Miguel Pereira planta dois milhões de árvores

O trabalho de replantio começou com a participação de voluntários, mas aos poucos acabou se profissionalizando e hoje tem 40 colaboradores. Foto Divulgação

Trabalho iniciado em 2007 reconstituiu dois mil hectares de matas e conectou mais de 15 mil hectares de florestas

Por Chico Alves | ODS 15 • Publicada em 9 de novembro de 2019 - 11:33 • Atualizada em 9 de novembro de 2019 - 12:54

O trabalho de replantio começou com a participação de voluntários, mas aos poucos acabou se profissionalizando e hoje tem 40 colaboradores. Foto Divulgação
O trabalho de replantio começou com a participação de voluntários, mas aos poucos acabou se profissionalizando e hoje tem 40 colaboradores. Foto Divulgação
O trabalho de replantio começou com a participação de voluntários, mas aos poucos acabou se profissionalizando e hoje tem 40 colaboradores. Foto Divulgação

A aprazível cidade de Miguel Pereira, na região centro-sul do estado do Rio de Janeiro, é conhecida há décadas pela fama de ter o terceiro melhor clima do mundo. Não se sabe ao certo como são medidos os requisitos para alcançar esse status, mas a verdade é que o desmatamento da exuberante vegetação do lugar colocava em risco o título.  Durante mais de um século, incontáveis aroeiras, ipês, jacarandás e outras árvores foram derrubadas impiedosamente nas matas do entorno. Há sete anos, as clareiras eram visíveis da rodovia que corta a serra que leva ao município. Quem passar pelo local hoje, porém, vai ver que a paisagem mudou muito. Para melhor.

LEIA MAIS: Brasil já perdeu 89 milhões de hectares de florestas

LEIA MAIS: Como gerar dois milhões de empregos em dez anos?

A Serra de Miguel Pereira, antes devastada, está verde novamente. O trecho apresenta a mudança mais visível de um ambicioso esforço de reflorestamento que começou em 2007. Muita gente soube da boa nova sem precisar circular por aquela estrada. Postadas no Facebook, as fotos do “antes e depois” da mata recuperada viralizaram: foram vistas por 350 mil pessoas e curtidas 24 mil vezes. A transformação é resultado do trabalho iniciado por Maurício Ruiz, que ainda adolescente criou o Instituto Terra de Preservação Ambiental (ITPA). “Fundei a organização ambientalista quando tinha 14 anos e hoje é uma das maiores organizações na preservação da mata atlântica do país”, orgulha-se.

Antes e depois, as imagens vistas da rodovia que corta a serra que leva ao município. Foto Divulgação
Antes e depois, as imagens vistas da rodovia que corta a serra que leva ao município. Foto Divulgação

Sob o comando de Ruiz, que é técnico em agropecuária e cientista político, o ITPA desenvolveu em Miguel Pereira o que garante ser a maior iniciativa de reflorestamento da história do Estado do Rio de Janeiro. Foram plantadas 2 milhões de árvores no município, boa parte na serra, e a floresta hoje está em expansão.

A organização promove o reflorestamento em várias cidades fluminenses, com foco em corredores ecológicos. A maior parte das ações são desenvolvidas em Miguel Pereira, ao redor da reserva do Tinguá, e em Rio Claro. “A ação foi pensada cientificamente para ter o máximo de eficiência”, explica Ruiz. “Uma coisa é reflorestar um ponto específico no meio do nada, outra coisa é através desse reflorestamento conectar fragmentos maiores, o efeito é muito mais significativo”. Dessa forma, o ITPA fez 2 mil hectares de reconstituição das matas no estado, conectando mais de 15 mil hectares de florestas.

Maurício Ruiz, ainda adolescente criou o Instituto Terra de Preservação Ambiental (ITPA). Foto Divulgação
Maurício Ruiz, ainda adolescente criou o Instituto Terra de Preservação Ambiental (ITPA). Foto Divulgação

O Instituto começou com a participação de voluntários, mas aos poucos acabou se profissionalizando e hoje tem 40 colaboradores. Foram plantadas até agora 3,2 milhões de árvores e a meta é chegar a 20 milhões em 15 anos. O reflorestamento acontece em dois ciclos: o primeiro objetivo é cessar a degradação, para em seguida promover o enriquecimento da flora. Mais de 100 nascentes que abastecem a Região Metropolitana do Rio de Janeiro estão recuperadas hoje graças a esse método.

Apesar dos avanços, Ruiz reconhece que o Brasil está ultrapassado quando se trata de iniciativas de recomposição da mata. “A China plantou nos últimos anos 50 bilhões árvores, é o maior reflorestamento da história da humanidade. Estão transformando deserto em floresta”, relata ele. “A India plantou em um único mutirão 20 milhões árvores, botaram toda a população para plantar juntos. Há outras ações na África subsaariana”.

O criador do ITPA diz que o trabalho ambiental no país enfrenta hoje muitas barreiras. A maior dificuldade é a oposição do governo federal, que não se alinha com as metas internacionais de conservação e mudança do clima. “Com isso, diminuem muito os apoios, tanto privados quanto internacionais. Recursos públicos, então, escassearam completamente”. Um importante apoiador durante muito tempo foi o BNDES, que ajudou a criar a Iniciativa Mata Atlântica, fundo que teve excelente repercussão internacional. “Agora, o governo não apoia mais esse tipo de iniciativa, vê as organizações como inimigas, como adversárias”, lamenta. A crise econômica piora tudo.

A China plantou nos últimos anos 50 bilhões árvores, é o maior reflorestamento da história da humanidade. Estão transformando deserto em floresta. A India plantou em um único mutirão 20 milhões árvores, botaram toda a população para plantar juntos

Apesar disso, Ruiz não esmorece. Lembra de outros tempos difíceis, como quando ocorreu a queimada na Serra de Miguel Pereira, em 2014, causando prejuízo enorme em áreas de restauração florestal. Foram danificados anos de trabalho de centenas de trabalhadores e trabalhadoras. Todos, porém, concordaram em recomeçar as atividades e o resultado foi alcançado. “Recordo a emoção de quando a gente chegou a um milhão de árvores plantadas. Atingimos essa marca numa área muito difícil”, conta ele. Contra tudo e contra todos, os ambientalistas do ITPA continuarão trabalhando para ultrapassar os novos obstáculos. “As pessoas estão precisando de boas notícias”, justifica.

Chico Alves

Chico Alves tem 30 anos de profissão: por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Na maior parte da carreira atuou como editor-assistente na revista ISTOÉ, mais precisamente por 19 anos. Foi editor-chefe do jornal O DIA por mais de três anos. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho.

Newsletter do #Colabora

Um jeito diferente de ver e analisar as notícias da semana, além dos conteúdos dos colunistas e reportagens especiais. A gente vai até você. De graça, no seu e-mail.

10 comentários “Miguel Pereira planta dois milhões de árvores

  1. Gislea dos Santos Teixeira disse:

    Exemplo maravilhoso para todo o Brasil. Conheço a cidade, o calor superou a fama do melhor clima.
    Morando em Juiz de Fora/MG, sinto inveja da atitude de vcs,
    A cada ano que passa Juiz de Fora perde a mata para a construção civil. Não respiramos o mesmo ar de 42 anos atrás, já sonhei em praticar replantio de árvores nativas, porém em vão. Não existe interesse e nem apoio de quem quer que seja. Mas, as queimadas são constantes.

    • Ana Vitória Fernandes da Silva disse:

      Quanta beleza , que preenche meu corpo de emoção e esperança!! Gostaria muito de colaborar de forma presencial , como poderia? Vcs aceitam?

  2. Vanderlei Pereira da Silva disse:

    Orgulho de ter trabalho no itpa, ajudando a este tão maravilhoso projeto e ver hoje o resultado, aqui na nossa Serra de Francisco Fragoso. Parabéns itpa!!

  3. Anderson Veras disse:

    Excelente trabalho, importante tb fiscalizar é punir os responsáveis pelo desmatamento, região Sertanzinho árvores centenárias sendo derrubadas a luz do dia…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *