Finanças para o clima é tema central no G20

Brasil defende arquitetura multilateral financeira que vá em direção à luta contra a crise climática e o envolvimento de governos e bancos centrais

Por Liana Melo | ODS 13 • Publicada em 24 de outubro de 2024 - 09:26 • Atualizada em 24 de outubro de 2024 - 10:06

O embaixador André Corrêa do Lago, copresidente da Força Tarefa de Clima do G20, em evento no Rio: financiamento climático no centro das discussões (Foto: Tânia Rego / Agência Brasil) – 13/09/2024

Sob presidência brasileira, o G20 de 2024 será diferente dos encontros anteriores.  Em 25 anos, será a primeira vez na história da conferência, criada para discutir à crise financeira global dos anos 1990, que o financiamento da agenda climática envolverá um diálogo de alto nível entre governos, instituições financeiras e organismos internacionais. É grande a expectativa que, no encontro ministerial desta quinta-feira (24/10), a reunião encerre com um documento com os consensos alcançados, que serão levados à Cúpula do G20. Entre esses consensos, se espera que conste a definição de que a “urgência climática” é um fato indiscutível.

Acreditamos que isso é um assunto absolutamente importante, porque não temos tempo. E todos nós, do grupo climático, estamos convencidos de que não temos tempo, mas os Ministérios de Finanças e os bancos centrais têm de ser também conscientes dessa situação

André Corrêa do Lago
Vice-presidente do Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores do Brasil

“Vou mencionar algumas das coisas que acreditamos que são, provavelmente, mais significativas do documento, mesmo que ainda não tenha sido oficialmente aprovado”, comentou o embaixador André Corrêa do Lago, citando que é a inclusão no texto final do “reconhecimento da urgência climática”. Vice-presidente do Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e copresidente da Força Tarefa de Clima – uma das novidades apresentadas pela presidência do Brasil no G20, que teve por objetivo propor mudanças na estrutura do encontro para evitar o aumento de temperatura além do 1,5º C.

O diplomata participou, nesta quarta-feira (23/10), de um debate promovido pela Climate Action Network (Can), rede com mais de 1,8 mil organizações internacionais que lutam contra as mudanças climáticas. Financiamento é um dos temas cruciais tanto do G20 quanto da COP29, que ocorrerá em dezembro, em Baku, a capital do Azerbaijão. A grande diferença entre os dois fóruns mundiais é que, enquanto no G20 se discute recursos privados, na COP29, o tema está circunscrito a financiamento público.

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“Acreditamos que isso é um assunto absolutamente importante, porque não temos tempo. E todos nós, do grupo climático, estamos convencidos de que não temos tempo, mas os Ministérios de Finanças e os bancos centrais têm de ser também conscientes dessa situação”, acrescentou Corrêa do Lago.  Além dele, estiveram no encontro Ana Toni, secretária Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, e Rebecca Thissen, líder de campanha global na Climate Action Network Internacional. O G20 ocorre entre os dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro, e terá a participação de 19 países membros, mais a União Africana e a União Europeia.

O de acordo das principais economias globais de que o mundo está vivendo uma “urgência climática” parece pouco, mas é muito. “Se as principais economias não concordam com a urgência e necessidade de ação, como podemos esperar que as outras economias façam algo?”, acrescentou Corrêa do Lago, comentando que “se você reconhece a urgência, você admite que precisa fazer melhor do que estamos fazendo”. Reconhecer a gravidade de situação é um avanço, para não é suficiente. “E, finalmente, há um assunto central, que é o reconhecimento da necessidade de alinhar a transformação da arquitetura multilateral financeira em direção à luta contra o câmbio climático”, acrescentou Toni.

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Conjuntamente, os países do G20 representam mais de 80% do Produto Interno Bruto mundial, 80% da população mundial, assim como, aproximadamente, 80% das emissões globais de gases de efeito estufa – ainda que responsáveis por um volume significativo das emissões, esse grupo de países não costuma se debruçar sobre as questões centrais da agenda do clima. O tema, no entanto, não é mais adiável, porque o vínculo entre clima e economia passou a ser indissociável.

“Ainda temos a oportunidade de evitar o pior”, analisou Herschmann, criticando o fato de os países, sobretudo os mais desenvolvidos, continuarem relutantes em assumir um compromisso mais ambicioso na Contribuição Nacional Determinada (NDC, na sigla em inglês). Esse é o documento que os governos levam às negociações do acordo climático e nele consta os compromissos e contribuições dos países em relação à redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE).

A temporada da NDC está aberta e, segundo a especialista em política climática do Observatório do Clima, os países deveriam seguir as recomendações feita pelas Nações Unidas no seu Global Stocktake, que é o balanço global da ONU para acompanhar e avaliar a implementação das metas do Acordo de Paris. “Quando se trata de atuar com tal conhecimento, os países, especialmente as grandes economias do mundo, experimentam uma espécie de desonestidade cognitiva, porque eles escutam os alertas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC),  chamando para um corte de emissões de 43% em 2030, mas, ao mesmo tempo, não vemos um aumento das ambições”, criticou Stela Herschmann.

Rebecca Thissen, por sua vez, ressaltou que o setor privado é “parte da conversa e da solução” quando o assunto é mudanças climáticas, mas tem “enormes responsabilidades com os impactos que gera no câmbio climático”. Ela está convencida de que o G20 pode, e deve, “enviar sinais mais claros e contundentes para o setor privado, adotando regulações e, sobretudo, parar de financiar setores intensivos em carbono”.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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