ONU cria IDH que considera emissões e pegada ambiental

Eventos climáticos extremos aumentam a desigualdade e estancam o desenvolvimento humano. Empresas querem que Brasil acelere as mudanças. Foto Pnud

Na nova métrica, Brasil tem queda no índice de desenvolvimento humano mas ganha posições no ranking; no tradicional IDH, país caiu cinco posições

Por Oscar Valporto | ODS 10ODS 13 • Publicada em 15 de dezembro de 2020 - 19:25 • Atualizada em 17 de dezembro de 2020 - 10:04

Eventos climáticos extremos aumentam a desigualdade e estancam o desenvolvimento humano. Empresas querem que Brasil acelere as mudanças. Foto Pnud

O Relatório de Desenvolvimento Humano, documento anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), incluiu, em 2020, um novo estudo experimental – um índice de progresso humano que leva em consideração as emissões de dióxido de carbono e a pegada ambiental dos países. O relatório – com o IDH (índice de Desenvolvimento Humano) de 189 países – foi significativamente batizado de A Próxima Fronteira: Desenvolvimento Humano e o Antropoceno. “Como mostra este relatório, nenhum país do mundo alcançou ainda um desenvolvimento humano muito alto sem colocar imensa pressão sobre o planeta. Mas poderíamos ser a primeira geração a corrigir esse erro. Essa é a próxima fronteira para o desenvolvimento humano ”, afirmou Achim Steiner, administrador do PNUD, no lançamento virtual do relatório, feito em parceria com o governo sueco.

Os alertas sobre a emergência climática permeiam o documento de 412 páginas. “Os países devem redesenhar seus caminhos de desenvolvimento para reduzir os danos ao meio ambiente e ao mundo natural, ou correm o risco de impedir o progresso da humanidade em geral”, aponta o relatório do PNUD. “Os humanos têm mais poder sobre o planeta do que nunca. Na esteira do COVID-19, temperaturas recordes e desigualdade em espiral, é hora de usar esse poder para redefinir o que entendemos por progresso, onde nossas pegadas de carbono e consumo não estão mais escondidas”, enfatizou Steiner, no lançamento.

De acordo com o relatório, com dados de 2019, o Brasil caiu cinco posições no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano, quando comparado ao ano anterior, ainda que seu desempenho tenha tido uma mínima melhora.  Entre os países analisados, o Brasil aparece agora no 84º lugar – estava no 79º no ranking do relatório do ano passado. O IDH brasileiro subiu de 0,762 para 0,765 – nada a comemorar.  O resultado mantém o Brasil no grupo de países com alto desenvolvimento humano, mas atrás, na América do Sul, de Chile, Argentina, Uruguai, Peru e Colômbia.

Na nova métrica, IDH-P – que leva em conta as emissões de dióxido e a pegada ambiental, o uso de recursos materiais pelo país –  o índice do Brasil cai para 0,710. Este número, entretanto, leva o país a subir 10 posições no ranking. O IDH do Brasil despenca quando ajustado para o quesito desigualdade: desce de 0,765 para 0,570. O fator principal é a desigualdade de renda. Os 10% mais ricos concentram 42,5% da renda total. Em concentração de renda, o Brasil perde apenas para o Qatar. De acordo com os dados do Pnud, o Brasil é um país com grande desigualdade de gênero. No IDG (Índice de Desigualdade de Gênero), o país ocupa a 95ª posição em uma lista com 162 nações.

Pelo IDH-P, mais de 50 países sairiam do grupo de desenvolvimento humano muito alto, refletindo sua dependência de combustíveis fósseis e sua pegada ambiental – o IDH considera muito alto a partir de 0,8. Com esses ajustes, países como Costa Rica, Moldávia e Panamá sobem em pelo menos 30 lugares no ranking. , reconhecendo que é possível uma pressão mais leve sobre o planeta.  “A próxima fronteira para o desenvolvimento humano exigirá trabalhar com e não contra a natureza, enquanto transforma as normas sociais, valores e incentivos governamentais e financeiros”, afirma o relatório do Pnud.

A Próxima Fronteira: Desenvolvimento Humano e o Antropoceno  também destaca que novas estimativas projetam que até 2100 os países mais pobres do mundo poderiam experimentar até mais 100 dias de clima extremo devido às mudanças climáticas a cada ano – um número que poderia ser cortado pela metade se o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas for totalmente implementado.  Também aponta que  os combustíveis fósseis ainda estão sendo subsidiados O custo total para as sociedades dos subsídios para os combustíveis fósseis – incluindo custos indiretos – é estimado em mais de US $ 5 trilhões por ano, ou 6,5% do PIB global, de acordo com os dados do Fundo Monetário Internacional citados no relatório do Pnud.

A maneira como as pessoas experimentam as pressões planetárias está ligada à forma como as sociedades funcionam, argumentou o economista português Pedro Conceição, diretor do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD e principal autor do documento. “Sociedades partidas estão colocando as pessoas e o planeta em rota de colisão. “A próxima fronteira para o desenvolvimento humano não é escolher entre pessoas ou árvores; trata-se de reconhecer, hoje, que o progresso humano impulsionado por um crescimento desigual e intensivo em carbono acabou ”, afirmou Conceição. “Ao combater a desigualdade, capitalizando a inovação e trabalhando com a natureza, o desenvolvimento humano pode dar um passo transformacional para apoiar as sociedades e o planeta juntos”, acrescentou.

De acordo com o relatório, aliviar as pressões planetárias de uma forma que permita a todas as pessoas florescer nesta nova era do Antropoceno requer “desmontar os desequilíbrios grosseiros de poder e oportunidade” que impedem a transformação. Ações do Poder Público, argumenta o relatório, podem enfrentar essas desigualdades, citando exemplos que vão desde a tributação cada vez mais progressiva até a proteção das comunidades costeiras por meio de investimentos preventivos e seguros, um movimento que poderia salvaguardar a vida de 840 milhões de pessoas que vivem ao longo da costa no mundo inteiro.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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