Em busca do cimento de baixo carbono

Construção de prédio em Moscou: num mundo cada vez mais urbano, a produção de cimento responde por 9% das emissões de CO2 (Foto: Maksim Blinov/Sputnik/AFP)

Cientistas pesquisam alternativas sustentáveis para indústria que, sozinha, responde por 9% das emissões mundiais de gás carbônico

Por José Eduardo Mendonça | ODS 12ODS 13 • Publicada em 6 de janeiro de 2020 - 08:33 • Atualizada em 6 de janeiro de 2020 - 12:35

Construção de prédio em Moscou: num mundo cada vez mais urbano, a produção de cimento responde por 9% das emissões de CO2 (Foto: Maksim Blinov/Sputnik/AFP)
Construção de prédio em Moscou: num mundo cada vez mais urbano, a produção de cimento responde por 9% das emissões de CO2 (Foto: Maksim Blinov/Sputnik/AFP)
Construção de prédio em Moscou: num mundo cada vez mais urbano, a produção de cimento responde por 9% das emissões de CO2 (Foto: Maksim Blinov/Sputnik/AFP)

A indústria de cimento sozinha responde por 9% das emissões de CO2, mais do que todos os caminhões do mundo juntos. Outro setor – o de edifícios (com iluminação e aquecimento) – é responsável por 6% das emissões. Pesquisadores trabalham, agora, para produzir cimento de baixo carbono: a captura de carbono e sua transformação em produtos úteis, de plástico a combustível de avião, podem tornar mais acessíveis medidas de combate à mudança do clima e se tornar um bom negócio. 

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Se a produção de cimento fosse um país, seria o terceiro maior emissor. E ela não vai parar de crescer. Um exemplo são as cidades chinesas de milhões de habitantes sendo construídas em ritmo acelerado na China. Ou o aumento da demanda em economias como da Índia e partes da África. Pode-se pensar em construir moradias com bambu, ou impressas em papelão em 3D. Tudo muito ecológico, mas sem possibilidade de escala significativa. E as cidades, como se sabe, deverão ser cada vez mais verticais, um requisito para a sustentabilidade. 

Pesquisadores estimam que cerca de 90 trilhões de dólares serão necessários globalmente até 2030 para construção e renovação de infraestrutura. Em grande parte, porque o mundo se torna cada vez mais urbano.

Cientistas do MIT (Massachusets Institute of Technology) se debruçam sobre maneiras de produzir cimento que poderiam eliminar as emissões e ainda criar outros produtos úteis no processo. Yet-Ming Chiang, professor de ciência e engenharia de materiais da instituição, diz que cerca de um quilo de CO2 é liberado para cada quilo de cimento feito hoje. Isto resulta em cerca de 4 gigatoneladas (ou bilhões de toneladas), O número de edifícios deverá dobrar até 2060, o que é equivalente a construir uma cidade de Nova York a cada 30 dias, diz ele. E o material hoje é barato. Custa apenas 13 centavos de dólar por quilo, mais barato que água engarrafada.

É um desafio reduzir as emissões de carbono do material sem torná-lo muito caro. Chiang e colegas estudam há um ano abordagens alternativas, e chegaram à ideia de usar um processo eletroquímico para substituir o atual, baseado em sistema dependente de combustíveis fósseis. 

O cimento Portland, mais usado no mundo, é feito de calcário moído e levado a um forno com areia e argila em alta temperatura, produzida com a queima de carvão. O processo cria CO2 de duas maneiras: da queima do carvão, e dos gases liberados pelo calcário durante o aquecimento. O novo processo eliminaria ou reduziria drasticamente ambas as fontes. Mas tudo isso ainda vai exigir mais trabalho até se chegar a uma escala industrial.

A nova técnica eliminaria o uso de combustíveis fósseis, substituído por eletricidade gerada por fontes renováveis. E produziria o mesmo tipo de cimento, o que é importante para sua aceitação.  O dióxido de carbono, na forma de um fluxo puro e concentrado, pode ser facilmente concentrado, em produtos de valor agregado como combustível líquido em lugar da gasolina, ou usado em aplicações até em bebidas carbonadas e gelo seco.  No processo existente, o CO2 é altamente contaminado com óxidos de nitrogênio, óxidos sulfúricos e monóxido de carbono.

Há tentativas mais ousadas. Uma empresa de energia solar chamada Heliogen, apoiada por Bill Gates, desenvolveu uma nova tecnologia de fabricação industrial usando a energia do sol. Neste caso, os raios solares captados pelos painéis são direcionados a sais que precisam ser fundidos para gerar vapor, movendo turbinas e produzindo energia.

A Heliogen afirma que o calor gerado pode atender a necessidade de outras atividades, como a manipulação de ferro e cimento – também com menos emissões de CO2. “Para abrigar as 7.5 bilhões de pessoas no planeta, os ingredientes são cimento e aço”, lembra o CEO da empresa, Bill Gross. “E ambos geram uma quantidade enorme de CO2”.

 

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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