Segue a farra dos agrotóxicos no Brasil

Governo aprova 42 novos produtos químicos e número total já passa de 200 só em 2019

Por Agostinho Vieira | ODS 15ODS 3 • Publicada em 24 de junho de 2019 - 22:44 • Atualizada em 26 de junho de 2019 - 15:07

Cerca de 20% de todo o agrotóxico produzido no mundo é consumido no Brasil. Foto Mohamed el-Shahed(AFP)
Cerca de 20% de todo o agrotóxico produzido no mundo é consumido no Brasil. Foto Mohamed el-Shahed(AFP)
Cerca de 20% de todo o agrotóxico produzido no mundo é consumido no Brasil. Foto Mohamed el-Shahed(AFP)

Em se tratando do governo Bolsonaro, poucas coisas funcionam tão eficientemente quanto o a liberação de agrotóxicos. Nesta segunda-feira, o Ministério da Agricultura autorizou o uso de 42 novos pesticidas. Com isso, em menos de seis meses, já são 211 produtos que chegam ao mercado. Nesse ritmo, é provável que o recorde histórico de 450 autorizações, registrado em 2018, seja batido. Além dos produtos liberados, há 440 pedidos de registro esperando na fila.

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O governo vem passando por cima da opinião pública e de órgãos de saúde, colocando em prática o pacote do veneno com simples canetadas. Dentre os produtos liberados há um novo ativo, inédito no Brasil, muito tóxico a organismos aquáticos. É possível produzir sem agrotóxicos, em equilíbrio com o meio ambiente e respeitando a saúde das pessoas, mas estamos cada vez mais   distantes disso

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Entre 2005 e 2015, a média de liberações por ano girou em torno de 140 produtos. Em 2016, o número saltou para 277, chegando a 405 em 2017.  Em abril, produtores de frutas e de vinhos da Serra Gaúcha reclamaram perdas estimadas em R$ 100 milhões por conta do uso do substância 2,4-D, muito utilizada na plantação de soja.

Dados do Ministério Público Federal (MPF) indicam que cerca de 2.300 diferentes tipos de agrotóxicos são vendidos hoje no país. Boa parte deles, inclusive, beneficiada por incentivos fiscais. É o caso, por exemplo, do Paraquate, que pode causar Mal de Parkinson e algumas mutações genéticas em quem trabalha com eles. Na próxima quinta-feira, dia 27, o MPF realizará uma audiência pública para discutir o tema. O objetivo do órgão é estimular uma tributação maior de certos produtos tóxicos e desonerar os biológicos, estimulando uma produção mais sustentável. De todos os produtos liberados até agora, 31% são de agrotóxicos não permitidos na União Europeia.

De acordo com o Ministério da Agricultura, os pesticidas liberados hoje são de fabricantes como a Dow Agrosciences, a Bayer e a Syngenta, e já vinham aguardando autorização há quatro anos. As aprovações publicadas no Diário Oficial da União desta segunda-feira, dia 24, incluem apenas um ingrediente ativo novo (o chamado produto técnico). Os demais são “genéricos” de substâncias e produtos já disponíveis no mercado, segundo o comunicado oficial do ministério.

Para a coordenadora da campanha Alimentação e Agricultura do Greenpeace, Marina Lacôrte, a posição do governo tem sido uma afronta não somente ao meio ambiente, mas também uma ameaça à saúde da população e à própria produção agrícola: “O governo vem passando por cima da opinião pública e de órgãos de saúde, colocando em prática o pacote do veneno com simples canetadas. Dentre os produtos liberados há um novo ativo, inédito no Brasil, muito tóxico a organismos aquáticos. Já os outros produtos são variações de substâncias já aprovadas, que em nada agregam ou vão em direção à um cultivo mais sustentável. É possível produzir sem agrotóxicos, em equilíbrio com o meio ambiente e respeitando a saúde das pessoas, mas estamos cada vez mais   distantes disso”.

O ministério, no entanto, argumenta que a aprovação dos genéricos tem o objetivo de  baratear o preço dos agrotóxicos no país: “As aprovações de produtos equivalentes significam que novas fábricas estão autorizadas a fornecer ingredientes ativos, possibilitando um aumento na concorrência no fornecimento destas substâncias”, diz a nota o do coordenador-geral de Agrotóxicos do Ministério da Agricultura, Carlos Venâncio.

Em 2013, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), o Brasil investiu US$ 10 bilhões em agrotóxicos, sendo a nação que mais gastou com pesticidas, superando potências como os Estados Unidos, a China, o Japão e a França. Desde então o país vem mantendo o lamentável título de maior consumidor de pesticidas de planeta. Cerca de 20% de todo o agrotóxico produzido no mundo é despejado por aqui.

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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