A Amazônia não pode esperar

Os incêndios são, em sua maioria, criminosos e têm como objetivo preparar a área para a criação de gado. Foto Marcio Pimenta

Divisa do Acre, Amazonas e Rondônia concentra os maiores focos de incêndio da região

Por Marcio Pimenta | ODS 15 • Publicada em 27 de agosto de 2019 - 14:03 • Atualizada em 27 de agosto de 2019 - 18:42

Os incêndios são, em sua maioria, criminosos e têm como objetivo preparar a área para a criação de gado. Foto Marcio Pimenta
Os incêndios são, em sua maioria, criminosos e têm como objetivo preparar a área para a criação de gado. Foto Marcio Pimenta
Os incêndios são, em sua maioria, criminosos e têm como objetivo preparar a área para a criação de gado. Foto Marcio Pimenta

Por Fábio Pontes, Rio Branco (AC) – Enquanto as autoridades internacionais ficam numa troca de acusações sobre a mais recente crise envolvendo a Floresta Amazônica, a região continua a sofrer com os impactos causados pelo desmatamento e as queimadas para transformar áreas de floresta em pasto para o boi, além da retirada ilegal de árvores nobres comercializadas por madeireiras locais.

Dados do Imazon mostram que, em julho, o Acre teve 187 km2 de floresta desmatada. Em julho de 2018, foram 35 km2 – variação de 434%. Do começo do ano para cá, já são mais de 2.500 focos de queimada, sendo que quase todos registrados neste mês de agosto.

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A divisa entre os estados do Acre, Amazonas e Rondônia é uma das que melhor retratam o atual momento vivido pela Amazônia. O leste do Acre, oeste de Rondônia e sul do Amazonas concentram a maior parte dos focos de queimadas nos respectivos estados. O que sobrou de floresta nestas porções agora é alvo dos desmatadores.

O contraste entre a vegetação natural e uma área com a intervenção das pegadas humanas. Foto Marcio Pimenta
O contraste entre a vegetação natural e uma área com a intervenção das pegadas humanas. Foto Marcio Pimenta

Essas são as áreas que concentram as maiores fazendas de gado, a atividade econômica que mais contribui para o aumento do desmatamento na região. Após derrubar áreas de mata nativa, é feito o uso do fogo para a “limpeza” do terreno, que logo em seguida servirá para a pastagem do boi. As queimadas, quando não são controladas, adentram a floresta. Os impactos ao ambiente são incalculáveis, com a destruição da fauna e da flora. Para a população local, há ainda uma ameaça para a saúde com a piora da qualidade do ar. Some-se a isso a baixa umidade relativa do ar, comum nesta época do ano, quando as chuvas estão mais escassas. O Acre é um dos estados da Amazônia Legal mais impactado pela atual crise das queimadas na região.

Além dos incêndios florestais, o estado chama a atenção pela sua crescente taxa de desmatamento. Segundo o mais recente boletim divulgado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em julho, o Acre teve desmatados 187 km2 de floresta. Em julho do ano passado, a área foi de 35 km2 – variação de 434%. Do começo do ano para cá, já são mais de 2.500 focos de queimada, sendo que quase todos eles foram registrados neste mês de agosto, segundo dados do Comitê Estadual de Gestão de Riscos Ambientais. O estado decretou situação de emergência ambiental. Já o Amazonas, apenas em agosto, teve mais de 5.900 focos, enquanto Rondônia superou os 5.300, segundo os dados do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Como uma colcha de retalhos, a Amazônia perde parte da sua exuberância em troca do lucro de curto prazo. Foto Marcio Pimenta
Como uma colcha de retalhos, a Amazônia perde parte da sua exuberância em troca do lucro de curto prazo. Foto Marcio Pimenta

Sem fronteiras para o desmate

A região da tríplice divisa entre Acre, Amazonas e Rondônia já é bastante impactada pela presença de grandes fazendas de gado e de grãos. As áreas que sobraram de floresta sofrem com novos desmatamentos e o uso do fogo a cada período do chamado “verão amazônico” – que vai de junho ao fim de setembro.

A divisa do Acre com o Amazonas é uma das mais problemáticas da Amazônia. Desmatamento, invasão a unidades de conservação e territórios indígenas, mais a grilagem de terras públicas são os casos mais comuns.

Em maio deste ano, a Polícia Federal realizou a operação Ojuara, que desarticulou um esquema entre fazendeiros e funcionários do Ibama. Segundo as investigações, os suspeitos realizavam desmatamento em terras públicas – incluindo áreas de proteção -, legalizavam de forma irregular a posse e, no lugar, colocavam o boi. Os fazendeiros são do Acre com propriedades no município amazonense de Boca do Acre.

Incêndios e desmatamento não são novidades na Amazônia, mas o nível visto em 2019 não possui precedentes. As políticas que foram adotadas recentemente estão debilitando a capacidade da floresta em manter-se de pé. O Fundo Amazônia está parado por debates políticos e ideológicos e os recursos prometidos pelo G7 são bastante tímidos. A Amazônia não pode esperar.

Incêndio na BR 364, entre Rio Branco e Sena Madureira, no Acre. Foto Marcio Pimenta
Incêndio na BR 364, entre Rio Branco e Sena Madureira, no Acre. Foto Marcio Pimenta

Marcio Pimenta

Fotógrafo especialista em documentários, viagens e culturas. Abandonou o doutorado em Relações Internacionais pela Universidad de Santiago do Chile para se dedicar a contar histórias. Atualmente reside em Curitiba (PR). Publica reportagens independentes sobre desastres ambientais, crise hídrica, imigração, trabalho escravo etc. no Guardian (Inglaterra), na National Geographic (Brasil), no El País (Brasil), no Roads and Kingdoms (EUA), no GlobalPost (EUA), na Gazeta do Povo (Paraná) e no #Colabora.

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