Onda global pelo clima chega ao Brasil

Manifestação da Fridays For Future pela emergência climática em maio no Rio: movimento em crescimento (Foto: Divulgação)

Jovens organizam atos em mais de 40 cidades e pelo menos 20 estados do país nesta sexta de alerta climático que mobiliza milhões em todo o planeta

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 18 de setembro de 2019 - 23:27 • Atualizada em 19 de setembro de 2019 - 13:09

Manifestação da Fridays For Future pela emergência climática em maio no Rio: movimento em crescimento (Foto: Divulgação)
Manifestação da Fridays For Future pela emergência climática em maio no Rio: movimento em crescimento (Foto: Divulgação)
Manifestação da Fridays For Future pela emergência climática em maio no Rio: movimento em crescimento (Foto: Divulgação)

Na véspera da greve global pelo clima, marcada para esta sexta-feira (20/9), o número de cidades e países envolvidos não para de mudar: mais de 180 países, mais de 4500 cidades – na conta da organização Fridays For Future, fundada pela adolescente sueca Greta Thunberg. Na América Latina, já estão confirmados eventos apelando às autoridades para agir contra a emergência climática em mais de 130 cidades de 23 países. No Brasil, essa onda jovem demorou um pouco mas chegou: há manifestações pelo clima, quase sempre organizadas por jovens em mais de 40 cidades brasileiras de pelo menos 20 estados. “A gente ainda tem pouca visibilidade, mas o movimento está crescendo”, comenta o ativista Henrique Kovaliauskas, 24 anos, estudante do mestrado de Física e professor.

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Henrique faz parte da Friday for Future Rio – apesar de existir uma FFF Brasil, cada célula desse organismo funciona separadamente desde o seu nascimento quando, pouco mais de um ano atrás, Greta levou seus primeiros cartazes para a frente do parlamento sueco. O movimento cresceu organicamente, com jovens se organizando por cidade, trocando mensagens pelas redes sociais e pelos celulares. Os líderes jovens da Friday For Future Brasil em cada estado mantém contato, mas cada lugar tem sua dinâmica. No Rio de Janeiro e em São Paulo, já há a tradição das ações publicas às sextas-feiras – como a iniciada pela sua líder adolescente na Suécia que foi se espalhando pela Europa

Ato da Fridays For Future em frente ao Museu do Amanhã: ativistas se reúnem todas as sextas para pedir pelo clima (Foto: Divulgação)
Ato da Fridays For Future em frente ao Museu do Amanhã: ativistas se reúnem todas as sextas para pedir pelo clima (Foto: Divulgação)

Mais recentemente, o movimento ganhou o apoio da 350.org, organização internacional – com presença em 150 países – empenhada em acabar com a era dos combustíveis fósseis, construir um mundo de energias renováveis, apoiar medidas para conter as mudanças climáticas e conservar as florestas e a biodiversidade. “Nós acreditamos que essas mudanças só serão possíveis através do fortalecimento e da organização da sociedade. Não podemos depender dos governos e das empresas. Por isso, decidimos apoiar integralmente a Friday For Future e ajudá-los como for possível”, explica Rubens Born, diretor-substituto da 350.org na América Latina.

No começo do mês, a 350.org reuniu, no Chile, ativistas das organizações Fridays For Future de 10 países da América Latina como Peru, Argentina, Uruguai, Paraguai, Colômbia e Costa Rica. Eles discutiram suas dificuldades de organização e divulgação e trocaram experiências. O movimento ainda enfrenta muitos problemas: “As pessoas, mesmo as mais jovens, não têm a dimensão da ameaça climática. Não conseguem perceber ainda como isso afeta o seu dia a dia”, conta a caracterizadora Ana Gil, 25 anos, outra organizadora das manifestações da Greve Global pelo Clima, no Rio.

Henrique e Ana acreditam que as atividades de hoje devem reunir mais gente, inclusive de outras entidades ligadas a questões ambientais e sociais. No Rio, a FFF vai fazer um ato com performances a partir da 10h, em frente à Assembleia Legislativa, no Centro; depois, eles seguem até a vizinha Praça XV para fazer, às 16h, manifestação na porta da sede regional do Ibama. A FFF São Paulo convocou seu ato para 16h no vão do MASP, mas outras entidades vão iniciar atividades no mesmo local a partir das 13h. Em Brasília, há um ato convocado por mais de 20 entidades – como o Greenpeace e a WWF – na Rodoviária, mesmo local da FFF. As manifestações vão se repetir na maioria das capitais brasileiras. A ideia, pelo mundo todo, é que eventos menores se repitam até o dia 27. “Aqui no Rio, teremos um cine-debate, plantio de árvores e banquinhas itinerantes espalhadas pelas ruas para levar a mensagem da emergência climática”, explica Henrique Kovaliauskas.

Os organizadores globais esperam um impacto muito maior do que nas manifestações de março e maio. A cidade de Nova York anunciou que os alunos de sua rede municipal – 1,1 milhão – não levarão falta se aderirem à greve pelo clima. No estado australiano de Victoria, o governo liberou os funcionários públicos do trabalho para participar dos atos. A Confederação Internacional de Sindicatos está incentivando trabalhadores a participarem da greve.  O secretário-geral da Anistia Internacional, Kumi Naidoo, escreveu cartas pessoais a 30 mil escolas ao redor do mundo, com ligações com a entidade, para que participem das manifestações. Greta Thunberg estará em Nova York, na sede da ONU, onde participa no sábado (21) da Conferência da Juventude pelo Clima.

Apesar das diferenças de organização, a mensagem dos atos Fridays For Future por toda a parte é a mesma: exigir das autoridades – políticos, empresários, tomadores de decisões – que tratem emergência climática pela crise que ela é; que garantam o cumprimento do Acordo de Paris; que interrompam investimentos e subsídios a combustíveis fósseis; que implementem medidas para a adaptação das mudanças climáticas já em curso; e que assumam um compromisso de longo prazo com educação e justiça ambientais. Talvez seja mais difícil para os jovens ativistas serem ouvidos pelo governo brasileiro, mas, com a Amazônia em chamas, e o mundo preocupado com o Brasil, eles talvez consigam chamar mais atenção para seu movimento.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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