ODS 1
Curupira, aplicativo em defesa dos animais
Estudantes da UFPI criam app para smartphone que facilita denúncias de tráfico e caça de animais silvestres ao Ibama
Os defensores dos animais silvestres estão prestes a ganhar ajuda extra do mundo digital com o lançamento do app Curupira. O conhecido personagem do folclore nacional, protetor das matas e dos animais, empresta seu nome para o aplicativo para smartphone criado por alunos da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A intenção dos estudantes foi desenvolver uma ferramenta que facilitasse a denúncia de tráfico e caça de animais silvestres para o Ibama: o aplicativo é uma alternativa barata e eficiente para que as denúncias sejam realizadas de forma simples e segura. Atualmente, o principal canal de denúncias é a Linha Verde, telefone que recebe também todo o tipo de sugestões, elogios, reclamações ou solicitações.
Leia mais reportagens da série #100diasdebalbúrdiafederal
Com a orientação dos professores Wedson Medeiros e Bruno Pralon, do departamento de Biologia da UFPI, os alunos do curso de licenciatura em Ciências Biológicas Daniele Tertulino, Nilton Teixeira, Joanara Oliveira, Pablo Oliveira e Luiza Ester Alves se juntaram aos alunos do curso de Ciência da Computação Pedro Ivo Soares e Wellyson Vieira e desenvolveram o aplicativo que está previsto para ser lançado em setembro de 2019. “Era para apresentar um trabalho que fosse ligado ao assunto de lei de caça. Uma das colegas deu a ideia de criar um aplicativo e os cinco concordaram”, conta Nilton Teixeira, 49 anos, aluno do 6º período de Ciências Biológicas.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosLEIA MAIS: Smartphones estão ajudando pequenos agricultores na África
LEIA MAIS: Os games que estão ajudando a mudar o mundo para melhor
[g1_quote author_name=”Wedson Medeiros” author_description=”Professor de Ciências Biológicas da UFPI” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]
Discutimos e chegamos ao consenso de desenvolver um aplicativo que conseguisse realizar a denúncia de tráfico e caça de animais silvestres para o Ibama, já que é um órgão que passa por diversas limitações nesse momento, inclusive de pessoal. Então deveria ser uma ferramenta prática e que de fato pudesse contribuir com o órgão fiscalizador
[/g1_quote]Nilton e seus colegas cursavam a disciplina de Legislação Ambiental, ministrada pelo professor Bruno Pralon, quando tiveram a ideia do aplicativo para smartphone. Como não tinham conhecimentos aprofundados para criar o app, o grupo procurou amigos do curso de Ciência da Computação para desenvolver o projeto – o Curupira ainda era apenas um esboço. A ideia entusiasmou os estudantes que buscaram a orientação do professor Wedson Medeiros, pesquisador do tema de caça. “Os alunos me procuraram, disseram que estavam com a ideia de fazer um aplicativo. Então discutimos e chegamos ao consenso de desenvolver um aplicativo que conseguisse realizar a denúncia de tráfico e caça de animais silvestres para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), já que é um órgão que passa por diversas limitações nesse momento, inclusive de pessoal. Então deveria ser uma ferramenta prática e que de fato pudesse contribuir com o órgão fiscalizador”, explica o professor.
É importante ressaltar que o app não busca substituir a Linha Verde, mas complementar e tornar mais fácil a denúncia. O grupo pensou em detalhes que farão a diferença no resultado por considerar tanto o contexto da biodiversidade quanto o contexto social dos usuários. O aplicativo levou 7 meses para chegar à sua versão final e foi pensado para funcionar em smartphones com sistema operacional Android, por ser este o utilizado pela maioria da população.
O app também possibilita que a denúncia seja realizada sem conexão com a internet e o relatório da denúncia gerado ao final, é enviado automaticamente quando o smartphone se conectar novamente à internet, se tornando útil em muitas áreas que não são alcançadas pelo sinal de telefonia. Será possível também incluir fotos, escrever textos ou enviar a denúncia por áudios. Além disso, através do app será possível conhecer sobre a fauna da região.
Embora o app Curupira já esteja em sua versão final e pronto para ser lançado, ainda está em fase de testes com o Ibama do Piauí. “A equipe do Ibama no Piauí é muito proativa em termos de trabalhos colaborativos, trabalham de forma muito integrada com outras autarquias públicas. Desde o começo, tiveram total receptividade para o projeto e deram todo o apoio possível, então nosso trabalho é muito positivo”, afirma Wedson.
Os funcionários do Ibama que receberão as denúncias estão sendo treinados para interligar as denúncias com o sistema do instituto. Quando o treinamento for finalizado, o Curupira será lançado no Piauí e Maranhão, mas os idealizadores pretendem expandir sua utilização para todo o país até o final do ano caso seja autorizado pelo Governo Federal.
Alunos do 8º período de Ciência da Computação, Pedro Ivo Soares e Wellyson Vieira, ambos de 23 anos, foram convidados pelos colegas de Biologia para entrar no projeto e ajudar com a tecnologia. “Como alunos de Ciência da Computação, tivemos como papel tirar a ideia do planejamento e tornar ela algo concreto e que pudesse ser utilizado, assim como também pensamos em como fazer com que o aplicativo fosse facilmente utilizável pelo maior público possível. Procuramos pensar nos melhores recursos a nosso alcance para desenvolver um produto de qualidade”, diz Pedro Ivo.
Os alunos não sabiam se sua ideia seria aceita pelo Ibama com facilidade e ficaram surpresos: “A princípio, houve uma certa insegurança quanto à reação do Ibama, pois não sabíamos se eles iriam aprovar a ideia. Entretanto, o Ibama foi bem receptivo e nos recebeu de portas abertas em todos os encontros. É realmente uma honra poder contribuir, ao menos um pouco, com o bem estar do meio ambiente”, acrescenta o estudante.
“Nunca imaginei que uma simples apresentação de trabalho poderia chegar a esse ponto. E fico muito orgulhosa pela minha equipe”, diz Joanara Oliveira, 20 anos, aluna do 6º período de Ciências Biológicas. Para a aluna, a criação do aplicativo somente foi possível porque o professor Bruno Pralon incentivou os alunos a fazerem algo diferente. “Foi possível fugir de aulas monótonas e ele fez com que os alunos exercessem sua criatividade diante dos assuntos propostos; recebemos críticas e sugestões que ajudaram muito. O professor viu um grande potencial juntamente com toda a turma e fez com que o trabalho fosse levado a diante. Estamos muito satisfeitos com todos os passos até aqui. Já fizemos apresentações em escolas, fizemos entrevistas para TV local e apresentações em congressos”, afirma aluna, orgulhosa do Curupira que, mesmo ainda não estando disponível para o uso, já está ganhando prêmios. Em junho, o aplicativo da UFPI ficou em 1º lugar, na modalidade oral, no II Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”none” size=”s” style=”solid” template=”01″]85/100 A série #100diasdebalbúrdiafederal pretende mostrar, durante esse período, a importância das instituições federais e de sua produção acadêmica para o desenvolvimento do Brasil
[/g1_quote]Relacionadas
Formada em Letras/Literaturas pela Universidade Federal Fluminense, carioca que não vai à praia, mas vive na floresta e na selva da cidade. Cursando graduação em Jornalismo na UFRJ. Acredita que a leitura e o diálogo transformam o mundo.