A indústria de cimento sozinha responde por 9% das emissões de CO2, mais do que todos os caminhões do mundo juntos. Outro setor – o de edifícios (com iluminação e aquecimento) – é responsável por 6% das emissões. Pesquisadores trabalham, agora, para produzir cimento de baixo carbono: a captura de carbono e sua transformação em produtos úteis, de plástico a combustível de avião, podem tornar mais acessíveis medidas de combate à mudança do clima e se tornar um bom negócio.
LEIA MAIS: Ilhas de calor atormentam metrópoles
LEIA MAIS: Ilhas flutuantes contra o aquecimento global
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosSe a produção de cimento fosse um país, seria o terceiro maior emissor. E ela não vai parar de crescer. Um exemplo são as cidades chinesas de milhões de habitantes sendo construídas em ritmo acelerado na China. Ou o aumento da demanda em economias como da Índia e partes da África. Pode-se pensar em construir moradias com bambu, ou impressas em papelão em 3D. Tudo muito ecológico, mas sem possibilidade de escala significativa. E as cidades, como se sabe, deverão ser cada vez mais verticais, um requisito para a sustentabilidade.
Pesquisadores estimam que cerca de 90 trilhões de dólares serão necessários globalmente até 2030 para construção e renovação de infraestrutura. Em grande parte, porque o mundo se torna cada vez mais urbano.
Cientistas do MIT (Massachusets Institute of Technology) se debruçam sobre maneiras de produzir cimento que poderiam eliminar as emissões e ainda criar outros produtos úteis no processo. Yet-Ming Chiang, professor de ciência e engenharia de materiais da instituição, diz que cerca de um quilo de CO2 é liberado para cada quilo de cimento feito hoje. Isto resulta em cerca de 4 gigatoneladas (ou bilhões de toneladas), O número de edifícios deverá dobrar até 2060, o que é equivalente a construir uma cidade de Nova York a cada 30 dias, diz ele. E o material hoje é barato. Custa apenas 13 centavos de dólar por quilo, mais barato que água engarrafada.
É um desafio reduzir as emissões de carbono do material sem torná-lo muito caro. Chiang e colegas estudam há um ano abordagens alternativas, e chegaram à ideia de usar um processo eletroquímico para substituir o atual, baseado em sistema dependente de combustíveis fósseis.
O cimento Portland, mais usado no mundo, é feito de calcário moído e levado a um forno com areia e argila em alta temperatura, produzida com a queima de carvão. O processo cria CO2 de duas maneiras: da queima do carvão, e dos gases liberados pelo calcário durante o aquecimento. O novo processo eliminaria ou reduziria drasticamente ambas as fontes. Mas tudo isso ainda vai exigir mais trabalho até se chegar a uma escala industrial.
A nova técnica eliminaria o uso de combustíveis fósseis, substituído por eletricidade gerada por fontes renováveis. E produziria o mesmo tipo de cimento, o que é importante para sua aceitação. O dióxido de carbono, na forma de um fluxo puro e concentrado, pode ser facilmente concentrado, em produtos de valor agregado como combustível líquido em lugar da gasolina, ou usado em aplicações até em bebidas carbonadas e gelo seco. No processo existente, o CO2 é altamente contaminado com óxidos de nitrogênio, óxidos sulfúricos e monóxido de carbono.
Há tentativas mais ousadas. Uma empresa de energia solar chamada Heliogen, apoiada por Bill Gates, desenvolveu uma nova tecnologia de fabricação industrial usando a energia do sol. Neste caso, os raios solares captados pelos painéis são direcionados a sais que precisam ser fundidos para gerar vapor, movendo turbinas e produzindo energia.
A Heliogen afirma que o calor gerado pode atender a necessidade de outras atividades, como a manipulação de ferro e cimento – também com menos emissões de CO2. “Para abrigar as 7.5 bilhões de pessoas no planeta, os ingredientes são cimento e aço”, lembra o CEO da empresa, Bill Gross. “E ambos geram uma quantidade enorme de CO2”.