Inpe: desmatamento na Amazônia cresceu 22% em um ano

Desmatamento no Parque Nacional do Jamanxim, município de Itaituba, no Pará: sistema Prodes do Inpe mostra aumento de 22% na área desmatada na Amazônia (Foto: Marizilda Cruppe/Amazônia Real – 17/09/2020)

Dados de sistema de monitoramento mostram maior área desmatada desde 2006 e estavam disponíveis desde antes da COP26

Por #Colabora | ODS 13ODS 15 • Publicada em 19 de novembro de 2021 - 11:01 • Atualizada em 17 de outubro de 2022 - 15:35

Desmatamento no Parque Nacional do Jamanxim, município de Itaituba, no Pará: sistema Prodes do Inpe mostra aumento de 22% na área desmatada na Amazônia (Foto: Marizilda Cruppe/Amazônia Real – 17/09/2020)

Demorou, atrasou, mas finalmente saiu: o INPE divulgou nesta 5ª feira (18/11) os números consolidados do sistema Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite) sobre o desmatamento na Região Amazônica no período de agosto de 2020 a julho de 2021. E os dados são ruins como já era esperado; talvez piores do que o esperado. O desmatamento registrado no período chegou 13.235 km2, um aumento de 22% em relação aos 12 meses anteriores (10.851 km2 entre agosto de 2019 e julho de 2020).

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Esses mais de 13 mil quilômetros quadrados representam também a maior taxa anual de desmatamento desde 2006, quando a Amazônia perdeu 14.286 km2 de vegetação. O número também consolida uma tendência do governo Bolsonaro: nos três primeiros anos de gestão, a taxa de desmatamento consolidada pelo Prodes ficou acima dos 10 mil km2.

Desmatamento na Amazônia Legal Brasileira (ALB) desde 1988: 2021 registrou maior taxa anual de desmatamento desde 2006 (Fonte: Inpe)
Desmatamento na Amazônia Legal Brasileira (ALB) desde 1988: 2021 registrou maior taxa anual de desmatamento desde 2006 (Fonte: Inpe)

Apesar do dado só ter sido divulgado nesta quinta, a nota técnica do Inpe está datada de 27/10, três semanas atrás, antes do começo da COP26. “Apesar das tentativas recentes do governo em limpar sua imagem, a realidade se impõe mais uma vez. Os mais de 13 mil km² não surpreendem quem acompanhou os últimos três anos de desmonte na gestão ambiental brasileira e as tentativas de enfraquecer o arcabouço legal para a proteção do meio ambiente. Fica evidente que as ações necessárias por parte do Brasil para conter o desmatamento e as mudanças climáticas não virão deste governo que está estacionado no tempo e, ainda vê a floresta e seus povos como empecilho ao desenvolvimento”, afirmou Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha da Amazônia do Greenpeace, em nota distribuída pela ONG.

Na média, houve um aumento de 52,9% na área desmatada nos três anos de governo Bolsonaro (média de 11.405 km² entre 2019 e 2021) em relação à média dos três anos anteriores (média de 7.458 km² entre 2016 e 2018). “O governo atual, com sua política antiambiental, elevou drasticamente o patamar de desmatamento na maior floresta tropical do planeta. Estes são níveis inaceitáveis perante à emergência climática que vivemos no Brasil e no mundo, com extremos climáticos e seus impactos cada vez mais devastadores e frequentes”, comenta Cristiane. “E essa situação só vai piorar, se o Senado aprovar o PL da Grilagem, que beneficia invasores de terras públicas e incentiva ainda mais desmatamento”, acrescentou a porta-voz do Greenpeace.

O Inpe informa que o mapeamento do Prodes é feito com base em imagens do satélite Landsat ou similares, para registrar e quantificar as áreas desmatadas maiores que 6,25 hectares. “O PRODES considera como desmatamento a remoção completa da cobertura florestal primária por corte raso, independentemente da futura utilização destas áreas. A estimativa da taxa 2021 foi calculada a partir da análise de 106 cenas prioritárias de todos os estados da ALB (Amazônia Legal Brasileira)”, explica a nota do instituto.

Desmatamento entre agosto de 2020 e julho de 2021: concentração no Pará, Amazonas e Mato Grosso (Fonte: Inpe)
Desmatamento entre agosto de 2020 e julho de 2021: concentração no Pará, Amazonas e Mato Grosso (Fonte: Inpe)

De acordo com o Inpe, os estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia correspondem a 87,25% dos 13.235 km2 do desmatamento estimado na Amazônia Legal. “O resultado é fruto de um esforço persistente, planejado e contínuo de destruição das políticas de proteção ambiental no regime de Jair Bolsonaro. É o triunfo de um projeto cruel que leva a maior floresta tropical do mundo a desaparecer diante dos nossos olhos e torna o Brasil de Bolsonaro uma ameaça climática global”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Variação da área desmatada por estado: disparada no Amazonas, ritmo menor no Pará (Fonte: Inpe)
Variação da área desmatada por estado: disparada no Amazonas, ritmo menor no Pará (Fonte: Inpe)

O Inpe indica também as variações da taxa para cada estado entre os anos de 2020 e 2021. A análise mostra um crescimento do desmatamento em todos os estados da região. “Deve-se ressaltar que o estado com maior contribuição absoluta de desmatamento (Pará com 5.257 km2) também é o estado com menor variação percentual de desmatamento (7,31%)”, destaca a nota técnica do Inpe.

O Observatório do Clima destacou também que o governo já tinha o dado de desmatamento quando seus representantes foram à Conferência do Clima da Escócia em Glasgow (COP26), onde anunciou a intenção de zerar o desmatamento ilegal em 2028 e assinou uma declaração sobre florestas na qual se compromete a zerar todo o desmate em 2030. “Diferentemente da propaganda que o governo e seus aliados no agro e na indústria levaram à COP26, em Glasgow, o Brasil real é este, da terra arrasada, da violência contra populações tradicionais e do crime organizado agindo sem controle na Amazônia”, disse Astrini.

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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora.

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