Mundo espera mais ação da China pela biodiversidade

Conferência da ONU em cidade chinesa será oportunidade para país mais populoso do planeta mostrar compromisso com proteção da natureza

Por José Eduardo Mendonça | ODS 14ODS 15 • Publicada em 23 de julho de 2021 - 07:51 • Atualizada em 27 de julho de 2021 - 12:37

Parque Nacional de Potatso, na província chinesa de Yunnan, onde estão 42% das espécies de plantas e 72% dos animais protegidos do país: na Cúpula da ONU sobre biodiversidade, marcada para a capital da província, chineses vão precisar compromisso com proteção da natureza (Foto: Hu Chao / Xinhua / AFP – 06/11/2019)

Para assegurar um pacto global ambicioso para proteger a natureza, uma conferência de cúpula sobre biodiversidade ainda este ano, no início de outubro, vai exigir uma liderança política mais forte da nação sede, a China.

Cerca de 195 países esperam concordar com um texto para salvaguardar as plantas, animais e ecossistemas, semelhante ao acordo do clima de Paris, em conferência da ONU marcada para acontecer na cidade chinesa de Kunming.

Mais: Países não cumprem metas para deter perdas de biodiversidade

A escolha da sede da cúpula de biodiversidade é simbólica. Kunming é a capital da província de Yunann, no sudoeste da China, que, apesar de ter menos de 4% do território chinês, abriga 42,6% de todas as espécies de plantas protegidas e 72,5% de todos os animais selvagens protegidos do país, dos quais 15% são estritamente endêmicos da província.

Melhor conservação e manejo de áreas naturais, como parques, oceanos, florestas e regiões selvagens são vistos como cruciais para a proteção de ecossistemas dos quais o homem depende, assim como o alcance de metas para para as expectativas internacionais da mudança do clima.

Mas as florestas continuam sendo derrubadas, destruindo a biodiversidade e ameaçando as metas do clima, já que as árvores absorvem um terço das emissões de aquecimento do planeta produzidas em todo o mundo.

No ano passado, um relatório da ONU mostrou que os governos falharam em sua maioria de alcançar metas globais estabelecidas em 2010 para proteger a biodiversidade, embora casos de conservação sugerem que a destruição da natureza pode ser desacelerada e mesmo revertida.

Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.

Veja o que já enviamos

“A China tem a oportunidade de convencer a comunidade global em seu desejo de um futuro melhor”, disse Basile van Havre, co-presidente do grupo que desenvolve o acordo para a Convenção da ONU Sobre Diversidade Biológica (CBD).

China, a maior emissora de gases de efeito estufa do mundo, tem cada vez mais fortalecido sua agenda verde, e em 2020 se comprometeu em alcançar a neutralidade de carbono até 2060.

Mas, como outras grandes economias, a China gera muitos efeitos ambientais colaterais que precisam ser tratados, como o desflorestamento em outros países ligado à alta demanda por alimentos, acrescentou ela.

Enquanto isso, o presidente dos EUA Joe Biden tornou o clima uma ação central em seus primeiros seis meses de governo, e em junho líderes do G7 fizeram compromissos mais substanciais para enfrentar a mudança do clima e a perda da biodiversidade.

Mãe e filhote no Centro de Criação e Resgate de Elefantes Asiáticos, na província chinesa, sede da Cúpula de Biodiversidade da ONU em outubro: preocupação com desaparecimento de espécies (Foto: Li Mangmang / Xinhua / AFP – 13/11/2019)

Em anos recentes, cerca de 75 espécies estão desaparecendo por dia, e se estima que um milhão delas estarão extintas em 2050, lembrou Cai Chaolin, vice-governador na província de Ghizhou.

A Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica (COP 15) deverá determinar se a perda de biodiversidade irá alcançar seu pico em 2030, e os temas principais irão incluir compromissos políticos, abordagens pragmáticas e tecnologias, assim como um possível investimento de capital.

A economia global pode perder até 2.7 trilhões de dólares por ano até 2030, se os países continuarem destruindo a biodiversidade, impactando a polinização, a pesca e a madeiras das florestas.

Isto de acordo com o Banco Mundial, que alertou que as projeções econômicas existentes não conseguem levar em conta o declínio dos serviços da natureza, o que já acontece. Em um cenário como o atual, o mundo pode perder 46 milhões de hectares de terra natural e de áreas de pesca e o número de peixes continuará a cair.

Alguns países, incluindo os EUA, concordaram em proteger 30% do planeta até 2030, um plano chamado de 30/30

Em um pior cenário, no qual o mundo chegue a um ponto de não retorno, nos quais os países não consigam se adaptar a um choque dos serviços do ecossistema, a economia global vai encolher em 2.3%. Ela se contraiu 3.2% no ano passado devido à pandemia, a pior queda em tempos de paz desde a Grande Depressão, afirma o Fundo Monetário Internacional.

Um muro na vila Ma’n, em Xiang, exibe a seguinte frase: “Nós vamos resolutamente vencer a guerra contra a pobreza” – dita pelo presidente chinês Xi Jinping.  A realocação de milhões de pessoas há décadas não irá melhorar a proteção da natureza nas grandes cidades, e nem será a bala de prata contra a pobreza.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

Newsletter do #Colabora

A ansiedade climática e a busca por informação te fizeram chegar até aqui? Receba nossa newsletter e siga por dentro de tudo sobre sustentabilidade e direitos humanos. É de graça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe:

Sair da versão mobile