ODS 1
A responsabilidade das empresas
Produção e consumo sustentáveis já são indicadores de sobrevivência dos negócios
Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram criados pelas Nações Unidas para orientar e organizar os esforços dos diversos países signatários na implementação de um novo padrão de desenvolvimento mais justo, mais inclusivo, mais consciente dos limites do planeta. Nesse processo, as empresas têm papel tão importante quanto as políticas públicas preconizadas.
As agendas da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP21) e dos ODS são complementares e se reforçam mutuamente, podendo ser integradas e traduzidas para a linguagem dos negócios. Soluções apresentadas em Paris no âmbito da iniciativa de Parcerias para Tecnologias de Baixo Carbono (LCPTi, na sigla em inglês), abrangem 11 ODS e poderão contribuir para viabilizar 65% do conjunto de metas voluntárias apresentadas pelos países (INDCs).
Os ODS estão organizados na forma de 17 objetivos e 169 metas, interligados e de natureza integrada, aplicáveis a todos os países, respeitadas as diferenças culturais e de desenvolvimento, que são muitas vezes abissais entre eles.
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Veja o que já enviamosAo enfatizar questões relacionadas à superação da miséria e ao acesso a um padrão de conforto e bem estar ainda absurdamente distantes da realidade de tantos países e populações, a visão sistêmica do documento reafirma a certeza de que a sustentabilidade se ancora, necessariamente, em três dimensões: econômica, social e ambiental. Não é sustentável qualquer ação que exclua alguma dessas dimensões.
Enquanto populações condenadas à miséria e à privação terminam por transformar-se em fator de pressão sobre recursos naturais, a desigualdade extrema é reafirmada na opção de uma minoria por um padrão de consumo incompatível com as possibilidades do planeta.
Dois exemplos de ações, no entanto, nos fazem acreditar que um novo arcabouço institucional pode articular os três níveis da administração pública, a iniciativa privada, a sociedade civil e a academia, viabilizando que alcancemos, com efetividade, as metas dos ODS. No caso específico da gestão hídrica, temos o “Movimento pela redução das perdas de água na distribuição”, liderado pela Rede Brasileira do Pacto Global e a iniciativa “Cultivando água boa”, da empresa Itaipu Binacional.
O primeiro caso é o de uma articulação que, em jargão acadêmico, podemos chamar de multistakeholder, ou seja, a mobilização de uma rede de interessados com o objetivo de minimizar perdas no transporte e distribuição de água, hoje um problema responsável pelo desperdício de 6,5 bilhões de metros cúbicos. Governos municipais, estaduais e federal, bem como organizações da sociedade civil, cidadãos e empresas empreendem ações articuladas visando alcançar níveis menores de perdas, poupando esse recurso que se vai tornando crescentemente escasso.
“Cultivando água boa” é uma ação que se desenvolve na bacia do Rio Paraná, entre os estados de Mato Grosso do Sul e Paraná, e vem enfrentando com grande sucesso os problemas decorrentes do assoreamento dos afluentes e do próprio Rio Paraná, da eutrofização de partes do rio e da infestação do mexilhão dourado, uma praga com efetivo potencial destrutivo para a fauna e a flora da região. São problemas associados ao desmatamento e ao mau uso do solo. É, assim, da colaboração e articulação das muitas esferas de interesses envolvidas que resulta a consciência de preservação de um patrimônio comum.
Para ajudar o setor privado a entender e adotar os ODS, o CEBDS, o Global Reporting Initiative (GRI) e a Rede Brasileira do Pacto Global elaboraram o Guia dos ODS para as empresas. A publicação explica como colocar a sustentabilidade no centro das estratégias de atuação das corporações, agregando tecnologias que farão com que os negócios se perenizem, cumpram seu papel socioambiental e contribuam para garantir condições inclusivas de acesso aos bens e produtos.
Ao incorporar os ODS nos modelos de negócios, o viés inovador, corolário do espírito empreendedor que move o setor empresarial, estará a serviço da mudança na forma como produzimos e consumimos. Produção e consumo sustentáveis também serão, cada vez mais, vantagens competitivas sem as quais as empresas não sobreviverão.
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Marina Grossi, economista, é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com mais de 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro. Foi negociadora do Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entre 1997 a 2001 e coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003.