A Amazônia teve 2.308 focos de calor em junho, o maior número de queimadas desde 2007 para o mesmo mês. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), é o segundo ano consecutivo com recorde histórico para o mês: em junho de 2020, foram registrados 2.248 focos de calor – o número de 2021 significa um aumento de 2,6%.
Os dados do Inpe mostram que a situação já preocupa na Amazônia antes mesmo do início da temporada de queimadas, que se inicia em agosto de cada ano e dura cerca de quatro meses. “Estamos vivendo um momento muito triste para a floresta e seus povos. Eles estão sendo atacados por todos os lados, seja pelos desmatadores, grileiros, madeireiros e garimpeiros que avançam sobre a floresta ou territórios, seja por meio do Congresso e do Poder Executivo que, não só não combatem esses crimes e danos ambientais, como os estimulam, seja por atos ou omissões”, disse Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.
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Veja o que já enviamosMaio já havia sido um mês de recorde de fogo: os satélites do Inpe registraram 1.166 focos, aumento de 49% em relação ao registrado em maio de 2020. O número em maio deste ano também foi 34,5% superior à média histórica do mês.
Na comparação entre maio e junho de 2021, o aumento nos focos de queimadas, de acordo com os dados do Inpe, foi de 98% de um mês para o outro. comparado com dos anos anteriores.
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, lembrou que a temporada de seca e fogo na Amazônia está apenas começando. “Na Amazônia, fogo e desmatamento andam de mãos dadas. Para combatê-los, é necessário muito empenho, ações estratégicas e repressão ao crime. Infelizmente, sabemos que o atual governo não fará nada disso. Ao contrário, Bolsonaro é hoje o principal responsável pela crescente destruição da maior floresta tropical do planeta”, afirmou Astrini.
Os dados do Inpe também mostram o crescimento das queimadas também no Cerrado para junho. Foram registrados 4.181 focos de incêndio no bioma no mês, quase dois mil focos a mais do que o registrado na Amazônia. O fogo no Cerrado em junho também foi 58% maior em relação a maio, quando o Inpe detectou 2.649 focos de calor.
O Observatório do Clima lembrou que o alerta do Inpe coincidiu com mais uma troca de comando no Ibama, dessa vez no Prevfogo, principal centro de combate a incêndios do governo federal. O Diário Oficial da União desta quarta (01/07) trouxe a exoneração do chefe da área, Ricardo Vianna Barreto, e a nomeação de outro bombeiro do Distrito Federal, Paulo César Nery.
Na segunda (28/06), o presidente Jair Bolsonaro assinou decreto autorizando a terceira fase da operação militar Verde Brasil com objetivo – não alcançado nas duas fases anteriores – de garantir a lei e a ordem na floresta e combater o desmatamento. O novo decreto estabelece que os militares atuarão apenas em áreas da União, em 26 municípios considerados prioritários, no Amazonas, Pará, Rondônia e Mato Grosso.
Pelo decreto, a nova missão de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) tem como objetivo fazer ações preventivas e repressivas contra delitos ambientais, em especial o desmatamento ilegal. O texto prevê que as Forças Armadas atuarão em coordenação com o Conselho da Amazônia e em articulação com os órgãos de proteção ambiental e de segurança pública. “Essa nova GLO é uma versão anêmica do que não deu certo”, criticou Marcio Astrini. Na terça-feira, governo federal suspendeu por 120 dias o uso de fogo no território nacional – o que também foi feito, sem sucesso, em 2020.
Em 2020, as multas do Ibama por crimes contra a flora na Amazônia caíram pela metade em relação a 2018, mesmo com o envio de mais de 3 mil militares para a Amazônia, a partir de maio do ano passado. Os embargos despencaram 85% no mesmo período.