ODS 1
Aldeia COP: a capital indígena em Belém


Presença indígena na COP30 é recorde. Espaço multiétnico garante protagonismo indígena na conferência, mas influência nas instâncias de poder ainda é distante


A Aldeia COP virou a capital dos povos indígenas em Belém. A festa de inauguração, na noite de terça-feira (11/11), começou alguns minutos depois de uma tentativa de invasão à Zona Azul, onde se reúnem os negociadores e a entrada só é permitida com credenciamento prévio, com a participação de alguns indígenas.
A ministra do Povos Indígenas, Sônia Guajajara, preferiu dar ênfase ao imediatismo da Aldeia COP, o que permitiu uma presença recorde de delegações indígenas em Belém. “Tudo que foi discutido e apontado até aqui não foi suficiente para reduzir as emissões e diminuir a temperatura média global”, discursou a ministra na abertura do espaço.
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Veja o que já enviamosApesar de uma participação recorde, de três mil indígenas, na COP30 apenas 14% deles têm acesso aos espaços de poder da conferência, onde efetivamente as decisões são tomadas.
Vindos de diferentes partes do país e de diferentes biomas, a Aldeia COP é uma síntese da diversidade cultural e, ao mesmo tempo, um espaço multiétnico. No decorrer do dia de ontem, à medida que as delegações iam chegando, a Aldeia COP ia deixando de ser apenas uma estrutura física, instalada na Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (UFPA)
Pinturas corporais, cocares, acessórios indígenas, trajes tradicionais e bordunas estavam presentes por todos os lados. Formada pela Casa Ancestral, dedicado à medicina tradicional, e salas de debate, todo o espaço exalta a beleza amazônica. O projeto é assinado pelo arquiteto Marcelo Rosembaum.


Vozes de protesto
A primeira COP ninguém esquece. Para Ediene Munduruku, a lembrança que vai ficar é de que a Conferência do Clima é uma zona de exclusão para os povos indígenas. “Esse encontro não é para a gente. É muito fechado”, resumiu sua impressão, contando que as pessoas da COP, especialmente os estrangeiros, “não sabem o que está acontecendo nas aldeias.”
Original do Alto Tapajós, Ediene vive em um território disputado por grandes hidrelétricas: Sinope e Teles Pires. “Estão querendo nossos rios, mas eles não estão à venda”, reclama. O processo de desintrusão ocorrido há cerca de um ano não foi suficiente para expulsar os garimpeiros: “A exploração de ouro continua muito forte.”
Nem tudo foi festa na inauguração da Aldeia COP.O povo Kaxuyana Tunayana veio em peso para a Belém cobrar a homologação do seu território ao presidente Lula. Espalhado por dois estados, Pará e Amazonas, o território já teve a demarcaçâo física aprovada. Falta, na visão dos indigenas, vontade politica do presidente para demarcar o território.


Entre os resultados esperados pelos povos indígenas na maior participação da história das COPs estão o reconhecimento da proteção das florestas como ação fundamental de mitigação da crise do clima, a inclusão da demarcação dos territórios como metas climáticas e a concretização de canais de financiamento direto. “A gente vem com a demanda de arrancar um legado dessa COP, um legado de compromisso dos países, dos líderes com a demarcação e a proteção dos territórios indígenas. Não somente de territórios indígenas, mas de quilombolas, comunidades tradicionais, como uma política efetiva de enfrentamento à emergência climática que o mundo vive hoje. Esse é o principal legado que queremos”, enfatizou o líder indígena Kleber Karipuna.
O coordenador das Organizaçôes Indigenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Toya Manchineri, entregou à ministra Sônia Guajajara o pedido dos indígenas de demarcação. No primeiro dia da COP, a Coiab apresentou um relatório que 29 terras indígenas já reúnem as condições técnicas e jurídicas para serem demarcadas.
Guajajara chegou a Aldeia COP, acompanhada do cacique Raoni, que, mais cedo, na Zona Verde, espaço liberado à sociedade civil, criticara veementemente a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. “Muita gente já ouviu falar da Amazônia, já ouviu falar da maior floresta tropical do mundo, mas não sabe que proteger essa floresta custa vidas e que essa Amazônia também está sendo violada, violentada, destruída com o uso predatório da terra e da natureza. E é esse recado que a gente traz para Belém do Pará, para a COP30, que a gente traz para o mundo: não haverá solução sem a presença indígena”, afirmou a ministra.
Também prestigiaram a abertura da Aldeia COP as ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, da Cultura, Margareth Menezes, ministra dos Povos, das Mulheres, Márcia Lopes, e dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo.
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Liana Melo
Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.








































