g1_quote]Alberto Terena, coordenador-executivo da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), uma das organizações signatárias da carta, alerta para a ameaça representada pelo governo brasileiro. “O governo Bolsonaro tenta a todo custo legalizar a exploração da Amazônia, trazendo prejuízos irreversíveis para nossos territórios, povos e para a vida no planeta. Estamos unidos para mobilizar todo o apoio nacional e internacional que fortaleça as lutas pela defesa das nossas vidas e da mãe Terra. Seguimos mobilizados contra o projeto genocida que tenta nos eliminar há mais de 520 anos no Brasil e que também destrói a nossa biodiversidade. E é por isso que jamais deixamos de afirmar: Sangue indígena, nenhuma gota a mais”, disse Terena ao Observatório do Clima.
“Quando o Cerrado, a Amazônia ou o Pantanal queimam, é o nosso povo que queima. O governo Bolsonaro faz acordos bilaterais de destruição da natureza que não cumprem o que está na Constituição; ele não respeita e não demarca nossos territórios. Mesmo neste momento de pandemia, em que não podemos enterrar nem chorar nossos mortos, Bolsonaro continua a querer nos derrotar, destruindo nossa biodiversidade”, declarou Biko Rodrigues, articulador nacional da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), que também assina a carta.
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, reforça a posição dos ambientalistas – mais de 50 ONGs ligadas ao meio-ambiente assinam o documento. “O Brasil é hoje um país dividido. De um lado, estão os indígenas, quilombolas, cientistas, ambientalistas e pessoas que atuam contra o desmatamento e pela vida. De outro, está o governo Bolsonaro, que ameaça os direitos humanos, a democracia e coloca em risco a Amazônia. Biden precisa escolher de que lado ficará”, afirmou.
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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.
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