Curupira, aplicativo em defesa dos animais

Estudantes da UFPI criam app para smartphone que facilita denúncias de tráfico e caça de animais silvestres ao Ibama

Por Barbara Lopes | ODS 15ODS 4 • Publicada em 10 de agosto de 2019 - 10:12 • Atualizada em 11 de agosto de 2019 - 01:43

Estudantes e professores da UFPI com funcionários do Ibama: parceria para facilitar denúncias de tráfico e caça de animais através de aplicativo (Foto: Wedson Medeiros)
Estudantes e professores da UFPI com funcionários do Ibama: parceria para facilitar denúncias de tráfico e caça de animais através de aplicativo (Foto: Wedson Medeiros)

Os defensores dos animais silvestres estão prestes a ganhar ajuda extra do mundo digital com o lançamento do app Curupira. O conhecido personagem do folclore nacional, protetor das matas e dos animais, empresta seu nome para o aplicativo para smartphone criado por alunos da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A intenção dos estudantes foi desenvolver uma ferramenta que facilitasse a denúncia de tráfico e caça de animais silvestres para o Ibama: o aplicativo é uma alternativa barata e eficiente para que as denúncias sejam realizadas de forma simples e segura. Atualmente, o principal canal de denúncias é a Linha Verde, telefone que recebe também todo o tipo de sugestões, elogios, reclamações ou solicitações.

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Com a orientação dos professores Wedson Medeiros e Bruno Pralon, do departamento de Biologia da UFPI, os alunos do curso de licenciatura em Ciências Biológicas Daniele Tertulino, Nilton Teixeira, Joanara Oliveira, Pablo Oliveira e Luiza Ester Alves se juntaram aos alunos do curso de Ciência da Computação Pedro Ivo Soares e Wellyson Vieira e desenvolveram o aplicativo que está previsto para ser lançado em setembro de 2019. “Era para apresentar um trabalho que fosse ligado ao assunto de lei de caça. Uma das colegas deu a ideia de criar um aplicativo e os cinco concordaram”, conta Nilton Teixeira, 49 anos, aluno do 6º período de Ciências Biológicas.

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Discutimos e chegamos ao consenso de desenvolver um aplicativo que conseguisse realizar a denúncia de tráfico e caça de animais silvestres para o Ibama, já que é um órgão que passa por diversas limitações nesse momento, inclusive de pessoal. Então deveria ser uma ferramenta prática e que de fato pudesse contribuir com o órgão fiscalizador

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Nilton e seus colegas cursavam a disciplina de Legislação Ambiental, ministrada pelo professor Bruno Pralon, quando tiveram a ideia do aplicativo para smartphone. Como não tinham conhecimentos aprofundados para criar o app, o grupo procurou amigos do curso de Ciência da Computação para desenvolver o projeto – o Curupira ainda era apenas um esboço. A ideia entusiasmou os estudantes que buscaram a orientação do professor Wedson Medeiros, pesquisador do tema de caça. “Os alunos me procuraram, disseram que estavam com a ideia de fazer um aplicativo. Então discutimos e chegamos ao consenso de desenvolver um aplicativo que conseguisse realizar a denúncia de tráfico e caça de animais silvestres para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), já que é um órgão que passa por diversas limitações nesse momento, inclusive de pessoal. Então deveria ser uma ferramenta prática e que de fato pudesse contribuir com o órgão fiscalizador”, explica o professor.

Curupira: inspiração no folclore brasileiro (Reprodução)
Curupira: inspiração no folclore brasileiro (Reprodução)

É importante ressaltar que o app não busca substituir a Linha Verde, mas complementar e tornar mais fácil a denúncia. O grupo pensou em detalhes que farão a diferença no resultado por considerar tanto o contexto da biodiversidade quanto o contexto social dos usuários. O aplicativo levou 7 meses para chegar à sua versão final e foi pensado para funcionar em smartphones com sistema operacional Android, por ser este o utilizado pela maioria da população.

O app também possibilita que a denúncia seja realizada sem conexão com a internet e o relatório da denúncia gerado ao final, é enviado automaticamente quando o smartphone se conectar novamente à internet, se tornando útil em muitas áreas que não são alcançadas pelo sinal de telefonia. Será possível também incluir fotos, escrever textos ou enviar a denúncia por áudios. Além disso, através do app será possível conhecer sobre a fauna da região.

Aplicativo dá opções do tipo de crime a ser denunciado (Reprodução)
Aplicativo dá opções do tipo de crime a ser denunciado (Reprodução)

Embora o app Curupira já esteja em sua versão final e pronto para ser lançado, ainda está em fase de testes com o Ibama do Piauí. “A equipe do Ibama no Piauí é muito proativa em termos de trabalhos colaborativos, trabalham de forma muito integrada com outras autarquias públicas. Desde o começo, tiveram total receptividade para o projeto e deram todo o apoio possível, então nosso trabalho é muito positivo”, afirma Wedson.

Os funcionários do Ibama que receberão as denúncias estão sendo treinados para interligar as denúncias com o sistema do instituto. Quando o treinamento for finalizado, o Curupira será lançado no Piauí e Maranhão, mas os idealizadores pretendem expandir sua utilização para todo o país até o final do ano caso seja autorizado pelo Governo Federal.

Vítimas também podem ser indicadas pelo Curupira (Reprodução)
Vítimas também podem ser indicadas pelo Curupira (Reprodução)

Alunos do 8º período de Ciência da Computação, Pedro Ivo Soares e Wellyson Vieira, ambos de 23 anos, foram convidados pelos colegas de Biologia para entrar no projeto e ajudar com a  tecnologia. “Como alunos de Ciência da Computação, tivemos como papel tirar a ideia do planejamento e tornar ela algo concreto e que pudesse ser utilizado, assim como também pensamos em como fazer com que o aplicativo fosse facilmente utilizável pelo maior público possível. Procuramos pensar nos melhores recursos a nosso alcance para desenvolver um produto de qualidade”, diz Pedro Ivo.

Os alunos não sabiam se sua ideia seria aceita pelo Ibama com facilidade e ficaram surpresos: “A princípio, houve uma certa insegurança quanto à reação do Ibama, pois não sabíamos se eles iriam aprovar a ideia. Entretanto, o Ibama foi bem receptivo e nos recebeu de portas abertas em todos os encontros. É realmente uma honra poder contribuir, ao menos um pouco, com o bem estar do meio ambiente”, acrescenta o estudante.

Alunos de licenciatura em Ciências Biológicas e Ciência da Computação da UFPI: união para criar aplicativo em defesa dos animais (Foto: Wedson Medeiros)
Alunos de licenciatura em Ciências Biológicas e Ciência da Computação da UFPI: união para criar aplicativo em defesa dos animais (Foto: Wedson Medeiros)

“Nunca imaginei que uma simples apresentação de trabalho poderia chegar a esse ponto. E fico muito orgulhosa pela minha equipe”, diz Joanara Oliveira, 20 anos, aluna do 6º período de Ciências Biológicas. Para a aluna, a criação do aplicativo somente foi possível porque o professor Bruno Pralon incentivou os alunos a fazerem algo diferente. “Foi possível fugir de aulas monótonas e ele fez com que os alunos exercessem sua criatividade diante dos assuntos propostos; recebemos críticas e sugestões que ajudaram muito. O professor viu um grande potencial juntamente com toda a turma e fez com que o trabalho fosse levado a diante. Estamos muito satisfeitos com todos os passos até aqui. Já fizemos apresentações em escolas, fizemos entrevistas para TV local e apresentações em congressos”, afirma aluna, orgulhosa do Curupira que, mesmo ainda não estando disponível para o uso, já está ganhando prêmios. Em junho, o aplicativo da UFPI ficou em 1º lugar, na modalidade oral, no II Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí.

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Barbara Lopes

Formada em Letras/Literaturas pela Universidade Federal Fluminense, carioca que não vai à praia, mas vive na floresta e na selva da cidade. Cursando graduação em Jornalismo na UFRJ. Acredita que a leitura e o diálogo transformam o mundo.

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