Os incêndios podem ter degradado cerca de 9% da vegetação do Pantanal nos últimos cinco anos, segundo estimativa da rede Mapbiomas. De acordo com o levantamento, a área degradada no bioma entre 1986 e 2021 pode variar entre 800 mil (6,8%) e 2,1 milhões de hectares (quase 19%). O estudo mostra que apesar de o bioma conviver com o fogo, existem áreas que são sensíveis aos incêndios. São consideradas áreas degradadas as regiões que não foram completamente desmatadas, mas que sofrem alterações significativas da composição biológica. Entre os fatores considerados pela Mapbiomas estão o tamanho e nível de isolamento dos fragmentos florestais, a frequência das queimadas, invasão por espécies exóticas e o pisoteio por rebanhos.
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Lançada na sexta-feira (5/7), uma nova plataforma da rede MapBiomas revela que, entre 1986 e 2021, o Brasil apresentou entre 11% e 25% de sua vegetação nativa suscetível ao processo de degradação. Isso corresponde a uma área que pode ir de 60,3 milhões de hectares até 135 milhões de hectares. Mais da metade (64%) do Brasil está coberto por vegetação nativa. A versão beta da plataforma de vetores de degradação do MapBiomas permite gerar cenários sobre o impacto de diversos fatores que podem causar a degradação sobre esse tipo de vegetação em todo território brasileiro. “Essa é a primeira vez que a degradação pode ser avaliada de forma mais ampla e em todos os biomas brasileiros, mas sabemos que esse processo de degradação ocorre em outros tipos de cobertura, como na agricultura e pastagem, além dos solos e na água, onde pretendemos avançar também com essas informações no MapBiomas nos próximos anos”, destaca Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas.
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Veja o que já enviamosO estudo do Mapbiomas mostra que o Pantanal, embora seja um bioma que convive com o fogo, a incidência de incêndios nos últimos cinco anos fez com que 9% das suas formações florestais, áreas sensíveis ao fogo, tenham sido prejudicadas. “Questões climáticas relativas a precipitação e temperatura regulam as secas e inundações. O aumento de períodos de estiagem tem dificultado a resiliência do ecossistema pantaneiro”, afirma o pesquisador Eduardo Rosa, da equipe Pantanal do MapBiomas, ressaltando que alguns dos vetores de degradação do Pantanal devem levar em consideração todo o entorno do bioma, uma vez que todos os rios que irrigam naturalmente a planície pantaneira nascem em áreas de planalto. “A remoção de vegetação nativa para a expansão agrícola e pecuária desprotege o solo e interfere na distribuição de água e sedimentos. A quantidade e a qualidade de água que chega na planície depende, ainda, de barragens e hidrelétricas que alteram os fluxos naturais da água”, detalha
O mês de junho teve este ano a maior média de área queimada no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul registrada desde 2012 pela série histórica do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais, do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em apenas 30 dias, o fogo consumiu mais de 411 mil hectares do bioma, quando, na média histórica, o Pantanal costuma queimar pouco mais de 8 mil hectares.
A área atingida ficou acima, inclusive, da média histórica de setembro, quando o bioma queima, em média, 406 mil hectares. No acumulado de 2024, a área atingida chegou a 712 mil hectares nessa terça-feira (2), o que corresponde a 4,72% do bioma. A Polícia Federal está investigando a origem do fogo em algumas situações. Segundo a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, 85% dos incêndios ocorrem em terras privadas.
Mata Atlântica mais degradada
Os maiores valores proporcionais de áreas suscetíveis ao processo de degradação são observados na Mata Atlântica. Considerando o intervalo entre um cenário mais restritivo e outro mais amplo, esses valores podem variar entre 36% (12 milhões de hectares) e 73% (24 milhões de hectares) da área de vegetação nativa que ainda resta no bioma. “A alta fragmentação dos remanescentes florestais na Mata Atlântica é um fator importante na construção desses valores. A combinação de vetores como área de borda, tamanho dos fragmentos e isolamento dos remanescentes mostra que grande parte do bioma está vulnerável às pressões antrópicas, que podem levar tanto à degradação como até ao colapso de áreas importantes para a conservação do bioma”, alerta Natalia Crusco, da equipe da Mata Atlântica do MapBiomas.
O intervalo com maior área absoluta degradada do Brasil fica no Cerrado, onde a degradação pode ir de 18,3 milhões de hectares a 43 milhões de hectares – área que corresponde a 19,2% e 45,3% da vegetação nativa remanescente no bioma, respectivamente. “O Cerrado é um bioma com forte presença da agropecuária, já bastante fragmentado, de modo que as áreas de borda são importantes vetores na disseminação de espécies exóticas invasoras, como por exemplo gramíneas africanas. Essas gramíneas são uma das principais ameaças para o bioma, pois além de diminuírem a biodiversidade, aumentam significativamente a biomassa disponível e favorecem a ocorrência de queimadas mais frequentes e intensas do que aquelas que o bioma está adaptado”, explica Dhemerson Conciani, pesquisador do IPAM que faz parte da equipe do Cerrado do MapBiomas.
No caso do Pampa, a área degradada pode ocupar mais da metade do que resta de vegetação nativa nesse bioma, podendo ocupar de 1,7 milhão de hectares (quase 19%) a 4,8 milhões de hectares (55%). “O Pampa é um bioma que sofre forte efeito antrópico, com uma ocupação bastante densa e antiga. O fato dos usos antrópicos estarem distribuídos de modo relativamente homogêneo na paisagem amplia muito a exposição aos efeitos de borda. Além disso, pelo menos um quarto da vegetação campestre, típica do bioma, é secundária, estando em diferentes estágios de recuperação. O panorama do Pampa em termos de degradação é bastante crítico, especialmente porque ainda não foram avaliados vetores notadamente importantes, como a invasão por gramíneas africanas e o sobrepastejo por excesso de carga animal”, comenta Eduardo Vélez, da equipe do Pampa MapBiomas.
Estima-se que na Caatinga pode haver 9 milhões de hectares (pouco mais de 18%) a 26,7 milhões de hectares (quase 54%) de vegetação possivelmente degradada. “Na Caatinga esses vetores de degradação associados a mudanças de uso da terra e às condições climáticas áridas e semiáridas podem contribuir para aumentar os limites das áreas suscetíveis à desertificação, onde são exauridas as condições naturais, causando a deterioração do solo, chegando ao colapso”, ressalta Deorgia Souza, da equipe Caatinga do MapBiomas.
O maior bioma brasileiro, a Amazônia, exibe percentuais baixos: de 5,4% a 9,8%. Em extensão, no entanto, os números a colocam na vice-liderança dos biomas mais degradados: de quase 19 milhões de hectares a 34 milhões de hectares – extensão menor apenas que a do Cerrado. “Outros vetores como extração madeireira, abertura de estradas e estresse hídrico por mudança climática também são importantes para entender o processo de degradação da floresta amazônica”, aponta Carlos Souza Jr., da equipe da Amazônia do MapBiomas.