ODS 1
Barqueata por justiça climática reúne mais de 200 embarcações em Belém


Marcha fluvial promovida pela Cúpula dos Povos denuncia crise climática e cobra respostas dos países envolvidos na COP30


O maior evento paralelo à COP30 começou nesta quarta-feira. nas águas da Baía do Guajará, formada pelo encontro da foz dos rios Guamá e Acará. Mais de 200 embarcações, entre canoas, barcos e navios, levando cerca de cinco mil pessoas, participaram de uma barqueata, ato simbólico da abertura da Cúpula dos Povos.
Movimentos populares de 62 países se juntaram à marcha fluvial que levou as vozes da floresta, dos povos das águas, dos campos e das periferias para Belém. Capitaneada pela Cúpula dos Povos, a barqueata foi programada para denunciar, na opinião dos organizadores, as falsas soluções climáticas que estão sendo discutidas na COP30.
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Veja o que já enviamosO Movimento dos Sem Terra (MST) levou 1,3 mil pessoas para a Barquiata e levantaram a bandeira da Reforma Agrária como parte essencial da luta por justiça climática. “Não há justiça climática sem Reforma Agrária”, defendeu Bárbara Loureiro, do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis.
O ato político foi mais um dos ineditismos da COP30. O percurso começou na Universidade Federal do Pará (UFPA), onde está ocorrendo a Cúpula dos Povos, e seguiu margeando o rio Guamá. O ponto final foi a Vila da Barca, área de palafitas, que é, na verdade, um enclave social, pois parte das moradias vive sem nenhum saneamento.
As dezenas de embarcações levaram indígenas de muitas etnias – Kayapo, Munduruku, Kayapó Panará, Borari, Tupinambá, Xipaya, Arapiun, quilombolas, sem terra, ribeirinhos, agricultores, pescadores, extrativistas. Em comum, o lema “a resposta somos nós” – repetido em faixas e cartazes. “Os povos indígenas estão lutando desde o início. Temos que ser respeitados, valorizados, conforme a nossa cultura. Então, a resposta somos nós”, disse o líder indígena Bepmoroi Metuktire, de Mato Grosso, membro da articulação do Instituto Raoni.
Durante a Barqueata da Cúpula dos Povos, o cacique Raoni Metuktire voltou a defender a preservação da Amazônia, criticou projetos de exploração de petróleo e mineração em terras indígenase e afirmou ter tratado do tema recentemente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o francês Emmanuel Macron. “Eu falei com o presidente Lula para ele não procurar petróleo aqui. Vou continuar cobrando. Penso em marcar um novo encontro com ele para falar sobre isso. Temos que ser respeitados”, afirmou Raoni.


Na entrevista antes da barqueata, o cacique frisou que o Brasil tem responsabilidade global e que a Amazônia é essencial para o mundo. Ele pediu para que todos os povos e as nações ajam com consciência e respeito à floresta. “Precisamos cuidar do planeta. Se continuar o desmatamento, nossos filhos e netos vão ter problemas sérios. O nosso território garante a respiração do mundo inteiro”, disse Raoni.
Dentro da barca principal, movimentos sociais e povos tradicionais se apresentaram com músicas, poesias e compartilharam as principais bandeiras da manifestação fluvial. Rosângela Santos Vieira, coordenadora do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, explicou que o objetivo de seu grupo é discutir os impactos da crise climática no seu modo de vida e sua fonte de renda. “Nós, pescadores, estamos vivendo uma crise com a escassez dos peixes por causa da seca e da invasão dos madeireiros em nossos territórios. Os madeireiros têm invadido nossas áreas, desmatando as nascentes e causando secas nos rios, o que mata os peixes e prejudica nossa sobrevivência”, contou Rosângela, que veio do município de Prainha, no oeste do Pará, durante a barqueata.
A marcha fluvial teve como uma de suas marcas a presença massiva de mulheres. De Santarém, também no Oeste do Pará, vieram representantes do Coletivo Muvuca, a Associação de Mulheres da Agroecologia do Tapajós. “Onde vivemos se tornou um polo especialmente da soja. Isso devastou várias comunidades e expulsou famílias inteiras de seus territórios, além de afetar a saúde dos comunitários e de todos que vivem na região”, disse Ana Karina Barbosa, uma das coordenadoras do movimento, à Agência Brasil.
Confira a galeria de fotos da barqueata
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Liana MeloFormada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.














































