ODS 1
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. Conheça as reportagens do Projeto Colabora guiadas pelo ODS 1.
Veja mais de ODS 1O Relatório de Desenvolvimento Humano, documento anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), incluiu, em 2020, um novo estudo experimental – um índice de progresso humano que leva em consideração as emissões de dióxido de carbono e a pegada ambiental dos países. O relatório – com o IDH (índice de Desenvolvimento Humano) de 189 países – foi significativamente batizado de A Próxima Fronteira: Desenvolvimento Humano e o Antropoceno. “Como mostra este relatório, nenhum país do mundo alcançou ainda um desenvolvimento humano muito alto sem colocar imensa pressão sobre o planeta. Mas poderíamos ser a primeira geração a corrigir esse erro. Essa é a próxima fronteira para o desenvolvimento humano ”, afirmou Achim Steiner, administrador do PNUD, no lançamento virtual do relatório, feito em parceria com o governo sueco.
Os alertas sobre a emergência climática permeiam o documento de 412 páginas. “Os países devem redesenhar seus caminhos de desenvolvimento para reduzir os danos ao meio ambiente e ao mundo natural, ou correm o risco de impedir o progresso da humanidade em geral”, aponta o relatório do PNUD. “Os humanos têm mais poder sobre o planeta do que nunca. Na esteira do COVID-19, temperaturas recordes e desigualdade em espiral, é hora de usar esse poder para redefinir o que entendemos por progresso, onde nossas pegadas de carbono e consumo não estão mais escondidas”, enfatizou Steiner, no lançamento.
De acordo com o relatório, com dados de 2019, o Brasil caiu cinco posições no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano, quando comparado ao ano anterior, ainda que seu desempenho tenha tido uma mínima melhora. Entre os países analisados, o Brasil aparece agora no 84º lugar – estava no 79º no ranking do relatório do ano passado. O IDH brasileiro subiu de 0,762 para 0,765 – nada a comemorar. O resultado mantém o Brasil no grupo de países com alto desenvolvimento humano, mas atrás, na América do Sul, de Chile, Argentina, Uruguai, Peru e Colômbia.
Na nova métrica, IDH-P – que leva em conta as emissões de dióxido e a pegada ambiental, o uso de recursos materiais pelo país – o índice do Brasil cai para 0,710. Este número, entretanto, leva o país a subir 10 posições no ranking. O IDH do Brasil despenca quando ajustado para o quesito desigualdade: desce de 0,765 para 0,570. O fator principal é a desigualdade de renda. Os 10% mais ricos concentram 42,5% da renda total. Em concentração de renda, o Brasil perde apenas para o Qatar. De acordo com os dados do Pnud, o Brasil é um país com grande desigualdade de gênero. No IDG (Índice de Desigualdade de Gênero), o país ocupa a 95ª posição em uma lista com 162 nações.
Pelo IDH-P, mais de 50 países sairiam do grupo de desenvolvimento humano muito alto, refletindo sua dependência de combustíveis fósseis e sua pegada ambiental – o IDH considera muito alto a partir de 0,8. Com esses ajustes, países como Costa Rica, Moldávia e Panamá sobem em pelo menos 30 lugares no ranking. , reconhecendo que é possível uma pressão mais leve sobre o planeta. “A próxima fronteira para o desenvolvimento humano exigirá trabalhar com e não contra a natureza, enquanto transforma as normas sociais, valores e incentivos governamentais e financeiros”, afirma o relatório do Pnud.
A Próxima Fronteira: Desenvolvimento Humano e o Antropoceno também destaca que novas estimativas projetam que até 2100 os países mais pobres do mundo poderiam experimentar até mais 100 dias de clima extremo devido às mudanças climáticas a cada ano – um número que poderia ser cortado pela metade se o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas for totalmente implementado. Também aponta que os combustíveis fósseis ainda estão sendo subsidiados O custo total para as sociedades dos subsídios para os combustíveis fósseis – incluindo custos indiretos – é estimado em mais de US $ 5 trilhões por ano, ou 6,5% do PIB global, de acordo com os dados do Fundo Monetário Internacional citados no relatório do Pnud.
A maneira como as pessoas experimentam as pressões planetárias está ligada à forma como as sociedades funcionam, argumentou o economista português Pedro Conceição, diretor do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD e principal autor do documento. “Sociedades partidas estão colocando as pessoas e o planeta em rota de colisão. “A próxima fronteira para o desenvolvimento humano não é escolher entre pessoas ou árvores; trata-se de reconhecer, hoje, que o progresso humano impulsionado por um crescimento desigual e intensivo em carbono acabou ”, afirmou Conceição. “Ao combater a desigualdade, capitalizando a inovação e trabalhando com a natureza, o desenvolvimento humano pode dar um passo transformacional para apoiar as sociedades e o planeta juntos”, acrescentou.
De acordo com o relatório, aliviar as pressões planetárias de uma forma que permita a todas as pessoas florescer nesta nova era do Antropoceno requer “desmontar os desequilíbrios grosseiros de poder e oportunidade” que impedem a transformação. Ações do Poder Público, argumenta o relatório, podem enfrentar essas desigualdades, citando exemplos que vão desde a tributação cada vez mais progressiva até a proteção das comunidades costeiras por meio de investimentos preventivos e seguros, um movimento que poderia salvaguardar a vida de 840 milhões de pessoas que vivem ao longo da costa no mundo inteiro.
Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Está de volta ao Rio após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. É criador da página no Facebook #RioéRua, onde publica crônicas sobre suas andanças pela cidade.