Condomínio colaborativo

No Cine Teatro Presidente, as bicicletas são compartilhadas entre todos os moradores. Foto Reprodução

Empreendimento em Porto Alegre aposta no compartilhamento de ambientes, objetos e tarefas

Por Agostinho Vieira | ODS 17 • Publicada em 25 de novembro de 2016 - 12:55 • Atualizada em 26 de novembro de 2016 - 23:00

No Cine Teatro Presidente, as bicicletas são compartilhadas entre todos os moradores. Foto Reprodução
No Cine Teatro Presidente, as bicicletas são compartilhadas entre todos os moradores. Foto Reprodução
No Cine Teatro Presidente, as bicicletas são compartilhadas entre todos os moradores. Foto Reprodução

Quando alguém fala em economia colaborativa, a primeira coisa que vem à cabeça de muita gente são os carros pretos do Uber ou os anúncios do Airbnb. Na verdade, o maior símbolo desse novo estilo de vida, se é que pode se chamar assim, é a furadeira. Aquela que a gente usa uma ou duas vezes na vida para pendurar um quadro ou um espelho. Os americanos, que têm pesquisa para qualquer coisa, dizem que, ao longo de uma vida, o indivíduo usará esse aparelho barulhento por cerca de 16 minutos e trinta segundos. O conceito é bem simples: você não precisa da furadeira, precisa do buraco.

Vivemos novos tempos, novas maneiras de pensar e conviver. A nossa conexão com a cidade está mais intensa, com as pessoas também. Não há mais espaço para o excesso.

Os criadores e futuros moradores do Cine Teatro Presidente, empreendimento que está sendo lançado em Porto Alegre, parece terem chegado à mesma conclusão, pois vão compartilhar não apenas a furadeira, mas a escada que usarão para trocar as lâmpadas, o aspirador de pó, as bicicletas e até a horta comunitária no terraço. O Cine Teatro Presidente ou CTP será um dos primeiros condomínios brasileiros a apostar no conceito de “coliving”, como gostam de chamar os seus idealizadores.

– Vivemos novos tempos, novas maneiras de pensar e conviver. A nossa conexão com a cidade está mais intensa, com as pessoas também. Não há mais espaço para o excesso – explica Eduardo Pricladnitzki, um dos sócios da Wikihaus, empresa responsável pela obra.

Pricladnitzki diz que a ideia também nasceu de um trabalho de colaboração ou cocriação. Inicialmente foram ouvidos 60 voluntários com perfis semelhantes ao dos futuros proprietários. Depois foram chamados também vizinhos do projeto, para opinar sobre o que funcionaria melhor ali. O antigo Cine Teatro Presidente, fechado nos anos 90, era um espaço tradicional da cidade, com importante valor cultural e histórico. Infelizmente, não será recuperado. Apenas a fachada vai ser preservada.

A lavanderia comunitária é uma das atrações do projeto de Porto Alegre. Foto Reprodução
A lavanderia comunitária é uma das atrações do projeto de Porto Alegre. Foto Reprodução

O objetivo dos empreendedores é atrair a chamada geração Y, jovens entre 20 e 35 anos que estariam pensando em novas maneiras de viver. Casais sem filhos e solteiros que estão começando a sua vida profissional. Dito de outra maneira, gente que estaria disposta a deixar um pouco mais de lado o indivíduo e que toparia viver uma experiência coletiva. Será que funciona?

Como você já deve ter percebido, os apartamentos são pequenos. Na verdade, são chamados de “studios” e terão entre 38 m² e 70 m². A falta de espaço em cima casa perfeitamente com o conceito de comunidade embaixo. Além das ferramentas, os novos moradores vão compartilhar a lavanderia, a área de ginástica, o espaço pet e o Terraço Garden, onde uma horta de temperos terá que ser cuidada e dividida coletivamente.

A área de convivência também terá um espaço de “coworking” –  expressões em inglês são obrigatórias no novo modelo -, onde os moradores podem trabalhar, receber clientes e fazer negócios.  As bicicletas são de todos, ficam no “bike sharing”, entram na conta do condomínio e são usadas por quem precisar. Mais ou menos como as laranjinhas do Rio.

O conceito de “coliving”, compartilhamento, vida em comunidade ou que nome se queira dar para isso, não é novo. Ele já é adotado em outros países e é bem conhecido por quem já esteve numa ecovila. Na verdade, quem viveu numa família grande sabe mais ou menos como funciona. A boa nova é ele chegar numa metrópole, num empreendimento comercial. Resta saber se vai funcionar. O problema, obviamente, são as pessoas e a interação entre elas. Fico imaginando a reunião de condomínio, com alguém dizendo que detesta coentro e por isso não vai pagar a sua parte da horta comunitária. Mas esse é um trabalho para o Leo Aversa. Vamos torcer para dar certo.

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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4 comentários “Condomínio colaborativo

  1. Hylton Sarcinelli Luz disse:

    Boa matéria, para nos animar a pensar que “por aqui também pode ser possível”. Como dito na matéria, vamos ver na prática, porque a proposta é tudo o que se almeja com as utopias socialistas.

  2. Tem Açúcar? disse:

    O Tem Acúcar? é um app que facilita o empréstimo de objetos entre vizinhos.Estamos criando agora a possibilidade de ter outros tipos de colaboração dentro da plataforma com comunidades privadas dentro da plataforma também. Uma comunidade dentro do Tem Açúcar para esse condomínio seria demais!

  3. Sergio Marcolini disse:

    Acho muito boa esta iniciativa do novo empreendimento imobiliário de Porto Alegre. Espero que funcione bem e que o conceito possa ser expandido, não ficando apenas no Bike Sharing, mas chegando ao Car Sharing. Aí sim daremos um salto significativo para uma sociedade colaborativa, ecologicamente responsável e não dependente do automóvel. Penso sempre nisso quando desço à garagem do meu condomínio e vejo que, a qualquer hora, pelo menos 60% dos carros estão estacionados. A propriedade particular de automóveis representa um custo muito alto para as famílias e para a sociedade. Este custo poderia ser evitado, mas os valores simbólicos implícitos no posse de um carro privativo é uma barreira quase intransponível na sociedade atual.

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