Mundo espera mais ação da China pela biodiversidade

Parque Nacional de Potatso, na província chinesa de Yunnan, onde estão 42% das espécies de plantas e 72% dos animais protegidos do país: na Cúpula da ONU sobre biodiversidade, marcada para a capital da província, chineses vão precisar compromisso com proteção da natureza (Foto: Hu Chao / Xinhua / AFP – 06/11/2019)

Conferência da ONU em cidade chinesa será oportunidade para país mais populoso do planeta mostrar compromisso com proteção da natureza

Por José Eduardo Mendonça | ODS 14ODS 15 • Publicada em 23 de julho de 2021 - 07:51 • Atualizada em 27 de julho de 2021 - 12:37

Parque Nacional de Potatso, na província chinesa de Yunnan, onde estão 42% das espécies de plantas e 72% dos animais protegidos do país: na Cúpula da ONU sobre biodiversidade, marcada para a capital da província, chineses vão precisar compromisso com proteção da natureza (Foto: Hu Chao / Xinhua / AFP – 06/11/2019)

Para assegurar um pacto global ambicioso para proteger a natureza, uma conferência de cúpula sobre biodiversidade ainda este ano, no início de outubro, vai exigir uma liderança política mais forte da nação sede, a China.

Cerca de 195 países esperam concordar com um texto para salvaguardar as plantas, animais e ecossistemas, semelhante ao acordo do clima de Paris, em conferência da ONU marcada para acontecer na cidade chinesa de Kunming.

Mais: Países não cumprem metas para deter perdas de biodiversidade

A escolha da sede da cúpula de biodiversidade é simbólica. Kunming é a capital da província de Yunann, no sudoeste da China, que, apesar de ter menos de 4% do território chinês, abriga 42,6% de todas as espécies de plantas protegidas e 72,5% de todos os animais selvagens protegidos do país, dos quais 15% são estritamente endêmicos da província.

Melhor conservação e manejo de áreas naturais, como parques, oceanos, florestas e regiões selvagens são vistos como cruciais para a proteção de ecossistemas dos quais o homem depende, assim como o alcance de metas para para as expectativas internacionais da mudança do clima.

Mas as florestas continuam sendo derrubadas, destruindo a biodiversidade e ameaçando as metas do clima, já que as árvores absorvem um terço das emissões de aquecimento do planeta produzidas em todo o mundo.

No ano passado, um relatório da ONU mostrou que os governos falharam em sua maioria de alcançar metas globais estabelecidas em 2010 para proteger a biodiversidade, embora casos de conservação sugerem que a destruição da natureza pode ser desacelerada e mesmo revertida.

“A China tem a oportunidade de convencer a comunidade global em seu desejo de um futuro melhor”, disse Basile van Havre, co-presidente do grupo que desenvolve o acordo para a Convenção da ONU Sobre Diversidade Biológica (CBD).

China, a maior emissora de gases de efeito estufa do mundo, tem cada vez mais fortalecido sua agenda verde, e em 2020 se comprometeu em alcançar a neutralidade de carbono até 2060.

Mas, como outras grandes economias, a China gera muitos efeitos ambientais colaterais que precisam ser tratados, como o desflorestamento em outros países ligado à alta demanda por alimentos, acrescentou ela.

Enquanto isso, o presidente dos EUA Joe Biden tornou o clima uma ação central em seus primeiros seis meses de governo, e em junho líderes do G7 fizeram compromissos mais substanciais para enfrentar a mudança do clima e a perda da biodiversidade.

Mãe e filhote no Centro de Criação e Resgate de Elefantes Asiáticos, na província chinesa, sede da Cúpula de Biodiversidade da ONU em outubro: preocupação com desaparecimento de espécies (Foto: Li Mangmang / Xinhua / AFP – 13/11/2019)

Em anos recentes, cerca de 75 espécies estão desaparecendo por dia, e se estima que um milhão delas estarão extintas em 2050, lembrou Cai Chaolin, vice-governador na província de Ghizhou.

A Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica (COP 15) deverá determinar se a perda de biodiversidade irá alcançar seu pico em 2030, e os temas principais irão incluir compromissos políticos, abordagens pragmáticas e tecnologias, assim como um possível investimento de capital.

A economia global pode perder até 2.7 trilhões de dólares por ano até 2030, se os países continuarem destruindo a biodiversidade, impactando a polinização, a pesca e a madeiras das florestas.

Isto de acordo com o Banco Mundial, que alertou que as projeções econômicas existentes não conseguem levar em conta o declínio dos serviços da natureza, o que já acontece. Em um cenário como o atual, o mundo pode perder 46 milhões de hectares de terra natural e de áreas de pesca e o número de peixes continuará a cair.

Alguns países, incluindo os EUA, concordaram em proteger 30% do planeta até 2030, um plano chamado de 30/30

Em um pior cenário, no qual o mundo chegue a um ponto de não retorno, nos quais os países não consigam se adaptar a um choque dos serviços do ecossistema, a economia global vai encolher em 2.3%. Ela se contraiu 3.2% no ano passado devido à pandemia, a pior queda em tempos de paz desde a Grande Depressão, afirma o Fundo Monetário Internacional.

Um muro na vila Ma’n, em Xiang, exibe a seguinte frase: “Nós vamos resolutamente vencer a guerra contra a pobreza” – dita pelo presidente chinês Xi Jinping.  A realocação de milhões de pessoas há décadas não irá melhorar a proteção da natureza nas grandes cidades, e nem será a bala de prata contra a pobreza.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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