Os seis biomas do Brasil: uma riqueza sob ameaça

No Dia Mundial do Meio Ambiente, país tem desafio de manter preservado seu patrimônio natural

Por Oscar Valporto | ODS 13ODS 15 • Publicada em 5 de junho de 2025 - 09:30 • Atualizada em 6 de junho de 2025 - 08:47

Reserva florestal na Amazônia: seis biomas do Brasil são uma riqueza sob ameaça (Foto: Tânia Rego / Agência Brasil – 29/11/2024)

Com seu extenso território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados – uma pequena área no Hemisfério Norte, a maior parte nos trópicos, entre a Linha do Equador e o Trópico de Capricórnio, e a região mais ao sul, já abaixo do trópico, em zona de clima temperado -, o Brasil tem seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa. Cada um conta com características únicas e diferentes tipos de vegetação e de fauna. Entretanto essa riqueza ambiental tão rara, encontrada em poucos países do mundo, está ameaçada pela ação humana.

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O desmatamento – a remoção da vegetação nativa e suas consequências – é a ameaça comum a todos os biomas brasileiros. Por suas características e localizações diversas, cada bioma, entretanto, sofre com outros tipos de impacto ambiental causados pelas atividades – muitas vezes, ilegais – de diferentes setores da população. O Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, foi criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1972 exatamente para lembrar dos problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais: para o Brasil, deve ser sempre um momento de celebrar sua diversidade ambiental e buscar preservá-la.

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Conheça mais sobre os seis biomas brasileiros, suas características e suas ameaças:

Área de floresta derrubada no noroeste do Mato Grosso: análise aponta que desmatamento deve levar Brasil a ter aumento nas emissões apesar da pandemia (Mayke Toscano/Secom/MT)
Área de floresta derrubada no noroeste do Mato Grosso, na Amazônia: desmatamento ameaça biomas brasileiros (Mayke Toscano/Secom/MT/Fotos Públicas)

1. Amazônia

A Amazônia é o maior bioma do Brasil: numa área de 4.212.472 km² apenas no território nacional – o bioma amazônico, a maior floresta tropical do mundo, alcança outros oito países da América do Sul (Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa). No Brasil, a Amazônia passa por nove estados – toda extensão territorial de Acre, Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, e parte dos territórios do Maranhão, Mato Grosso, Rondônia e Tocantins – e abriga, em suas florestas, 40 mil espécies de plantas e milhares de animais – mais de 300 espécies de mamíferos, 1.300 de pássaros, 370 de répteis, além de milhões de diferentes variedades de insetos.

Apesar de ser o bioma mais preservado do país, a Amazônia já teve cerca de 15% de sua área desmatada (duas vezes e meia a área do estado de São Paulo) – o avanço constante da agricultura e da pecuária em terras públicas não destinadas ou protegidas é a principal ameaça ao bioma, impactado ao longo dos anos por grandes obras de barragens (como Tucuruí e Belo Monte) e de rodovias. O desmatamento para a agropecuária é seguido, muitas vezes, por queimadas também por ação humana, que degradam a floresta. A região do Amacro – sul do Amazonas e as áreas de Acre e Rondônia – vem sendo, atualmente, a mais atacada no bioma. Os garimpos ilegais e a extração ilegal de madeira – a Amazônia abriga a maior reserva de madeira tropical do planeta – são outras ameaças críticas ao bioma. A devastação da Amazônia tem consequências climáticas – porque suas florestas capturam bilhões de toneladas de carbono; mas o bioma também vem sendo afetado pela crise climática e a região enfrentou, nos últimos anos, temporadas inéditas de seca.

Desmatamento em região do bioma Cerrado: MapBiomas aponta que, em 2023, o Cerrado correspondeu a 61% da área desmatada em todo o país (Foto: Adriano Gambarini / WWF)
Desmatamento em região do bioma Cerrado: MapBiomas aponta que, em 2023, o Cerrado correspondeu a 61% da área desmatada em todo o país (Foto: Adriano Gambarini / WWF)

2. Cerrado

Segundo maior bioma da América do Sul, o Cerrado está presente em todas as regiões do Brasil – do Pará, no Norte, ao Paraná, no Sul, passando por grande parte do Nordeste, do Sudeste e do Centro-Oeste: No total, o bioma ocupa uma área de quase dois milhões de quilômetros quadrados (1.983.017 km2), pouco mais de 23% do território nacional, e, nele, estão as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que faz com que o Cerrado seja conhecido como berço das águas, por seu potencial aquífero. A vegetação extremamente variada – com formações de savana, campestres e florestais – favorece a biodiversidade: são 12 mil espécies de plantas e mais de 3 mil espécies de animais terrestres (mamíferos, répteis e pássaros).

Com grande ocupação urbana e o avanço da agropecuária, o Cerrado já perdeu a metade de sua vegetação nativa. De acordo com o MapBiomas, nas últimas quatro décadas, esse processo foi acelerado, com a perda de 27% da vegetação do bioma (38 milhões de hectares). Nos dois últimos anos, o desmatamento no Cerrado foi maior do que na Amazônia, com o avanço de atividade agropecuárias, principalmente a produção de grãos na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia). O crescimento acelerado das atividades econômicas foi acompanhado por urbanização desordenada que fragmenta o Cerrado e também ameaça o bioma.

Umbuzeiro, árvores símbolo da Caatinga, é reconhecida pela sua resistência aos grandes períodos de escassez de chuvas: com preservação, fruto serve para gerar renda no semiárido (Foto: Adriano Alves)
Umbuzeiro, árvores símbolo da Caatinga, é reconhecida pela sua resistência aos grandes períodos de escassez de chuvas: com preservação, fruto serve para gerar renda no semiárido (Foto: Adriano Alves)

3. Caatinga

Exclusivamente brasileiro, a Caatinga é o principal bioma da Região Nordeste – ocupa uma área de 862.818 quilômetros quadrados (10,1% do território nacional), onde vivem cerca de 27 milhões de pessoas, nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e no norte de Minas Gerais. O clima semiárido, com longos períodos de seca, leva a Caatinga a ter uma vegetação árvores baixas e troncos tortuosos num solo raso e pedregoso.

Com a ocupação do bioma desde os tempos do Brasil Colônia, a Caatinga já perdeu 46% da sua vegetação nativa, com a alteração de seus ecossistemas. Mas, apesar das condições adversas, a supressão da vegetação nativa para expansão da agricultura e da pecuária segue como uma das principais causas de degradação do bioma. Com o desmatamento e a crise climática, a Caatinga enfrenta, cada vez mais, a ameaça da desertificação, processo de degradação ambiental comum áreas áridas e semiáridas – no Brasil, 62% das áreas susceptíveis à desertificação estão em zonas originalmente de Caatinga, alteradas ao longo do tempo.

Exuberante vegetação de Mata Atlântica na Floresta Nacional da Tijuca, no Rio: quase metade dos municípios do bioma registraram aumento de vegetação nativa depois do Código Florestal (Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil - 14/12/2022)
Exuberante vegetação de Mata Atlântica na Floresta Nacional da Tijuca, no Rio: quase metade dos municípios do bioma registraram aumento de vegetação nativa depois do Código Florestal (Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil – 14/12/2022)

4. Mata Atlântica

A Mata Atlântica – composta por formações florestais nativas diversas, além de manguezais e restingas, brejos e outros ecossistemas – se estende do Piauí ao Rio Grande Sul, ocupando áreas mais próximas ao litoral de 17 estados brasileiros, ocupando uma área de pouco mais de 1 milhão de quilômetros quadrados (1.110.182 km²). A Mata Atlântica tem a segunda maior biodiversidade das Américas, inferior apenas à da Amazônia: são mais de 20 mil espécies de árvores e arbustos, oito mil endêmicas, e pelo menos, cinco mil espécies de animais.

A área do bioma concentra mais de 70% da população e 80% do PIB brasileiro: vítima dessa urbanização, a Mata Atlântica tem hoje apenas 12,5% de sua vegetação original. Mesmo com tão pouca vegetação nativa, a Mata Atlântica segue ameaçada pelo desmatamento – mas, ao contrário dos demais biomas, a expansão agropecuária nem sempre é o maior vilão: a expansão imobiliária, a ocupação desordenada de áreas de risco e atividades industriais são outras ameaças constantes. Como consequência da urbanização, a poluição – da água dos rios e lagos, do solo e do ar – também afeta a fauna e a flora, além dos seres humanos.

Vista aérea do Pantanal Mato grossense. A região enfrenta a maior crise hídrica da sua história. Foto WWF-Brasil
Vista aérea do Pantanal Mato grossense. A região enfrenta a maior crise hídrica da sua história. (Foto André Dib/WWF-Brasil)

5. Pantanal

O Pantanal é reconhecido como a maior planície de inundação contínua do planeta, principal fator para a sua formação e diferenciação em relação aos outros biomas. No Pantanal, que ocupa 1,8% (150.355 Km²) do território nacional, em parte dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, vivem representantes de quase toda a fauna brasileira: durante o período de inundação, parte desses amimais se refugiam nas áreas mais altas, retornando quando baixam as águas.

Apesar de ainda ter mais de 80% de sua área preservada, o Pantanal vem enfrentando nas últimas duas décadas um processo acelerado de expansão agropecuária, principalmente em seus planaltos, com um multiplicação do desmatamento e das queimadas, que tornaram-se uma ameaça constante à fauna e à flora. A devastação nas áreas mais altas tem como consequência ainda o assoreamento dos rios na planície e a intensificação das inundações.

Foto colorida de campos no bioma Pampa em Bagé
Degradação de áreas do Pampa afeta dinâmica de absorção de água pelos solos (Foto: Heverton Lacerda/Agapan – Bagé, 2022)

6. Pampa

O Pampa está restrito ao estado do Rio Grande do Sul (no Brasil), onde ocupa uma área de 193.836km² – 69% do território estadual e a 2,3% do território nacional. Com o clima temperado, as paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos. O Pampa abriga 2.817 espécies de plantas nativas e cerca de mil espécies da animais.

A substituição da vegetação nativa por monoculturas – principalmente a da soja – é a principal ameaça ao bioma, com a redução da área de campos e o impacto negativo na biodiversidade. De acordo com o MapBiomas, o Pampa perdeu 28% de sua vegetação nativa em quatro décadas e hoje tem menos da metade (47%) de sua vegetação nativa preservada. É o bioma brasileiro com mais perdas depois da Mata Atlântica, e com menos áreas dentro de unidades de conservação (2,7%) – para comparação, a Amazônia tem 27% de seu bioma em territórios de preservação ambiental; o Cerrado, 8,3% e a própria Mata Altântica, 10%.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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