Cerrado: 81% do desmatamento concentrado em cinco bacias hidrográficas

Área desmatada no Cerrado: 81% do desmatamento no bioma se concentrou nas bacias hidrográficas do Alto Tocantins, São Francisco Médio, Alto Parnaíba, Itapecuru e Araguaia (Foto: Rafael Coelho/IPAM)

Bioma perdeu 1 milhão de hectares em 2023, elevando o risco hídrico em 373 municípios da região; Bacia do Tocantins Alto foi a mais afetada

Por #Colabora | ODS 15 • Publicada em 22 de março de 2024 - 14:14 • Atualizada em 27 de março de 2024 - 07:55

Área desmatada no Cerrado: 81% do desmatamento no bioma se concentrou nas bacias hidrográficas do Alto Tocantins, São Francisco Médio, Alto Parnaíba, Itapecuru e Araguaia (Foto: Rafael Coelho/IPAM)

Em 2023, 81% do desmatamento no Cerrado se concentrou nas regiões abastecidas pelas bacias hidrográficas do Alto Tocantins, São Francisco Médio, Alto Parnaíba, Itapecuru e Araguaia, potencialmente elevando o risco hídrico de 373 municípios na região. Dados foram publicados nesta sexta-feira (22/03) pelo SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado), desenvolvido pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Em 2023, os alertas de desmatamento no Cerrado apontaram uma área afetada de mais de 1 milhão de hectares, um aumento de 30% em relação aos alertas identificados pelo SAD Cerrado em 2022, quando foram derrubados 815 mil hectares do bioma.

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Conhecido como a caixa d’água do Brasil por abrigar oito das doze principais regiões hidrográficas brasileiras, o Cerrado tem reduzido sua capacidade de absorção e retenção de água por conta da perda de vegetação nativa. As altas taxas de desmatamento nessas áreas podem causar diversos impactos negativos nos recursos hídricos, como o rebaixamento dos lençóis freáticos e o aumento do risco de escassez de água. “O desmatamento afeta diretamente os recursos hídricos, e estudos recentes mostram uma diminuição da vazão dos rios no Cerrado nos últimos anos devido às altas taxas de desmatamento no bioma. Essa redução pode impactar o abastecimento hídrico de cidades, a produção de energia elétrica e a agropecuária”, alerta a geógrafa Fernanda Ribeiro, coordenadora do SAD Cerrado e pesquisadora do IPAM.

Essas bacias estão localizadas no norte do Cerrado e na região do Matopiba, onde se concentram as grandes áreas de desmatamento e as nascentes dos principais rios brasileiro, como por exemplo o Rio Araguaia e o Rio Tocantins. A região também concentra a maior parte dos remanescentes de vegetação nativa do bioma.

Bacias ameaçadas pelo desmatamento no Cerrado (Ilustração: IPAM)
Bacias ameaçadas pelo desmatamento no Cerrado (Ilustração: IPAM)

Na bacia do Tocantins Alto, segunda maior do bacia do Cerrado e a mais desmatada em 2023 no bioma, foram perdidos 274 mil hectares de vegetação nativa – 26% de tudo que foi perdido em 2023. A bacia abriga as nascentes do Rio Tocantins, segundo maior território brasileiro e serve como uma rota comercial fundamental para o escoamento e irrigação da produção agrícola na região central do País.

Já a bacia do Médio São Francisco, sexta maior do país e a segunda mais desmatada em 2023 no Cerrado, perdeu 200 mil hectares de vegetação nativa – 14,4% de todo o desmatamento do ano passado no bioma. Essa bacia abriga as principais afluentes do Rio São Francisco que se estende por 2.863 km, abastece mais de 15 milhões de habitantes e possui quatro usinas de geração de energia que, juntas, possuem produção estimada em 9.9 milhões de quilowatts, mas que se encontra ameaçada pelas secas cada vez mais frequentes.

A bacia do Alto Parnaíba teve 189 mil hectares de sua vegetação desmatada – cerca de 13% do desmatamento do bioma em 2023. A bacia abriga as nascentes do Rio Parnaíba, localizado na região central do Matopiba. Essa região é dominada por grandes propriedades, com um crescente uso de água para a irrigação de sua produção. Em 2023, um Parque Nacional foi criado para proteger suas nascentes, mas esse esforço de conservação parece ser ainda insuficiente para a conservação dos recursos hídricos da região.

“A proteção das bacias hidrográficas do Cerrado depende de um melhor entendimento e caracterização da destinação da água do bioma, aliado à uma estratégia integrada entre os setores público e privado. Além disso, é necessário implementar e reforçar políticas públicas que promovam a conservação dos remanescentes de vegetação nativa e a restauração de áreas degradadas em locais estratégicos nas bacias hidrográficas”, destaca a coordenadora do SAD Cerrado, projeto de monitoramento mensal e automático que utiliza imagens de satélites ópticos do sensor Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia.

Em fevereiro de 2024, o SAD Cerrado – que fornece alertas de supressão de vegetação nativa para todo o bioma desde agosto de 2020 – detectou 38 mil hectares de desmatamento no Cerrado, uma redução de 52% em relação a fevereiro de 2023, quando o desmatamento somou 79 mil hectares. Os estados mais afetados foram o Tocantins, com 10 mil hectares desmatados, Bahia, com 8 mil hectares desmatados e Piauí, que perdeu 5 mil hectares de vegetação nativa. O município de Cocos localizado no oeste da Bahia foi o responsável pela maior área desmatada, totalizando 3 mil hectares desmatados.

Em relação às bacias hidrográficas, o cenário se repete no primeiro bimestre de 2024. Nos dois primeiros meses do ano o Cerrado já acumulou 89 mil hectares desmatados. Desse total, 83% estão concentrados em cinco das vinte e quatro bacias hidrográficas do Cerrado (São Francisco Médio com 24 mil hectares; Tocantins Alto com 22 mil hectares; Parnaíba Alto com 15 mil hectares; Parnaíba Baixo com 6 mil hectares e Araguaia com 5 mil hectares desmatados).

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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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