Arqueologias amazônicas revelam outras formas de habitar o planeta

Filme investiga pinturas do Parque Nacional Chiribiquete, na Colômbia. Produção integra coleção do !CurtaOn sobre a COP30

Por Micael Olegário | ODS 15
Publicada em 6 de novembro de 2025 - 08:07  -  Atualizada em 6 de novembro de 2025 - 08:07
Tempo de leitura: 7 min

Pinturas do Parque Nacional Chiribiquete, na Colômbia, possuem características semelhantes com as da Serra da Capivara, no Brasil (Foto: Divulgação)

Tartarugas, bagres, macacos, cervos e, principalmente, onças ou jaguares. As pinturas rupestres encontradas no Parque Nacional Chiribiquete, na Colômbia, revelam as relações dos povos amazônicos com outros seres e com a natureza. Esses pictogramas mostram também a criatividade e a história dessas comunidades ameríndias, muito antes da invasão da Amazônia pelos europeus. 

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“É uma grande biblioteca da história do mundo americano”, afirma Carlos Castaño Uribe, antropólogo e diretor científico da Fundación Herencia Ambiental Caribe (Fundação do Patrimônio Ambiental do Caribe). O trabalho de Carlos no Parque Nacional do Chiribiquete é o fio condutor de “Arqueologias Amazônicas: Memórias de Chiribiquete”, uma das produções da Coleção COP30, disponível no !CurtaOn, plataforma de streaming do Canal !Curta.

O documentário, lançado no Brasil em julho, descreve as investigações arqueológicas e antropológicas em diferentes locais da Amazônia, principalmente no Chiribiquete. O local, também chamado de “Maloca da Onça”, é reconhecido pela biodiversidade e pela presença das tepuis, montanhas em forma de mesa. Ao todo, mais de 75 mil pictografias rupestres já foram catalogadas nas paredes de 60 abrigos rochosos ao pé de tepuis do parque.

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“Estima-se que conhecemos muito pouco do Chiribiquete, menos de 10%. Há muitos fatores que impediram o ingresso de investigadores, o primeiro é financeiro, até hoje segue sendo muito custoso fazer pesquisas na Amazônia. Além disso, tem os conflitos no país”, explica Fernando Montejo, pesquisador do Instituto Colombiano de Antropologia e História. O parque está localizado em uma área que esteve sob domínio das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Produzido pelo diretor suíço-colombiano Juan José Lozano, o documentário acompanha um grupo de pesquisadores liderado por Carlos Castaño, em análise dos pictogramas do Chiribiquete. O longa também relaciona as descobertas em solo colombiano com outras investigações arqueológicas, como as feitas pela arqueóloga Niéde Guidon, no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Brasil.

Arqueologia e cosmogonia

Parte chave do esforço dos pesquisadores que trabalham no Chiribiquete é datar as pinturas rupestres do local. Esse trabalho envolve diferentes elementos, como analisar o solo próximo às tepuis, a composição química e as técnicas de pintura. Outra parte da investigação requer a escuta com atenção dos povos tradicionais da Amazônia.

Tanto na Colômbia quanto no Brasil, os arqueólogos identificaram elementos em comum nas pinturas, como a exaltação à figura da onça, mais conhecida como jaguar nos demais países amazônicos. “Aqui estão expressões que mostram que, para eles, desde o início, este é o centro do mundo. E é um centro mágico, espiritual e xamânico. Não há um só mural em que o jaguar não é o protagonista principal”, destaca Carlos Castaño.

As arqueologias amazônicas também ajudam a romper com estereótipos construídos pelos colonizadores acerca dos povos que habitavam os territórios, mostrando sua criatividade e cultura. “Uma maneira de se apropriar da paisagem é intervir artisticamente”, destaca Fernando Urbina Rangel, filósofo e responsável por pesquisas que envolvem petróglifos amazônicos

Diferente das pinturas rupestres, os petróglifos apresentam características de raspagem e perfuração das rochas. Fernando foi responsável por descobrir diversos petróglifos nas margens dos rios da região, o que indica a importância dos cursos de água para a dispersão desses povos pela Amazônia.

“Quando falamos de pinturas rupestres, não existem fronteiras, porque são grupos que se dispersaram pela região. É um quebra-cabeça que evolui gradualmente”, aponta Nathalia Nogueira, doutora em arqueologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), outra das pesquisadoras entrevistadas no documentário.

No caso do Chiribiquete, a estimativa é de que as pinturas nos tepuis tenham cerca de 19.500 anos. Em comparação, as descobertas de Niéde Guidon na Serra da Capivara indicam pictogramas com 35 mil até 50 mil anos. Para Fernando, o trabalho arqueológico ajuda a contrapor a desvalorização dos saberes e identidades dos povos ameríndios. “O desprezo pela arte rupestre – que é predominante uma arte indígena – é concomitante com uma atitude racista e classista que despreza as origens da maioria dos colombianos”. O mesmo vale para o Brasil e outros países latino-americanos.

Foto colorida de tepui, montanha em forma de mesa, com muitas árvores em volta. Parque Nacional Chiribiquete, na Colômbia
Investigações no local recomeçaram após térmico do conflito das FARC (Foto: Divulgação)

Micael Olegário

Jornalista formado pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Gaúcho de Caibaté, no interior do Rio Grande do Sul. Mestrando em Comunicação na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Escreve sobre temas ligados a questões socioambientais, educação e acessibilidade.

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